Seu Fabrício
Espero que te vás embora, não gosto de te ver a lavar roupa e a minha intimidade; parece pouco mas, nas tuas mãos, umas simples cuecas, ou mesmo uma camisa esborratada na gola, desvelam os meus segredos, violam o meu império pudente - e de resto a minha vida resume-se ao oculto e ao embaraço privado. Não tenho a coragem de te olhar de frente (ontem vi o Onegin a olhar de frente o Lensky morto) enquanto franqueias livremente esses muros concentracionários que sonegam tanto os meus encantos como as minhas fragilidades. É um desvio, apenas, esta espera - mas está frio, aqui fora. Não devia ter deixado no cesto, para lavares, o meu aconselhado casaco azul de lã.
Etiquetas: devaneios, Ilja Repin, Yevgeniy Onegin
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