Passeio Público
(For why hide my feelings?*)
O que é Coimbra? O que é a Universidade? O que é uma coisa sem a outra? Perguntas embaraçosas, por certo, mas que não estão para além de todas as suposições. É difícil pensar Coimbra sem a Universidade – e o reverso é igualmente exacto. Parece-me, portanto, bastante feliz a formulação de Seabra Santos (a poucos dias de abandonar a reitoria) quando afirma que “a Universidade e a cidade são complementares e indissociáveis”. A frase surgiu na sequência da XIII Semana Cultural da Universidade de Coimbra, que irá decorrer entre os dias 1 e 6 de Março e subsume esse conceito, absolutamente fundamental e axiomático, que define uma cidade em relação a uma instituição, e vice-versa.
Em qualquer ponto da cidade é normal sentir-se a relação jurídica com a Universidade – como se cada rua respirasse através de um pulmão instalado na Alta. Na verdade (e por muito que se diga em contrário), esta relação de sete séculos carrega mais amor que ódio, apesar das esporádicas e expectáveis desavenças conubiais. Coimbra e a Universidade ganham muito através da sua ligação, muito mais que aquilo que perdem, já perderam ou virão a perder. A Semana Cultural é um símbolo dessa união de natureza consubstancial, um momento em que a partilha entre cidade e Universidade é mais intensa, mais visível e relevante.
Durante uma semana irá celebrar-se, não a certeza de uma relação entediada, mas o fulgor da mútua surpresa – é possível que se celebrem inconscientemente sentimentos fortes de pertença e comunhão. Lembram-se do que disse Dido?* Talvez não, ela disse tanta coisa sem ademanes de especial eloquência, aflorando assuntos irrelevantes e, diria mesmo, aborrecidos como a amargura da cigarra no Verão derradeiro. No entanto, a recordação de algumas das palavras de Dido (ou de Virgílio) é necessária e importante. Coimbra precisa de revelar o que sente pela Universidade. A Universidade precisa de revelar o que sente por Coimbra.
(25/02 no Jornal de Notícias)
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