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30.4.05

No Elvis, Beatles or the Rolling Stones


The Clash


Entre duas cervejas decidimos que foram os melhores. Que são os melhores. Nascemos em 1977. Vou para a cama, aconchegado pelas rãs do charco e pela tua boca de beijos obstinados.

28.4.05

Um dia de jogo

Acordo. O quarto do hotel de cinco estrelas, vagamente iluminado, continua a ser um estranho que ainda não consigo suportar, apesar da limpeza imaculada, do luxo dos móveis e das flores que todos os dias são renovadas e depostas numa pequena jarra vitoriana sobre a mesinha de cabeceira. O pequeno-almoço, tomo-o em silêncio, expectante, condicionado pelo porvir de um dia que, para a glória ou para a lama, me arrastará impiedosamente. Os outros não disfarçam o nervosismo, o tique-taque dos dedos nas mesas denunciando ambições trazidas de longe, talvez da infância, medos sufocados pela necessidade de uma aparência exterior tributária a John Wayne, pum-pum, eu não tenho medo de ninguém e mato quem se atravessar à minha frente.

O autocarro é engolido pela turba amante, os cachecóis beijam-nos através dos vidros, a sudação nervosa não respeita o ar-condicionado. No interior do estádio é a meia-final. Quarenta e cinco mil pessoas perfilam-se nas cadeiras ansiosas pelo passe que irá sobrevoar a defesa e libertar o avançado, pelo drible imprevísivel, pelo golo fora da área. Ouvi em registo no éter a minha inclusão nos que vão iniciar a partida. Nos jornais do dia anterior clamam por Hércules, o semi-deus, clamam pelo meu passe, pelo meu drible, pelo meu golo. O público, em uníssono, gesticulante, grita: Francisco, Francisco, Francisco.



Acordo. Um olhar relanceante para a mesinha de cabeceira desencadeia um suspiro de alívio – livros, algumas cartas, um relógio, um telemóvel e uma fotografia substituem as flores e a desarrumação é atípica de um hotel. É o meu quarto. Foi só um pesadelo.

E o Pinilla não meteu o terceiro... Que se lixe, a vitória será nossa: Viva o Sporting

27.4.05

Retrato de um encontro impossível

O amor promete uma semana inteira sem te ver. O Platão que se lixe. A alegria do reencontro, todas as semanas no final da semana, não vale cada momento que deixo de estar contigo. Quero estar contigo sempre. Mesmo quando não é possível, vem dormir comigo. Prometo que mudo os lençóis da cama, que te cedo a almofada alta e aspiro o pó do quarto. E pago uma noite no hotel aos meus pais.

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25.4.05

My hero

Somos livres – Excertos de uma carta de amor [em iteração]

O afago meigo do vento na minha face atrida reclama as memórias delidas de uma noite distante. Éramos jovens com asas de anjo vingador, guerreiros indómitos com o buço a despontar e a G3 cingida ao corpo, amante engatilhada para o encontro com a morte. Naquele dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, ainda o estertor da noite vinha longínquo, já os vultos camuflados adejavam, silentes, na mata de Cantanhez, esperando conformados a punitiva resposta ao desafio lançado quando entráramos na espessura vegetal.

Foi nesse dia que perdi a audição. De qualquer forma eu já estava habituado ao silêncio. O silvo de uma bala, o último som que terei escutado, talvez a mesma que tocou o Gomes entre os olhos e o norteou para o reverso da vida. Não teria sido diferente se a derradeira audição tivesse sido consagrada a Wagner ou a Chopin, hoje não te poderia ouvir a ti e isso é que lastimo. Quando o furriel Gomes capitulou, a face alva de alentejano ou minhoto surpreendida pela bala da “costureirinha”, o seu corpo baqueou mesmo a meu lado. Abracei-me a ele e sussurrei-lhe, desesperançado, sem me ouvir, que ia ficar bem. E lembrei-me do dia em que vim para a Guiné, da minha mãe a rezar em frente de uma fotografia minha vestido de militar. Queria estar junto dela (será preciso dizê-lo?), olhar a sua face empergaminhada, tocar-lhe as mãos quentes. Não estar ali.

O sangue quente gotejava nas minhas mãos assassinas, aquele vermelho vívido como um cravo no cano de uma G3, o olhar relapso nos olhos exauridos do Gomes. Percebi que aprendêramos a matar sem que soubéssemos porquê. O guerrilheiro pelo menos sabia porque matava, eu não. Ainda não sei.

Ao longe pressenti o limbo pardacento da tabanca. Deixei o frio subjugar o corpo em jeito de redenção. Olhei à volta, os homens abraçavam-se porque iam voltar para casa. Vivos, que o Gomes voltava encerrado entre tábuas de pinho. Alguém escrevinhou num papel gorduroso que os capitães tinham derrubado o governo, o lobo fora caçado. Antes de adormecer, uma lágrima solitária misturou-se com a poeira e o sangue em conúbio na minha face. Somos livres, a última coisa que ouvi, dita em uníssono por centenas de vozes. Bem sei que não mas permite-me que esqueça o que te contei antes.

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20.4.05

Mar naufragado

O mar, prostrado com a solidão da gaivota, chora.

19.4.05

Habemus papam


Papa Bento XVI

A alegria que senti ao ver o fumo branco, entremeado pelos sinos do Vaticano, contrastou com a tristeza que senti ao ouvir o nome de Ratzinger. Todavia, não julgarei Bento XVI antes do remate do seu pontificado. Que Deus o guie no espírito do Concílio Vaticano II.

18.4.05

O salhão

A gaja queria mesmo casar. De véu, grinalda e hímen intacto. E o pai, bêbedo e tudo, a levá-la ao altar. Só faltava um homem que lhe pegasse. Mas pegar aquele salhão adiposo – que na balança da estação volteava o ponteiro ao encarnado – era empreitada que nenhum Hércules patego considerava e muito menos desejava. E se algum cogitasse a coisa era ver-lhe o riso empolado acometendo as lonjuras. De modo que a tipa deu em prometer mundos ilimitados ao orago da paróquia, sem que isso lhe trouxesse benefício de maior. Alguma compassiva Verónica lá lhe demonstrou, por A mais B, que o melhor era ela deixar as macacadas com o santo e virar-se para as dietas e o exercício. Grande ideia, pensou o obstinado salhão, faço o exercício [a dieta fica para outra vez], sim senhora, mas metido numa promessa ao santinho. Todos os dias hei-de dar cem voltas ao cruzeiro da igreja com uma cruz de madeira às costas, até que o santo me arranje um homem, continuou. E assim fez, que aquilo não era mulher de arquitectar promessas vãs.

O compassado andar da gorda delineava momentos álacres na vivência da igreja. Os miúdos embargavam a catequese nas tardes de sábado para verem aquele mastodonte honrar a costumada via-sacra: a cruz enorme, de pinho velho, enfunada ao alto pela gordura informe dos braços, conduzindo o solene trote da promessa, o amplo vestido de cetim florido ajoujado ao corpo montanhoso, as hossanas embargadas pela voz ondulante, a terra em volta do cruzeiro batida pelos passos obstinados da mulher. Nem a geada relampejando nos campos lhe detinha o fervor. Aos sábados, já disse, os garotos da catequese formavam filas atrás dela e cantavam, Ó santo lindo como o sol, arranja gajo que coma este rissol. E compareceram homens e mulheres, e rapazes e raparigas, de todas as condições, formando com aquela gorda inusitada procissão. Até o padre e o sacristão apareciam, pela nonagésima volta, arrastando o Pater Noster pelo adro da igreja. Um dia, alguém se lembrou de alcandorar o santo no andor e juntá-lo ao cortejo. Fez-se. Lá ia ele, no meio da turba, carregado por dois rapazes e duas raparigas, normalmente dois parezinhos que dali corriam para a invisível treva.

A gorda é que não arranjava homem. E um dia que não apareceu na igreja aquela malta não gostou da renúncia. Alguém disse que a tipa ficara na cama, a chorar e a bramir heresias, O santo isto, o santo aquilo. Um fulano foi buscar gasolina e com ela untaram a cruz de madeira e a casa da gaja. Pegaram fogo à casa [com a bácora lá dentro]. Ardeu bem, a gorda. O corpo estava tão calcinado, tão leve, que foi carregado para o cemitério por dois miúdos que cantavam, Ó santo lindo como o sol, deixaste esturricar mais um rissol.

16.4.05

Pais e filhos

Em todo o mundo ocidental, a experiência paternal conjura um derradeiro repto: a expulsão do filho de casa, a profanação da vivência comunal de anos entre pais e filhos para que estes, ao irem viver sozinhos ou com @s companheir@s, se tornem definitivamente adultos. Porque é que tantos trintões ainda vivem com os pais, apesar de auferirem de proventos salariais não tão módicos quanto isso? Na verdade, uma adolescência insistida habita ainda os corpos adultos de todos nós. Quase nenhum de nós passou por uma cerimónia dramática – un rite de passage – que diga perspícua e indubiamente: tu és um homem entre homens ou tu és uma mulher com responsabilidade. A quebra simbólica de papéis e estados da adolescência não existe nas sociedades ocidentais e, por isso, continuamos confundidos e amedrontados pela ruptura com a casa paterna. E por hoje já chega, a minha mãe acabou de me trazer o lanche.

15.4.05

Onde vives?

O mar destroçado curte a pele incompleta da cereja. No arco indiferente do poema a gramática esquece-te.

Não podes olhar-me de frente quando ouso virar-te as costas.

14.4.05

Fantástico, maravilhoso, soberbo, majestoso, sublime, et caetera


Épico!

SCP:4-Newcastle:1

Abrevia-se a trilha para a final de Alvalade. E a aurora da jornada não pressagiava nada de bom, meu Deus...

Estádio José Alvalade XXI, em Lisboa

Árbitro: Peter Frojdfeldt (Suécia)

SPORTING – Ricardo; Rogério, Beto, Polga e Rui Jorge; Rochemback, João Moutinho e Carlos Martins (Pedro Barbosa, 66 m); Douala, Niculae (Pinilla, 74 m) e Sá Pinto (Custódio, 88 m).

NEWCASTLE – Given; Carr, Bramble (O'Brien, 56 m), Taylor e Babayaro; Dyer (Kluivert, 58 m), Bowyer, Faye e Jenas (Milner, 46 m); Shearer e N’Zogbia.

Ao intervalo: 1-1

Resultado final: 4-1

Sporting qualificado para as meias-finais da Taça UEFA, agendadas para 28 de Abril e 5 de Maio, vai defrontar os holandeses do Az Alkmaar, enquanto o Parma defronta o CSKA de Moscovo.


19' - GOLO DO NEWCASTLE. Contra-ataque da equipa inglesa, com Dyer a surgir sozinho pela direita do seu ataque depois de um mau passe de Polga para Rui Jorge e a rematar sem hipótese para Ricardo.
39' - GOLO DO SPORTING. Cruzamento de João Moutinho e cabeceamento vitorioso de Niculae.
71' - GOLO DO SPORTING. Remate de Pedro Barbosa para defesa incompleta de Given, surgindo Sá Pinto a facturar.
90+1' - GOLO DO SPORTING. Contra-ataque do Sporting, com Rochemback a aparecer em boa posição, ainda que apertado por dois defesas ingleses, e a aumentar a vantagem para 4-1.

13.4.05

Cânone ocidental


PEDRO BARBOSA (COM O NÚMERO 8)

Desenhas o teu jogo com um compasso
Com desprezo do esforço e do excesso
Onde não há, tu inventas novo espaço
Levando a bola até onde já não a meço

Tão veloz que não permanece na retina
E apenas surge no golo em conclusão
Afagas a bola numa ternura repentina
Como se de repente o pé tivesse mão

«Feito num oito» fica quem tu enganas
No drible mais inesperado e imprevisto
Em vez de dias tu permaneces semanas
Na memória de quem fez o seu registo

Tu não és o altivo artista mas o artesão
E se jogas sempre de cabeça levantada
É porque a distância da bola ao coração
É tão pequena como um grão de nada

[José do Carmo Francisco; «Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos», Padrões Culturais]
[Roubado daqui, com leoninas saudações ao Zé Mário e ao Filipe Moura]

12.4.05

Um grito

Talvez a escuridão fosse mais densa que em todas as noites anteriores, desde o começo do mundo. Alguém ceifou o emudecimento da hora tardia: um grito, apenas. Um pouco mais tarde, sequencialmente, um, dois, três gritos, e mais um, além na negrura. Roubados ao sono, os gritos cuspiam ignotos desassossegos, protestavam a morte insuspeita acobertada pelo nada.

O sol, em iridescência tardia, alimentou os bandos de hienas com a assassinada carne de toda a cidade. Um único grito remanesceu, esquadrinhando a imerecida perpetuidade. O grito do assassino, eu.

11.4.05

Paixão

1.
Deslumbramento
2.
Cianose, tremura, opressão
3.
Leveza, toque, consumação
4.
Insciência, dor

10.4.05

Flores

Ela pressente o caminho
Nos olhos do lado
E os teus ficam por ali
[Na mesa redonda do café]
A pedir que a noite chegue depressa.

8.4.05

É a vida

Um dia tive uma namorada que até dizia umas coisas engraçadas, como daquela vez em que disse, Estas pesetas são euros falsos, ou ainda outra vez em que disse, Spice girls: as raparigas espaciais, e outras coisas assim, com piada, algumas vezes; e azedume depressivo, quase sempre. Um dia esventrei o tempo e esqueci-me do passado, não o chorei embora chorasse nos teus ombros a perda de coisa nenhuma. Era noite, daquelas noites lentas, coalhadas de pirilampos e gritos pouco audíveis, peguei numa espada e amputei-lhe as jugulares. Calou-se, nunca mais disse coisas engraçadas, ou mesmo azedas, só sei que escureceu ainda mais e a seguir não me lembro de mais nada, só de estar aqui contigo a escrever cartas ao menino Jesus.

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7.4.05

Saul Bellow


[Saul Bellow, 1915-2005]

4.4.05

Papáveis [sic]

Eles falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, mas a verdade é que quem entra Papa sai sempre Cardeal.

2.4.05

O peregrino


[Bosch, The Wayfarer]

Nos últimos dias foi o rosto daqueles que o mundo queria esquecer. Mas antes já atravessara a noite dos caminhos, fora um peregrino voraz, exilado à procura da salvação. Fora a antítese do que viria a ser nestes derradeiros dias de agónica representação: a férrea vontade salvífica vertida num corpo atlético. Sobre a cabeça do viajante observamos os campos, a bucolia das colinas, e pressentimos a demanda do Paraíso: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens”.

O peregrino já encetou a sua derradeira jornada.