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30.9.08

Freud


(Jean-Baptiste Oudry, 1753, Natureza-morta com pato branco, Colecção particular da Marquesa de Cholmondeley [roubado])

Ceci est un canard. Às vezes um pato é apenas um pato, mesmo que esteja morto e deposto a meias sobre uma parede e uma mesa em posição pouco confortável. Nesta natureza-morta, Jean-Baptiste Oudry trabalha honestamente a realidade através de uma descrição multifocal da cor branca. A paleta de brancos do pato morto, da toalha de damasco, da vela num castiçal de prata, da taça de porcelana é traduzida de forma icástica e sem artifícios; a sugestão alegórica é negada pela exploração magistral da aparente (contudo, inexistente) monocromia da cor branca. Toda a artificialidade se afunda sem deixar rasto quando o pintor decide camuflar a sua «visão pessoal», o seu «comentário crítico» ou o seu «libertarianismo estético». A realidade (ou melhor, a "artificialidade" da composição desconstruída pela ironia de Oudry) chega intocada aos olhos do espectador.

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Acesso ao casamento civil

1ª Flash Mob pelo acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, quinta, dia 2, em frente à Brasileira, às 19h30. Leva folha branca e caneta para escreveres "Acesso ao Casamento Civil". Deves dispersar no minuto seguinte!
2ª Flash Mob pelo acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, quarta, dia 8, na praça do Rossio, às 19h30. Leva folha branca e caneta para escreveres "Acesso ao Casamento Civil". Deves dispersar no minuto seguinte!
(Mais informações aqui)

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Several scandalous love affairs

28.9.08

Estéticas da Morte #trinta e nove

O amor deu para o torto, ou melhor, para a escuridão geométrica da cova. Dois amantes (nem mais, nem menos) jovens e bonitos (alguém dizia), ricos (as tragédias não se compadecem com a pobreza possidónia), de boas famílias (ver parênteses anterior), gozaram pouco as delícias deste vale de lágrimas e entregaram-se cedo demais ao abraço do criador.
Quais as razões da desdita? Não sei bem, mas pelo menos duas: erro meu e Julieta.

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Sunday afternoon

Em Inglaterra é aos filhos dos ricos que se vão buscar tantos dos vossos esplêndidos funcionários públicos, dos vossos oficiais nas colónias, dos vossos administradores, e também dos vossos romancistas e poetas. Mas estes - só pensam em automóveis, em roupas novas e em divertir-se. Aqui em Portugal temos recrutamento, como vocês têm em Inglaterra. Mas estes brilhantes rapazes nunca entrarão para a tropa; os papás deles tratarão disso, subornarão qualquer médico da moda para lhes arranjar um certificado de não aptos. Imagine se se tentasse fazer uma coisa destas em Inglaterra. Até a vossa rainha entrou para o exército feminino. Imaginem o sarilho que seria se algum inglês rico tentasse evitar que o filho fosse recrutado. Não, meu amigo. Os homens ricos de um país, quando têm sentido de responsabilidade podem ser a salvação de toda a gente. Sem essa responsabilidade, só trazem vergonha e ruína. Tome um cigarro.
(Kingsley Amis, Gosto disto aqui, pág. 93)

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26.9.08

Italian Music #five

The Last Shadow Puppets - Standing Next to Me
(And your love is standing next to me)

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25.9.08

Passeio Público

(Anatomia de um certo crime)

Não sei o teu nome, penso. Empurro-te para esta fossa, cavada à pressa com uma pá embotada por mãos prévias e inocentes. Deslasso os teus cabelos com um harmonioso remate «à esquerda» (lembrei-me do Futre), amoldo as tuas carnes flácidas e supérfluas (vejo bem que criavas barriga) às paredes térreas da derradeira cama. É estranho, não sei o teu nome. Não sei sequer porque te matei. Não foi, de certeza, pelos cinco euros que transfiro da tua carteira para a minha boca. É triste (acho eu): a tua morte não valeu mais do que 3 ou 4 litros de gasolina.

Isto é ficção. O momento cosmogónico, arquetípico, da violência pode subsumir-se a isso: a uma anatomia de um crime em forma de desabafo ficcional, a uma deriva estética que não acrescenta nada à difícil arte de iludir, roubar e matar.

Os assaltantes surgem pelas quatro da madrugada. O carro é um Honda (Civic) de cor negra. Roubado, algumas horas antes, nos arrabaldes de Coimbra. Encapuzados, dispensados da identificação, tentam assaltar as bombas de gasolina situadas no Vale das Flores. Perto do Coimbra Shopping. Os assaltantes surgem armados – como era costume no Texas de John Ford. Puro vintage. O funcionário foge, é essa a sua obrigação: salvar a pele, em primeiro lugar. Acautelar a vida. Admitem-se disparos. Um tiro, apenas? Não. Dois. A polícia chega, enfim. O negrume do alcatrão oculta o rasto do Civic. A noite amolece numa quietude melancólica.

Isto não é ficção. Temos medo do que lemos. O mundo encarrega-se de apascentar os tratados de criminalidade com (nada menos que) a realidade – e a violência, é certo, é parte constante do real.

Chesterton avisara-nos já que a realidade é mais estranha que a ficção. Um olhar de soslaio sobre os jornais diários valida esta ideia, mesmo que o enfado da leitura embote os nossos sentidos sobressaltados, o crime reproduz-se diariamente nas laudas dos periódicos e nos rodapés dos telejornais. Se Balzac criou o século XIX, os jornais e as têvês criam as ondas de crime, os arrastões e o carjacking, manipulam alegremente o perfil da violência no século XXI.

Entretanto, nada acontece. As estatísticas não mentem. Manipulam, à sua maneira, a verdade. Afinal, o que é a realidade?

Não é, com certeza, o ramalhete de horrores que desfila nas televisões. Não se define (o rigor das nossas intenções é absolutamente necessário) na mansidão reiterada das estatísticas oficiais. A realidade subtrai-se a toda as possibilidades de figuração exacta. O mundo é uma coisa, o que dele se mostra é outra. A perspectiva foi inventada pelos pintores flamengos para isso mesmo, para mostrar que se pode ver a mesma coisa de maneiras radicalmente diferentes.
(Ontem, 24/09, no Jornal de Notícias)

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24.9.08

G.K. Chesterton


(...) mas o povo apuliense é de gema. É de raiz. (...) Os pinheiros têm pinhas para dar a todo o pobo que queira deborar, cumó esquilo que debóra a pinha verde. (...) Sabe o que é aqueles cães puitebull? (...) É isto que acuntece perante a actebidade de um jogo, num é? (...) Perjudicado como o Apúlia tem sido perjudicado honestamente e confrontamente (?). Forte e feio! Para quê? (...) Ó filho, quando tiveres que falar mal, fala. Estás a aliviar o teu espírito pessoalmente. (...) Camóstre a bergonha do expulsamento do guarda-redes do Apúlia. (...) Ele veio para aqui de pata de cavalo, esse chorrilho desse árbito.

Há homens que não são mais do que isso: homens. Outros dão um pouco mais de si ao mundo, são como as cadelas que não se contentam com o seu estado natural de cadelas e, sem ligar às gargalhadas dos donos, adoptam um gatinho, alimentam-no e (possivelmente, que isto hoje em dia já não há certezas de nada) amam-no com a um filho. Isto dito, há homens que merecem as palavras de Chesterton. O Visconde da Apúlia é dessa gema. É o grande vencedor do prestigiado Prémio Capitão Moura (Liga dos Últimos). É (desculpa Bernardo) o maior.

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O que é para nós um crime

É isto e pouco mais. A tremura do indizível. Um rapaz decide matar quem tem o infortúnio de lhe passar à frente. Gostava de ler ou ouvir que o mesmo rapaz decidira beijar quem tivesse a má sorte de lhe passar à frente. Não é nunca assim. É mais fácil matar um desconhecido que beijá-lo.
Não há segurança senão nos teus braços, na preguiça vermelha do teu sofá. A morte é algo de que se ouve falar com a desatenção própria de um escroque. É um estado ainda distante e desconhecido. Comecei a existir quando te abracei de longe, entre as luzes e os gritos de um centenar de pessoas (parece que foi ontem, parece que foi no tempo em que os animais falavam).
Um dia hei-de entrar numa escola (numa repartição de finanças, num asilo para velhos, hei-de entrar num sítio qualquer deste nosso Portugal), hei-de beijar dez desconhecidos e rematar o crime com um beijo na minha própria cabeça.

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Outono #três

Um dia hei-de ajoelhar a teus pés e dizer que os dedos são a mais interesseira criação de Deus. Permite-me que volte um pouco atrás. Um dia hei-de ajoelhar a teus pés, um dia hei-de beijar os teus pés, um dia hei-de despedir-me deles. A queda de um homem reforça a convicção do Outono.

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I don't like party girls

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Os restos que a vida deixa nas suas margens

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22.9.08

Outono #dois


(Joachim von Sandrart, circa 1644, Personificação de Setembro, The Getty Museum, Los Angeles)

Há coisas que vêm por bem: a vertigem mundana das primeiras chuvas, das folhas que desistem sem luta (celebremos o seu destino inexorável, um inconsolado abraço húmido de chão). A cor dos dias cumpre-se nas poucas horas do meio-dia. No resto do tempo vinga o tom da perda. Porém, os olhos dos cães teimam em vigiar o que não é suposto ser vigiado. A luz carcomida dos frutos separa as manhãs das manhãs, o trigo do trigo e o homem do homem.

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Outono

Das árvores, caíram as folhas, e voaram os melros para outra distância.
(Amadeu Baptista, Outros domínios, pág. 57)

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18.9.08

«It's over»: a (not so) short list

O dinheiro acabou, a canção acabou, o dia acabou, o jogo de futebol acabou, o passeio acabou, a comida acabou, o amor acabou, a gargalhada acabou, a 7up acabou (em casa, no Pingo Doce ainda há), o choro acabou, o gás acabou, o sonho acabou, a constipação acabou, o livro acabou, o vinho branco acabou, a estrada acabou, a missa acabou, o filme acabou, o casamento acabou, o tempo acabou, o crédito à habitação acabou, a novela das 9 acabou, o grunge acabou, o meu filho (finalmente) acabou, o caso acabou, a distribuição de Bíblias de porta em porta acabou, a guerra acabou, a paz acabou, a tesão acabou, a dor acabou, o medo acabou, a fruta acabou, a manhã acabou, a t*
*(N. do T. [Provavelmente] a tinta acabou)

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Passeio Público

(Vocês sabem do que é que eu estou a falar)

Existe um desastroso conúbio entre o poder autárquico, as grandes empresas de construção civil e o futebol – refiro-me, obviamente, a uma fracção (não desprezível, porém) destes “sustentáculos” da sociedade e não a todos os seus agentes. Os propícios enleios e amplexos entre os três universos (aparentemente tão distantes) são conhecidos, falados e até criticados.

Mas, porque nem tudo neste mundo é perfeito, prospera ainda o impudico salsifré que confunde os gestos das câmaras municipais com as aspirações das construtoras e dos clubes de futebol e até a expectativa dourada dos apitos das investigações policiais empalidece a cada dia que o calendário suprime.

Vem esta prédica a propósito de quê? Na última reunião quinzenal da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), o vereador Horácio Pina Prata demonstrou a sua inquietação relativamente a uma série de contradições e incoerências relativas ao urbanismo da cidade, tendo deduzido a existência de especulação imobiliária com justificações pouco transparentes. O presidente da Câmara, Carlos Encarnação, foi directamente visado pelas críticas de Pina Prata.

Na sequência desta denúncia, a Polícia Judiciária decidiu auscultar o vereador, ao abrigo de uma inquirição preventiva, com o intuito de coligir possíveis indícios da prática de crime. Como é evidente, nem todos sabem do que fala o vereador. Para um qualquer habitante da cidade, assim como para as autoridades policiais, a celebre frase de Octávio Machado não passa de um estribilho vazio e oco. As acusações, tão graves quanto surpreendentes, não podem deixar de ser substanciadas.

O anterior número dois do executivo excitou suspeitas dolorosas e adiantou um culpado. Agora, Pina Prata não pode voltar atrás, não pode guardar as respostas possíveis para um dia mais tarde. Nunca é o silêncio que se faz ouvir. O vereador tem que provar o que diz – senão, perde-se irremediavelmente na capa sombria da hipocrisia. E, sobretudo, arruína de forma extemporânea o íntimo desígnio de se candidatar à Câmara Municipal nas eleições autárquicas do próximo ano.
(Ontem, 17/09, no Jornal de Notícias)

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16.9.08

700 anões (+14)


(Rua Padre António Vieira, Coimbra)

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15.9.08

I'll be there


(Tiago Guillul aka Tiago Cavaco, hoje às 18:30h, na Fnac do Chiado)

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Banco

Ainda bem que os dias são cada vez mais pequenos.

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11.9.08

Passeio Público

(O passado e o futuro)

Vencem-se os anos, silenciosos; não damos sequer por eles, ao contrário dos foguetes que rebentam na noite definitiva, aquela em que o ano velho renuncia ao seu tempo e um novo ano toma o seu lugar. Não obstante, o tempo deixa nas suas margens marcas imperecíveis. Os estigmas da sua passagem melancólica, e inflexível, amontoam-se descuidadamente numa espécie de palimpsesto, enredando histórias múltiplas, desconexas, que vertem no presente uma parte da experiência do passado.

Coimbra é uma cidade antiga, polida pelos séculos, ataviada de costumes e pedras que denunciam a sua anciania, a sua importância, o seu destino de sobrevivência e continuidade. Coimbra usufrui tanto da robustez atarracada da Sé Velha como da elegância longilínea da Torre da Universidade; emociona-se, à vez, com os acordes da “Samaritana” e com o passo cadenciado do andor da Rainha Santa; diverte-se, num continuum ontogénico, no Portugal dos Pequenitos e no Queimódromo.

No entanto, alguns conimbricences conhecem apenas uma passagem superficial da história da sua cidade (se é que sabem alguma coisa relevante para além do facto de Coimbra acolher a mais velha Universidade do país e uma das mais antigas do mundo). O passado impõe-se aos que vivem e visitam a cidade, por força dos seus despojos de pedra, mas apenas aqueles que se excitam na demanda de algo mais que as fachadas dos monumentos conquistam os recatos e os segredos de uma tão vasta história.

Resgatado à voracidade do Mondego pela empenhada acção de um projecto de valorização que teve o seu início durante a década de 1990, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha prepara Setembro (e o seu devir) com a inauguração de um centro interpretativo. O passado, inscrito na imponência do monumento para que possa ser “visto”, poderá também ser contextualizado e compreendido.

O Mosteiro encontra-se intimamente ligado à Rainha Santa Isabel. Foi fundado em 1286 por Dona Mor Dias (e não por Isabel de Aragão, como é comum pensar-se), piedosa e rica senhora da cidade. Ciclicamente oprimido pelas águas do rio Mondego foi abandonado definitivamente em 1677. O piso intermédio, acrescentado em 1612-15 para obstar a subida das águas, enforma uma indulgente metáfora da passagem do tempo numa cidade revestida por tantas camadas de história.
(Ontem, 10/09, no Jornal de Notícias)

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10.9.08

Estéticas da morte #trinta e oito

Apetece-me matá-lo, pensou Jordão, olhando com desdém a caçadeira abandonada na cadeira de baloiço. Escurecia. O verão ficava para trás (para o ano há mais mas só se eu ainda cá estiver): as folhas dos plátanos ensaiavam já a coreografia do harakiri que o chão derradeiro deseja para elas. Apetece-me matá-lo, pensou Jordão (obcecado?), pegando com desdém a caçadeira fria. A cadeira de baloiço rangeu furiosamente. As folhas dos plátanos apressaram o seu destino. Os caminhos abriram-se na certeza dos passos de Jordão. O dia morrera já. Apetece-me matá-lo, pensou Jordão (sem dúvida: obcecado), paz à sua alma que não há-de viver muito mais tempo. Um sorriso (ou um pressentimento) chegou-lhe de longe. Apontou a caçadeira. Uma arma não desilude os que nada tremem.

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8.9.08

Lembro-me sempre

Nous sommes aux mois d'amour.
(Arthur Rimbaud)

Porque é de ti o pensamento gasto nas folhas que iniciam a queda em Setembro, nos automóveis que cruzam insensíveis esta janela que me separa do mundo, no som furioso das campainhas que se avizinham nos corredores estreitos do prédio. Porque é de ti o meu estremecimento quando alguém grita no lá fora, o fogo que se revela nos passos incertos de uma velha curvada sobre a vida. Tu és a chave dessa porta entreaberta, o pretexto e o contexto para tudo que pensa dentro de mim.

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7.9.08

Domingo

A saída é circunstancial. Tudo o resto não.

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5.9.08

This eternal thought

You had such a vision of the street
as the street hardly understands.
(Thomas Stearns Eliot)

É uma visão vulgar porque diária e repetida - e só nesse sentido é trivial e comum. Um corpo cortês na manhã semi-obscurecida, latejante de sonos incumpridos. Um corpo único, insinuante, decalcado das belas deusas de Hesíodo, que cumpre os rituais matinais sabendo-se observado, amado entre pálpebras ensonadas de longas noites de sussuros. Vitorioso, fulgurando na mútua compreensão de quem sabe que um corpo só existe através de outro que o deseja.

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La nausée #deux

Und rasch, vergangen verstehend rasch.
Não fiquei triste. Talvez a culpa seja minha e dos incontáveis absurdos que desmaiam, dia após dia, na minha pele. As pessoas à minha volta também jogam ao ar os sentimentos e, infelizmente para elas, nem sempre as coisas lhes correm bem. É demasiado complicado. Não consigo explicar. Chove (neste texto, porque assim o desejo) - lá fora, no entanto, parece-me que o sol ainda brilha e que o alcatrão se espraia seco por inamovíveis quilómetros. Espero por mais um sinal, por um estigma incomodado com o incómodo que me provoca, mas sei que em vão me descanso nessa espera. A esperança é a última a descer à terra - é o que dizem e eu acredito na tradição das palavras que se repetem acriticamente. Faço por merecer a dívida dessa condição.

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La nausée

Aparece a indicação de que tenho a caixa de mensagens cheia. Apago algumas recentes e depois algumas antigas. E fico enojado com o que leio. Tenho o telemóvel cheio de mentiras. Um incomportável peso de mentiras escandalosas e reiteradas.

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4.9.08

Passeio Público

(Um estádio em dívida)

A Académica (AAC/OAF) inaugurou a época caseira com uma justa (e tangencial) vitória sobre o Rio Ave. Sobre o “futebol” da Briosa não me alongarei mais do que isto. Os comentadores desportivos que esmaguem com propriedade intelectual o verde da relva e a bola do fim-de-semana. Para além da táctica e da técnica, das claques e dos dirigentes, dos jogadores e dos jogos resta-me discutir o estádio: Finibanco ou Cidade de Coimbra. Como queiram. Não sei bem como o hei-de designar (nem a quem recorrer para desfeitear a dúvida).

O caso é conhecido: da dolosa euforia do Euro 2004 sobejou um estádio de futebol (com pista de atletismo) com capacidade para 25.000 espectadores e alguma inépcia camarária para o administrar da melhor maneira. Neste cenário, de mudança de circunstâncias desportivas, surgiu a TBZ, a empresa que actualmente substitui a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) na gestão dos espaços desportivos do estádio.

Mas a TBZ não quer continuar a gerir o estádio com base no contrato actual e está tentar acordar um novo com a direcção da AAC/OAF. A administração do estádio é financeiramente deficitária e a sofrível performance desportiva do clube nas últimas épocas (com as consequentes baixas assistências aos jogos) não consente qualquer distracção neste movimento no fio da navalha.

O pior é possível. Afinal, o estádio podia ser um palco de liga secundária (estádios de Aveiro e Leiria) ou qualquer coisa ainda mais funesta, ridícula e anormal (estádio do Algarve).

As relações entre a TBZ e a AAC/OAF estão, aparentemente, a caminhar para a normalização. O mesmo não posso afirmar da intimidade entre a empresa e a CMC. Não menos que 250.000 euros são reclamados pela TBZ, por dívidas acumuladas pela Câmara desde 2004. Um parceiro privado arrisca fazer alguma coisa pelo desporto da cidade e o executivo camarário limita-se a arrastar a situação por reuniões e departamentos jurídicos.
Caminha-se um pouco mais em direcção ao nada.
(Ontem, dia 03/09, no Jornal do Notícias)

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One day after another

Mas um instinto involuntário – e desde quando um instinto não é involuntário? – tocou-me a mão que, decidida, quebrou com força o teu sorriso inútil. Agora vejo-te sem sombras. No chão, a sangrar, és um homem de verdade.

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3.9.08

Dos deuses

«O Sol e a Lua foram criados para nós; como poderia eu adorar o que foi feito para me servir?»
(Taciano, Carta aos Gregos, 9)

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Estalar os dedos

«For why hide my feelings?»*

Lembram-se do que disse Dido? Talvez não, ela disse tanta coisa sem ademanes de especial eloquência, aflorando assuntos irrelevantes e, diria mesmo, chatos como os filmes do Oliveira. Porém, eu recordo estas* palavras, banho-me lentamente nelas, como se elas fossem uma derradeira tábua de purificação. Porquê ocultar os sentimentos? Talvez porque, por vezes, as pessoas não gostam do que dizemos que sentimos. Não gostam que não as amemos. Não gostam que nos afastemos porque o amor se esgotou ou porque o amor nunca chegou a existir. E isso é chato porque elas continuam a amar, apesar do voo melancólico do tempo. O passado já não existe, é um porto a que não se volta. As pessoas têm essa esperança mas deviam olhar para o que têm defronte de si.
*Terão sido mesmo proferidas por Dido? Ou Virgílio é o culpado desta tão alpestre ruminação?

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2.9.08

Piranha

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1.9.08

Science as a metaphor

A lei desdenha as fontes ilegítimas de prova (percebe-se a frustração da polícia quando sonega à barra do tribunal os dados acedidos em trilhos ínvios), despreza todos os factos constantes de uma realidade que, para todos os efeitos, não existiu. A incredulidade científica, porém, não esconde o seu apreço pelo bas fond e pelas suas memórias lodosas. É pelo bem, dizem. Assim se conhecem as glórias do mundo.

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700 anões (+13)


(Praça 8 de Maio, Coimbra)

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