30.1.09
O melhor de sempre
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29.1.09
Passeio Público
A crise habita-nos, é difícil escapar-lhe, e até comemorar um outro assunto que mereça uma reflexão demorada e dois ou três parágrafos excitados. Abriam os telejornais ainda ontem (ou anteontem) com uma pulhice, de uma sordidez indescritível; nem sequer abriam com o empate do Benfica, mas com o despedimento de 70.000 (setenta mil!) pessoas num único dia, nos Estados Unidos e na Europa.
Coimbra também não escapa ao turbilhão da crise económica mundial. Empresas como a Ceres ou a Real Cerâmica, vertidas em áreas de actividade que se encontram em franca recessão, limitam-se, por enquanto, a sobreviver parca e miseravelmente, tendo como horizonte possível o negrume da insolvência. Mais estranho, de resto, é o caso da Unidade de Saúde de Coimbra (USC), preparada para falir e cuspir para o desemprego cerca de 100 trabalhadores.
Afinal, e aludo ao próprio site da USC, trata-se de uma unidade de saúde vocacionada para a prestação de cuidados continuados e especializados, destinados a pessoas com doença crónica prolongada e/ou incapacitante, com dependência física e funcional ou em risco de perda de autonomia, com uma forte componente de Medicina Física e de Reabilitação.” Logo, uma mina.
A USC foi a primeira unidade do país dedicada aos cuidados continuados, paliativos e ambulatório. Portugal é um país envelhecido e a saúde vem sempre em primeiro lugar. Não se entende, portanto, a situação hesitante da USC. Percebe-se o desconcerto de António Moreira, o coordenador da União dos Sindicatos de Coimbra: “é talvez caso único haver uma unidade de saúde em situação de insolvência". Uma unidade de saúde!, original e revolucionária, modelar: em queda. Arrasada.
A crise habita-nos, coloniza-nos, e fede (impõe a náusea); um dia como o de ontem, ou anteontem, não é apenas um “dia”, é antes de mais, convém não esquecê-lo, o início de uma escala sinistra de “dias” nevoentos. Nem ao menos se avista uma língua de terra firme. Mas talvez isso nem interesse assim tanto: o que importa não é que haja gente esfomeada; afinal, muita gente ainda tem alguma coisa para comer. O António Lobo Antunes condensou bem o desânimo incomensurável da solidariedade.
Perco de vez a confiança na economia, e até em Hermann Broch, o escritor austríaco: “é talvez necessário descer incessantemente às chamas do renascimento”. Estamos fartos de chamas, de destruição, de recomeços inúteis.
28.1.09
Seu Fabrício
Etiquetas: devaneios, Ilja Repin, Yevgeniy Onegin
27.1.09
Só me faltava mais esta
Etiquetas: devaneios
26.1.09
23.1.09
Estéticas da Morte #quarenta e nove
Etiquetas: Estéticas da morte
22.1.09
Este cão
cuidada, o gorgolejo ínfimo
das mãos. Este cão acintoso
podia ser o Job traído, aliado
omnisciente da divindade
esquecida de si mesma, ou
mesmo o próprio deus orgulhoso,
não fosse uma pulga anafada
que o reprime para além das
lágrimas - desengano tão humano,
por sinal. Ouço nos seus olhos
a suposição da morte
e fendo lentamente o gatilho.
Etiquetas: devaneios
Passeio Público
O facto não é teológico: ao sétimo ano, o “Coimbra em Blues” descansa. Assim mesmo. Depois de seis edições, o Festival que translada a melancolia ferida do Mississípi para a placitude do Mondego não se vai realizar. A decisão é irreversível e já foi confirmada pelo director artístico do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), Francisco Paz. Quanto a este ano, estamos conversados; para o próximo, logo se verá.
Consta que o Festival é “a menina dos olhos” do TAGV. Dois mil e nove será, portanto, um “ano cego” no Teatro Académico. De resto, a “falta de visão” parece não ser descalabro recente. O “Coimbra em Blues” tem “projecção nacional e internacional” e não se realiza, de acordo com Francisco Paz, por falta de apoio da Direcção-Regional de Cultura do Centro (DRCC). Contudo, o auxílio da DRCC foi assumido, desde o início, como “temporário” e “provisional”; o que sugere, aliás, a inexistência de uma visão estratégica a longo prazo para o Festival.
Qualquer observador imparcial percebe que a consolidação de parcerias institucionais seria a pendência a resolver desde o princípio – uma crítica que se adivinha nas declarações do director regional de Cultura do Centro, António Pedro Pita, que admite a existência de “falhas” em todo o processo.
Já se sabe: é o dinheiro, e não uma qualquer lei da Física, que faz mover a terra. Acresça-se ao vil metal alguma vontade - e tudo aparecerá feito (ou: talvez não). Infelizmente, a vontade não desvia montanhas e a falta dela ainda menos. Paulo Furtado, o director artístico do “Coimbra em Blues” afirma-o, em letra de lei: a interrupção do Festival deve-se, não à falta de apoios, mas à falta de vontade da direcção do TAGV. Eu gosto de acreditar em alguém que toca 3 ou 4 instrumentos em simultâneo – e que conhece, como ninguém, os furtivos meandros do Festival.
Não há esplendor que perdure nesta cidade. Recordo os “Encontros de Fotografia”, mortos e enterrados, e todo o filistinismo da cidade. Regressamos aos mesmos caminhos e voltamos a errá-los.
21.1.09
Carlitos Darwin: o darwinista relutante #2
Ciclo de Conferências DARWIN: No Caminho da Evolução
21/01/2009, 18h00, Auditório 2
Eugénia Cunha - Universidade de Coimbra
Etiquetas: antropologia, Charles Darwin, darwinismo, Eugénia Cunha
20.1.09
Um dia para a história
E ainda mais honra lhes seja devida
Etiquetas: Barack Obama, democracia, EUA, Kavafis
19.1.09
A.
Etiquetas: devaneios, Edward Hopper, pintura
Lenços de papel
gigante, de palavras mortas
e desejos caídos nessa derradeira
noite. Há ali uma
espécie de suicídio, e aquelas
homílias fúnebres (que apreendem
o porvir inexistente) são como
o cutelo gritante no grito
sanguíneo do corpo.
Na sedução melancólica
das páginas, os dedos contam
a Babel metódica dos beijos
e os nossos olhos levam ao fim
o desejo.
Etiquetas: devaneios
17.1.09
Num 'guento 'tar tanto tempo longe d' ti
Etiquetas: citações, literatura, Nuno Júdice, poesia
16.1.09
Navio sem fantasmas
Etiquetas: devaneios
15.1.09
Passeio Público
No momento em que Vítor Constâncio anunciou que a economia do país se encontra oficialmente em recessão, os portugueses começaram a preocupar-se, também oficialmente, com a crise. Afinal, ainda no passado mês de Dezembro, as vendas da BMW tocaram luas nunca antes visitadas pelos humanos deste magnífico país. A crise parece começar só agora, depois da confirmação médico-legal do presidente do Banco de Portugal – de resto, a pulsão escapista do novo-riquismo luso talvez nem admita que se mencione a “crise”, e muito menos que alguém a tome como um facto consumado.
(Ou muito me engano, ou Portugal passou directamente do neolítico para a pós-modernidade, da enxada forçada para o telemóvel diletante.)
De resto, a população encontra-se atolada numa crise que não deve nada a decretos oficiais nem a consumismos fátuos. Para muitas famílias, a economia doméstica atingiu o limiar da desagregação, e o horizonte parece não desanuviar. As contas familiares preferem a adição à subtracção – e, para além dos gastos supérfluos, existem as facturas inescapáveis, como as da luz e da água.
Um estudante da Universidade de Coimbra (UC), por exemplo, gasta mais de 5.000 euros por ano (cerca de 600 euros/mês), de acordo com um estudo solicitado pela Associação Académica (AAC). Não é difícil fazer as contas e concluir, como o presidente da AAC, André Oliveira, que ser estudante “não é para todos”. Bastar-nos-á considerar os salários médios dos portugueses para depreendermos que muitas famílias não têm capacidade para ter um ou mais filhos a estudar na universidade.
A pesquisa recentemente divulgada revela que o “estudante-tipo” da UC não é de Coimbra – sendo “obrigado”, portanto, a arrendar um quarto ou um apartamento. Os gastos com a habitação e as propinas são, de resto, os que mais exageram o débito estudantil. Mas há outras despesas, nada despiciendas: a alimentação, os livros e fotocópias, os transportes… Um buraco sem fundo, e dias pesados.
Este estudo mostra, também, que a maioria dos estudantes usa viatura própria na deslocação para as aulas. Expressão enevoada. Isto leva-me de volta aos recordes da BMW e à alma tacanha deste país.
14.1.09
Lucas 23:43
Etiquetas: Chesterton, citações, literatura
13.1.09
Carlitos Darwin: o darwinista relutante #1
Etiquetas: antropologia, Biologia, Charles Darwin, Ciência, darwinismo, Luís Quintais
100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #54
Parabéns ao «nosso menino»!
(Isto é lindo e é verdade, escrito pelo Fernando, aqui: Pêsames, sim. Mas pêsames porque neste país não deixa de haver quem se ache superior porque é culto e não tem de dar pontapés na bola.Quero lá saber das gajas que ele colecciona (é novo, tem as hormonas aos pulos, quer foder, deixá-lo...) Quero lá saber dos diamantes e das casas (nunca teve nada, agora tem tudo, que aproveite...) E a família parola e sem cultura foi quem o ajudou a ultrapassar as dificuldades e os problemas que teve.Estou neste momento a ver a repetição dos Prós e Contras na RTPN e a história que o Laurentino Dias contou sobre a visita que fez com o Ronaldo a Timor, deixou-me sem palavras. Devia ser do conhecimento público para calar aqueles que só conseguem ver boçalidade no rapaz e mais nada. Triste país de merda, de invejosos, arrogantes e cagões, que se julgam superiores aos que não tiveram a sorte de nascer em berço dourado com direito a educação e a uma vida sem sobressaltos.)
Etiquetas: Cristiano Ronaldo, prefiro o Sporting a qualquer ideologia política, Sporting
12.1.09
Estéticas da Morte #quarenta e oito
Etiquetas: Estéticas da morte
9.1.09
Um país
Etiquetas: devaneios
8.1.09
Passeio Público
O ano ainda mal começou e já exorbita futuros traçados a negro. Quem tem a certeza de alguma coisa neste baldio de choro, sabe que o ano de 2009 vai ser péssimo, o ano da desgraça e não da graça. Nada de novo, portanto. O sol que nos alumia ainda é o mesmo – e não se prevê que isso mude de um dia para o outro.
É extraordinário, de resto, tentar atribuir uma causa unívoca ao mundo infindo da crise que se avizinha, ou melhor, que há muitos anos nos flagela, insone mas discreta. Tal aspiração, suponho, não é possível ou mesmo desejável: constitui, de resto, apenas uma mistificação do que acontece realmente sob este gigantesco lamaçal de mentiras. A prerrogativa das culpas acha-se num universo de potencialidades desmesuradas. O resto é macacada, ou uma hábil manobra de diversão.
Esquecidas as culpas, sobra o que nos dói no corpo. E a mágoa é (e será) muita. A pior das dores (do inventário possível, isentamos a morte, a doença e outras proezas quejandas, que nada devem à crise económica) é, sem dúvida, o desemprego.
É coisa vista e bem conhecida no distrito de Coimbra, por exemplo. Eis os números arredondados (e actualizados) de um sorumbático cenário: 16.100 trabalhadores desempregados, 915 com salários em atraso, 1.230 com o emprego ameaçado. Este ano mal nascido, já se vê, promete paisagens ainda mais sombrias. A Ceres, a EMEF, a TEX e a Real Cerâmica enformam, nesta versão do Juízo Final, os pecadores com expectativas mesquinhas de salvação.
Isto dito, sobram as ideias toscas para fazer frente às ameaças mais prementes e opulentas: redução dos turnos de trabalho, não renovação dos contratos e “downsizing”. Pérolas de criatividade do argumentário economicista. Este ano, Coimbra tem tudo a perder: sem um projecto estrutural de emprego, sem uma política autárquica que a defenda, sem um vislumbre de alívio ou de esperança.
Lúgubres são as pinceladas da crise e, como num desolado tríptico de Bosch, a impotência e o pesadelo compõem o motivo apocalíptico. É ainda possível forçar um sorriso mas isso, convenhamos, é sempre um acto desesperado – e o desespero é apenas um imenso vazio. E, também, um colossal patife, um sombrio nada. Uma promessa nunca cumprida, reparada em aflições e lágrimas.
6.1.09
Estéticas da Morte #quarenta e sete
Etiquetas: Estéticas da morte
5.1.09
Estéticas da Morte #quarenta e seis
Etiquetas: Estéticas da morte
Em 2008
Etiquetas: literatura, livros
4.1.09
Passeio Público
Ainda é cedo. Os balanços de 2008, a serem feitos e inscritos em letra redonda, deverão sê-lo apenas no final do próximo ano. Ou: deita-se já uma pedra sobre o assunto. Afogamos o ano, e as suas mágoas, numa longa cauda de imarcescíveis sorrisos.
Afinal, o que muda durante tão pouco tempo? Nada – ou ainda menos que isso. O desalento alinha-se num anel de fogo, as suas (terríveis) consequências revelam uma sombra impossível na escuridão.
É cedo, ainda. As coisas não tiveram tempo de se modificar; as palavras são, portanto, desnecessárias. Deixemos que o naufrágio seja mais convincente. Nesse momento, as locuções da náusea far-se-ão ouvir, intempestivas e rancorosas.
Caminho por frases envelhecidas, como se fossem as ruas da cidade, e sinto que o fim do ano de 2008 é apenas uma data para cumprir calendário. Coimbra detém-se nas horas, igual ao que foi, revoluteando na hesitação da paralisia.
Tudo o que foi dito antes sobre a cidade pode voltar a ser escrito – nada mudou, os problemas continuam os mesmos. O orçamento para a Cultura, ansioso por seguir as proclividades da moda, adelgaça-se um pouco mais. A cidade universitária (do conhecimento, do saber e da cultura) é, cada vez mais, uma ilusão de papel, enjeitada pelo filistinismo do executivo camarário.
O retrato do ano de 2008 não é bonito. Mas, pelo menos em Coimbra, não é muito diferente da imagem que componho, a posteriori, dos anos de 2006 ou de 2007. É possível fazer melhor? Eu julgo que sim, não é complicado. Difícil mesmo é fazer pior do que se tem feito.
Outro corpo nosso
Etiquetas: devaneios