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22.1.09

Passeio Público

(Falta de visão)

O facto não é teológico: ao sétimo ano, o “Coimbra em Blues” descansa. Assim mesmo. Depois de seis edições, o Festival que translada a melancolia ferida do Mississípi para a placitude do Mondego não se vai realizar. A decisão é irreversível e já foi confirmada pelo director artístico do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), Francisco Paz. Quanto a este ano, estamos conversados; para o próximo, logo se verá.

Consta que o Festival é “a menina dos olhos” do TAGV. Dois mil e nove será, portanto, um “ano cego” no Teatro Académico. De resto, a “falta de visão” parece não ser descalabro recente. O “Coimbra em Blues” tem “projecção nacional e internacional” e não se realiza, de acordo com Francisco Paz, por falta de apoio da Direcção-Regional de Cultura do Centro (DRCC). Contudo, o auxílio da DRCC foi assumido, desde o início, como “temporário” e “provisional”; o que sugere, aliás, a inexistência de uma visão estratégica a longo prazo para o Festival.

Qualquer observador imparcial percebe que a consolidação de parcerias institucionais seria a pendência a resolver desde o princípio – uma crítica que se adivinha nas declarações do director regional de Cultura do Centro, António Pedro Pita, que admite a existência de “falhas” em todo o processo.

Já se sabe: é o dinheiro, e não uma qualquer lei da Física, que faz mover a terra. Acresça-se ao vil metal alguma vontade - e tudo aparecerá feito (ou: talvez não). Infelizmente, a vontade não desvia montanhas e a falta dela ainda menos. Paulo Furtado, o director artístico do “Coimbra em Blues” afirma-o, em letra de lei: a interrupção do Festival deve-se, não à falta de apoios, mas à falta de vontade da direcção do TAGV. Eu gosto de acreditar em alguém que toca 3 ou 4 instrumentos em simultâneo – e que conhece, como ninguém, os furtivos meandros do Festival.

Não há esplendor que perdure nesta cidade. Recordo os “Encontros de Fotografia”, mortos e enterrados, e todo o filistinismo da cidade. Regressamos aos mesmos caminhos e voltamos a errá-los.
(Ontem, 21/01, no Jornal de Notícias)

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