Estéticas da morte #trinta e oito
Apetece-me matá-lo, pensou Jordão, olhando com desdém a caçadeira abandonada na cadeira de baloiço. Escurecia. O verão ficava para trás (para o ano há mais mas só se eu ainda cá estiver): as folhas dos plátanos ensaiavam já a coreografia do harakiri que o chão derradeiro deseja para elas. Apetece-me matá-lo, pensou Jordão (obcecado?), pegando com desdém a caçadeira fria. A cadeira de baloiço rangeu furiosamente. As folhas dos plátanos apressaram o seu destino. Os caminhos abriram-se na certeza dos passos de Jordão. O dia morrera já. Apetece-me matá-lo, pensou Jordão (sem dúvida: obcecado), paz à sua alma que não há-de viver muito mais tempo. Um sorriso (ou um pressentimento) chegou-lhe de longe. Apontou a caçadeira. Uma arma não desilude os que nada tremem.
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