O último dia de sol
Entro na igreja velada pelos séculos e olho insistentemente o Cristo perecendo no madeiro cruzado, os olhos tristes de alegria, a confiança ensanguentada do dever cumprido – sim, que Ele nos remiu – escorrendo pela sua fronte bela e cinzelada. Caminho vagarosamente, os passos absorvidos pelos pensamentos, para a lateral capela setecentista. O barroco fulgente de uma Pietá, a arte exponenciada à derradeira náusea, agrilhoa o espaço devoto às riquezas dos Brasis. No altar o Cristo ainda morre, na lateral capela a Sua mãe já chora a sua extinção. Algum pós-moderno talvez me diga que o tempo é o do paradoxo.
Rezo o Pai-Nosso olhando as pedras ajaezadas de ouro, esculpidas por mãos gráceis e bem pagas. Lá fora, no adro, um mendigo recebe de esmola os derradeiros calores do sol, anuncia-se o fim da tarde. O tempo, o nosso, é o da indiferença ao paradoxo.
Rezo o Pai-Nosso olhando as pedras ajaezadas de ouro, esculpidas por mãos gráceis e bem pagas. Lá fora, no adro, um mendigo recebe de esmola os derradeiros calores do sol, anuncia-se o fim da tarde. O tempo, o nosso, é o da indiferença ao paradoxo.
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