Estéticas da morte #vinte e um
Entrou na sala de aula alquebrado pelo frio metálico da Uzi [FN herstal, fabrico israelita] e da G3 [Heckler & Koch, fabrico alemão] e de algumas granadas defensivas. O seu olhar era o de um louco, quem o visse naquele momento ia entender o que digo. Um ódio indefinido – e, contudo, premente – comia-lhe os dedos das mãos, quase que juro que eram as mesmas mãos dispostas a matar pela bala e estilhaço todos os colegas, professores, funcionários [auxiliares de acção educativa], e mais quem viesse [se calhar, alguns polícias]. Entrou na sala de aula, já o disse, mas acabou por não matar ninguém [só a professora Graça que teve logo ali um ataque cardíaco: corações fracos, é o que é]. No quadro negro apaziguou-o uma equação de Euler, escrita num floreado novecentista pela Carlinha, colega de turma e ex-namorada, que o trocara há duas semanas pelo Zé Carlos do 12ºB.
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