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31.1.06

Dou-te um beijo

1. Dou-te um beijo onde quiseres

2. no dedo mais afastado da mão

3. aquele que não serve para mais nada

4. senão para ser admirado

5. na ausência difusa do corpo.

Caderno Verde, Alexander Kloest

30.1.06

Anne Carson

John Keats,
Otho the Great: A Tragedy in Five Acts, I.3.114 ad 114

All myth is an enriched pattern,
a two-faced proposition,
allowing its operator to say one thing and mean another, to lead a double life.
Hence the notion found early in ancient thought that all poets are liars.
And from the true lies of poetry
trickled out a question.

What really connects words and things?

Not much, decided my husband
and proceeded to use language
in the way that Homer says the gods do.
All human words are known to the gods but have for them entirely other meanings
alongside our meanings.
They flip the switch at will.

My husband lied about everything.

Money, meetings, mistresses,
the birthplace of his parents,
the store where he bought shirts, the spelling of his own name.
He lied when it was not necessary to lie.
He lied when it wasn't even convenient.
He lied when he knew they knew he was lying.

He lied when it broke their hearts.

My heart. Her heart. I often wonder what happened to her.

The first one.

There is something pure-edged and burning about the first infidelity in a marriage.

Taxis back and forth.

Tears.

Cracks in the wall where it gets hit.

Lights on late at night.

I cannot live without her.

Her, this word that explodes.

Lights still on in the morning.

[Excerto de The Beauty of the Husband, 2001, Knopf]

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28.1.06

100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #8


Hoje joga-se o derby dos derbies. Que ganhe a melhor equipa. Que a melhor seja a equipa que veste de verde branco.

27.1.06

O último dia de sol

Entro na igreja velada pelos séculos e olho insistentemente o Cristo perecendo no madeiro cruzado, os olhos tristes de alegria, a confiança ensanguentada do dever cumprido – sim, que Ele nos remiu – escorrendo pela sua fronte bela e cinzelada. Caminho vagarosamente, os passos absorvidos pelos pensamentos, para a lateral capela setecentista. O barroco fulgente de uma Pietá, a arte exponenciada à derradeira náusea, agrilhoa o espaço devoto às riquezas dos Brasis. No altar o Cristo ainda morre, na lateral capela a Sua mãe já chora a sua extinção. Algum pós-moderno talvez me diga que o tempo é o do paradoxo.
Rezo o Pai-Nosso olhando as pedras ajaezadas de ouro, esculpidas por mãos gráceis e bem pagas. Lá fora, no adro, um mendigo recebe de esmola os derradeiros calores do sol, anuncia-se o fim da tarde. O tempo, o nosso, é o da indiferença ao paradoxo.

24.1.06

O vídeogravador

Na escola diziam que "tinha muita cabeça". Quatro, se quisermos ser rigorosos.

23.1.06

Orgulhoso de ser...

O único blogue onde não se fazem resumos, sinopses, epítomes e etecetras da famigerada noite eleitoral.

p.s. "Vencidos são aqueles que desistem de lutar."

19.1.06

Etnografia sentimental

-És um cabrão!
-Cabrão é o pais dos teus filhos! [momentaneamente pensativo]. Espera, que o pai dos teus filhos sou eu...

18.1.06

100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #7

Liedson, sendo dos jogadores que mais joga na risível equipa sportinguista, é dos que menos ganha [o outro que vai jogando, Moutinho, também ganha uma "miséria"]. O incansável levezinho aufere bem menos que os centrais Beto e Polga ou que Deivid, esses jogadores de cume que tanto têm ofertado ao Sporting - e, no caso dos jogadores do eixo defensivo, ainda mais aos clubes adversários. Se os responsáveis da SAD acederem ao seu anseio, o goleador brasileiro vai ganhar cerca de 90 mil euros mensais. É soma despropositada para a contabilidade SAD'istica [a SAD será, porventura, mais masoquista, vide o o que aconteceu em Braga] sportinguista? Julgo que não, se mandarem embora os excedentários [downsizing, please] chutadores de bola, designadamente os que não sabem chutar numa bola, e recordo-me, assim de um momento para o outro, do Beto, do Polga e do Hugo, e os que não querem ficar no clube [Deivid]; repito, se mandarem embora a escumalha, os euros que poupam chegam e sobram para pagar o que Liedson deseja. Eu nem me importo de contribuir com algumas moedas para o pagamento do ordenado do 31. O único que vai obstando aquele anelo suicidário que, invariavelmente, me acomete após os jogos do Sporting.

17.1.06

Viagens

Qualquer viagem é um sonho traído. Onde vês um lótus eu vejo uma espécie de cebola. Foi Nerval que o disse. O que magoa é ver a Torre Eiffel ou as pirâmides - mesmo o Taj Mahal - e enxotá-los da imaginação, convocando-os melancolicamente para a memória.

16.1.06

Apologia do biscoito

O restolho do teu corpo encontra os meus lábios que, vacilando, seguiram cegos os meus olhos.

13.1.06

A morte da antropologia

Creio – sem, todavia, ter qualquer certeza – que Claude Lévi-Strauss, no locus clássico de recusa do etnocentrismo, Raça e História, e no polémico O Olhar Distanciado, não pretendia senão lutar contra o ocidentocentrismo e salvaguardar as culturas indígenas do epistemícidio peperpetrado pelo Ocidente. Não comento as lacunas do argumentário do antropólogo francês nestes dois textos canónicos, falhas que foram apropriadas de forma indevida por um certo neo-racismo e pela extrema-direita populista. Contudo, não deixo de notar a preocupação extrema de Lévi-Strauss com a valorização desmedida da diferença cultural que, em último caso, supõe a incomensurabilidade dos sistemas culturais e a tentação de preservação das culturas num hipotético estado de essência natural. Em última análise, perpassa vagamente nestes escritos de Lévi-Strauss a apologia do simulacro, de que nos fala Baudrillard, a cristalização das culturas indígenas num estado de autenticidade, só possível com o encerramento das fronteiras trans-culturais. A simulação irrepreensível pressupõe a criogenização, ou melhor, o assassínio do objecto de estudo (o indígena) pela etnologia/antropologia, que assim cauciona a sua própria sobrevivência.

O governo brasileiro implementou um programa de treino militar a grupos indígenas da Bacia do Amazonas, presumivelmente para os defender de ataques das FARC colombianas, que actuam pelas mesmas latitudes e longitudes [Público, 16 JAN 2006, sem link disponível]. Não comento os propósitos desta iniciativa, se são militaristas ou filantrópicos, simplesmente não me interessam. Interessa-se, sobretudo, a reacção dos antropólogos que trabalham aqueles campos: um tropel de criticismo fundamentado na noção de que o contacto com as armas dos “brancos”, em última instância, com a cultura destes (como se eles não fossem brancos, na sua maioria, e educados na Europa e EUA), provoca uma disrupção das tradições tribais, um definhamento da cultura indígena e outros esmaecimentos do género. A hipocrisia é assustadora. Estas críticas convocam o âmago do projecto destes antropólogos: a construção de uma realidade ensaiada em que, mais que seres humanos, os indígenas são bonequinhas Barbie que só podem contracenar com os autênticos acessórios Mattel. Serão mesmo antropólogos? Serão talvez conservacionistas ou tratadores do zoo, apostados em simular uma realidade que já não existe e em manter os seus indígenas em grades de formol.

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12.1.06

Holocausto

"O esquecimento da exterminação faz parte da exterminação"
Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação

11.1.06

Parabéns ao Francisco

TERCEIRA PARTE / O ENCOBERTO
Pax in excelsis.
I. OS SÍMBOLOS

O DESEJADO

Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Graal!

[Fernando Pessoa, Mensagem]

10.1.06

In bloom

«De súbito, apareceu ali, a passos rápidos, a jovem ciclista do bando, tendo, sobre os negros cabelos, a boina baixada para as suas faces rechonchudas e os olhos alegres um pouco insistentes; e naquele afortunado caminho miraculosamente povoado de doces promessas, eu via-a, sob as árvores, lançar a Elstir um sorridente cumprimento de amiga, arco-íris que uniu para mim o nosso mundo terráqueo e as regiões que até então julgara inacessíveis.»

[Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, À sombra das raparigas em flor]

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9.1.06

Elogio fúnebre - marginalia

As raízes já crescem nos teus olhos. À mesa, no teu lugar, uma velha fotografia que te tirei em Q..., amarelecida pela canícula dos verões e pelos olhares que convoca. Já me disseram que a fotografia não te faz justiça. Não faz. Uma reprodução silenciosa e inócua de uma rapariga risonha e despreocupada não apaga o mal que fizeste a tanta gente. Ainda bem que morreste cedo.

6.1.06

Casamento

Procuro no pó dos caminhos uma última folha do outono e os teus olhos - no chão sobre o chão, vacilantes.

4.1.06

Louis Braille

Eras cego e pequeno - senão mesmo invisível - e desmaiaste as sombras com pontos negros que só os olhos das mãos viam. Eras - não - és, iluminado e grande.


3.1.06

No começo

Como não me apetece escrever sobre as virtualidades fenomenológicas da minha passagem de ano - ou mesmo escrever sobre outra coisa qualquer - recupero, para os menos impressionáveis e pedindo desde já perdão a todos os santinhos, o texto daedaliano que mais gostei de escrever [porque tão politicamente incorrecto] no finado ano de 2005.

"O Salhão"

A gaja queria mesmo casar. De véu, grinalda e hímen intacto. E o pai, bêbedo e tudo, a levá-la ao altar. Só faltava um homem que lhe pegasse. Mas pegar aquele salhão adiposo – que na balança da estação volteava o ponteiro ao encarnado – era empreitada que nenhum Hércules patego considerava e muito menos desejava. E se algum cogitasse a coisa era ver-lhe o riso empolado acometendo as lonjuras. De modo que a tipa deu em prometer mundos ilimitados ao orago da paróquia, sem que isso lhe trouxesse benefício de maior. Alguma compassiva Verónica lá lhe demonstrou, por A mais B, que o melhor era ela deixar as macacadas com o santo e virar-se para as dietas e o exercício. Grande ideia, pensou o obstinado salhão, faço o exercício [a dieta fica para outra vez], sim senhora, mas metido numa promessa ao santinho. Todos os dias hei-de dar cem voltas ao cruzeiro da igreja com uma cruz de madeira às costas, até que o santo me arranje um homem, continuou. E assim fez, que aquilo não era mulher de arquitectar promessas vãs.

O compassado andar da gorda delineava momentos álacres na vivência da igreja. Os miúdos embargavam a catequese nas tardes de sábado para verem aquele mastodonte honrar a costumada via-sacra: a cruz enorme, de pinho velho, enfunada ao alto pela gordura informe dos braços, conduzindo o solene trote da promessa, o amplo vestido de cetim florido ajoujado ao corpo montanhoso, as hossanas embargadas pela voz ondulante, a terra em volta do cruzeiro batida pelos passos obstinados da mulher. Nem a geada relampejando nos campos lhe detinha o fervor. Aos sábados, já disse, os garotos da catequese formavam filas atrás dela e cantavam, Ó santo lindo como o sol, arranja gajo que coma este rissol. E compareceram homens e mulheres, e rapazes e raparigas, de todas as condições, formando com aquela gorda inusitada procissão. Até o padre e o sacristão apareciam, pela nonagésima volta, arrastando o Pater Noster pelo adro da igreja. Um dia, alguém se lembrou de alcandorar o santo no andor e juntá-lo ao cortejo. Fez-se. Lá ia ele, no meio da turba, carregado por dois rapazes e duas raparigas, normalmente dois parezinhos que dali corriam para a invisível treva.

A gorda é que não arranjava homem. E um dia que não apareceu na igreja aquela malta não gostou da renúncia. Alguém disse que a tipa ficara na cama, a chorar e a bramir heresias, O santo isto, o santo aquilo. Um fulano foi buscar gasolina e com ela untaram a cruz de madeira e a casa da gaja. Pegaram fogo à casa [com a bácora lá dentro]. Ardeu bem, a gorda. O corpo estava tão calcinado, tão leve, que foi carregado para o cemitério por dois miúdos que cantavam, Ó santo lindo como o sol, deixaste esturricar mais um rissol.



2.1.06

Regresso

"Na árvore prefiro a floresta: na semínima, Chopin."
Caderno Verde, Alexander Kloest

Os melhores de 2005: livros


Livros estrangeiros:
1. Ilíada, Homero
2. As perturbações do pupilo Törless, Robert Musil
3. Emigrantes, W.G. Sebald
4. A conspiração contra a América, Philip Roth
5. A misteriosa chama da rainha Loana, Umberto Eco

Livros portugueses:
1. A casa quieta, Rodrigo Guedes de Carvalho
2. Longe de Manaus, Francisco José Viegas
3. Finita, Maria Gabriela Llansol
4. Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
5. Requiem, Jorge Gomes Miranda