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27.11.09

Passeio Público

(A importância da taxonomia)

Numa entrevista publicada na última edição do “Jornal de Letras”, o escritor austríaco Peter Handke confessou que o seu trabalho do momento é andar pela floresta a apanhar boletos. Em Portugal, toda a gente com acesso a uma mata anda a apanhar tortulhos. É Outono, estação magoada e propícia à nostalgia, temporada de folhas caídas e fungos gastronomicamente valorizados.

Para mim, é pouco natural que Barry Seaman (um dos avatares da ambição bendita de Roberto Bolaño, em “2666”) tenha ressuscitado graças às costeletas de porco; afinal, a nossa tradição gastronómica não valoriza assim tanto esse retalho da anatomia do suíno e, que eu saiba, apenas Lázaro e Jesus Cristo lograram regressar do conforto eterno da morte. Não obstante, parece ser natural (em termos estatísticos, pelo menos) morrer devido à ingestão de cogumelos venenosos.

No distrito de Coimbra, são muitas as vítimas das superstições e da ignorância no que toca aos venerados fungos. Em apenas duas semanas, contam-se três mortes e vários internamentos em hospitais da região, motivados pela deglutição confiada de cogumelos não comestíveis. As circunstâncias são graves - e pouco exploradas pela avidez insensata de alguma comunicação social – e sugerem que, afinal, um acto gastronómico aparentemente inócuo pode ter consequências mais severas que uma infecção pela famigerada gripe A.

Infelizmente, uma pequena parte das pessoas que se dedica à colheita de cogumelos não distingue um míscaro de um pinheiro-bravo. Tal-qualmente, não destrinça um tortulho de um dos muitos cogumelos tóxicos. O destino dessas pessoas é pouco auspicioso. Aparentemente, o homérico desconhecimento da taxonomia destes fungos não inibe algumas de pessoas de os recolher, de os cozinhar e de os consumir. As consequências desta leviandade rampante podem ser avaliadas nos repositórios clínicos dos Hospitais da Universidade ou dos Covões. As pessoas dão tanto valor aos cogumelos que não se importam de morrer por eles.
(Hoje, 27/11, no Jornal de Notícias)

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27.10.09

E as ovelhas fogem quando vêem o pastor

19.10.09

A Cribra, uma lenda

A Cribra foi imaginada, ca. 1505, por Hieronymus Bosch. Ainda durante o séc. XVI, terá sido avistada por um certo Jacobus Hupprecht, de Leiden, cujo testemunho foi considerado altamente irregular e nada conforme os ditames canónicos pelo oficiante de St. Lodewijk, padre Luuk Adler. Jean-François Peltier, o naturalista da Societé Philanthropique de St. Dieu des Vosges (e, de resto, membro correspondente da Societé Linneéne de Paris), escreveu sobre ela um artigo conciso, mas definitivo, no hebdomadário L'Agronomie du Midi (Peltier, 1796: 12-845):

Não devemos dizer o que é, mas apenas o que não é. Não é muita coisa: abano, abat-jour, etc. (a lista continua por 512 páginas). Tem cabeça de pássaro com lábios de homem e corpo de rã com orgão sexual de peixe. As afinidades filogenéticas com os répteis são evidentes mas não gosta de sol ou de rochas, e não é peçonhenta. Vive debaixo das árvores e, ocasionalmente, à sombra de uma mulher endinheirada. Nisso, não difere de alguns homens. Alimenta-se de flores, madeira seca e do bagaço de Sémillon.
Há quem afirme a sua não existência, mas sem o conseguir provar.
(Bibbiene Laurent, Seres vivos provavelmente mortos, pág. 191)

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15.10.09

Melancolia de pássaros

O andorinhão, pássaro insectívoro, caçador breve de moscas e melgas (alimento apenas comestível), possui um sistema de orientação evoluído, quase irrepreensível, que lhe permite, por exemplo, contornar borrasqueiros e tempestades. Raramente se apeia do conforto do vento e fá-lo apenas para nidificar (para doar vida) ou para morrer. O andorinhão dorme em voo absoluto. It sleeps in the wings, como dizem os ingleses. Não sei como o faz, ou porque o faz – talvez se sinta mais seguro arredado da terra, das suas misérias e dos seus parasitas.

Foi ontem (não foi) que encontrei um andorinhão (um milhafre pequeno, pensei) na Reserva do Museu Antropológico da Universidade de Coimbra – Secção das Colecções Esqueléticas Identificadas. Esboçava um voo indefeso e tremelicado, destinado ao chão, não sem antes acometer, com alguma violência, os armários que protegem os crânios de homens e mulheres de segunda morte (são 2000? 3000?). Percebi-lhe a aflição do náufrago, do tresmalhado, peguei-lhe com água de matar a sede e outras delicadezas, mas em vão: ele partira já. Julgo que morreu imediatamente, no momento em que tocou o solo, quando vislumbrou a morte reflectida nas vidraças dos armários e percebeu que era da natureza dele viver só a voar. O resto, aquele bater de asas hesitante, foi apenas um derradeiro paroxismo ou, talvez, uma forma de agradecer a quem o criou assim.

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11.10.09

Eleições Autárquicas

À luz de qualquer critério possível, razoável e justo, as bactérias são, e sempre foram, a forma de vida dominante na Terra.
(Stephen Jay Gould, Full House, pág. 211)

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15.8.09

Passeio Público

(O animal sem qualidades)
Já o disse uma vez, neste mesmo espaço e nestes termos: não gosto de ratos. Não conheço ninguém que lhes devote sincera afeição (mas há malucos para tudo), que adormeça enquanto lhes dedica carícias e meiguices, que gaste metade do ordenado numa espécie de Pedigree Pal para roedores, ou que os passeie no parque pela trela.

Os livros de história (e a sabedoria do povo) garantem que são os ratos que, perante a ameaça de naufrágio, tomam a dianteira da fuga. São vermes imundos e emporcalhados, dos maiores portadores de microorganismos patogénicos que sulcam o reino animal (não transmitem a gripe A, que se saiba, o que só abona a seu favor). E mais: eles comem tudo; o lixo, os cereais, e até as orelhas dos prisioneiros em celas escuras (existe uma vasta bibliografia sobre o assunto).

A verdade é esta para a maioria das pessoas, liberta de hipocrisias ecológicas: o único rato bom é o rato morto. Por causa dele (e da Yersinia, e das pulgas, e de muita agnosia) morreram milhões de pessoas durante a Idade Média. Não ladra, nem afasta os ladrões das nossas casas. É um animal sem qualidades reconhecidas.

Mas, se calhar, talvez, possivelmente: sempre é belo um rato em Coimbra. Junto à Estação Nova, em dois prédios abandonados, os murídeos orelhudos prosperam. Homenageando Charles Darwin, e as efemérides associadas ao naturalista inglês que se celebram este ano, os ratos que se passeiam na Rua Fernão de Magalhães mostram ao ingénuo passante como se afigura na natureza a “sobrevivência dos mais fortes”.

Coimbra irá apostar em força no turismo cultural – é uma boa estratégia para a cidade. Contudo, eu proponho algo ainda mais radical: a organização de safaris na Rua Fernão de Magalhães, com jipes e guia indígena. As nédias criaturas são já o alvo declarado das objectivas dos turistas, porque não rentabilizar as graças do mundo animal? Permitir que a praga subsista é uma outra forma de afirmar o amor que se sente pela cidade.
(Ontem, 14/08, no Jornal de Notícias)

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13.1.09

Carlitos Darwin: o darwinista relutante #1


2009. 200 anos depois, 12 de Fevereiro. 150 anos depois, 24 de Novembro. Charles Darwin. Menino rico, esbanjador. Às vezes cientista. Isto foi o início. Depois veio a viagem, o terramoto e as Galápagos; dois livros fulcrais e nenhum deles era a Bíblia. Uma família em crescendo geométrico (a invectivar Malthus?). As doenças, o estatuto como geólogo. Depois como biólogo, graças às insignificantes cracas. Sabiam que o seu livro mais lido, isto é, enquanto ainda vivia, foi Earthworms e não a Origem? Que lhe morreu a filha mais querida? Que ele via na própria pele - nas suas próprias alergias e dores de estômago - e na dos filhos a acção da selecção natural? Teve amigos, bons amigos. Que concordaram com ele, que eram mais darwinistas que Darwin. Excepto o velho Lyell. Esse morreu e foi para o céu. Um dia recebeu uma carta de Wallace, o outro, que ninguém ou quase ninguém conhece, mas que, vindo de baixo (não era rico nem esbanjador: a mostrar que não é o social que influencia definitivamente a produção científica), concatenou ideias e chegou ao mesmo resultado que o Carlitos. Só que este tinha receio, mais por Emma que por si, e foi resguardando as palavras heréticas, pelo menos 20 anos se passaram entre essas primeiras letras demoníacas e a carta de Alfred Russel Wallace, que espoletou a célebre conferência da Geological Society. Em que os dois, em jargão críptico, disseram que não, que não havia mão de Deus sobre as criaturas, que era tudo obra do acaso e do tempo. Wallace afastou-se, tornou-se místico. Darwin continuou, sempre.

Humanos?
Qual a diferença,
a ínfima dobra,
que faz a diferença?
(Luís Quintais, Mais espesso que a água, pág. 101)

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9.12.08

Passeio Público

(Os ratos)

Dos ratos diz-se, não sei se com alguma razão, que são os primeiros a abandonar o barco. Foram eles (e as pulgas; e a Y. pestis; e a ignorância) os responsáveis por milhões de mortes durante o séc. XIV e seguintes, quando a Peste Negra dizimou uma parte substancial da população europeia. Eu não gosto de ratos – prefiro o Tom ao Jerry, e o Donald ao Mickey. Detesto cobras, cultivo mesmo uma aversão irracional a essas criaturas amputadas, mas gosto ainda menos de ratos.

A selecção natural contribui para a disseminação dessas alimárias felpudas e sujas (aliás, repugnantes), quando devia coadjuvar a sua eliminação. Não sei se a Bíblia os amaldiçoa mas, se não for esse o caso, devia fazê-lo. De preferência, através das vozes eficazes dos profetas ou de uma epístola de S. Paulo.

Em poucas palavras: o homem, auto-presumido feitor do mundo, devia fazer tudo o que está ao seu alcance para afastar de si o malquerido roedor. Por vezes o homem faz umas coisas, arma ratoeiras e distribui veneno, sempre de forma liberal e pródiga, mas nunca é suficiente. Os ratos nascem mais depressa do que morrem; reproduzem-se como coelhos, diz-se, o que é uma asneira porque os velhacos são mais expeditos e resolutos que os simpáticos orelhudos de olhos afogueados.

E assim se chega onde se quer chegar: um infantário de Coimbra, localizado na Casa Branca, foi encerrado temporariamente por causa de uma invasão de ratos. Mesmo ao lado do infantário, num terreno especialmente propício, atravancado de silvedos e automóveis abandonados, multiplica-se, irrestritamente, o pernicioso murídeo. O terreno pertence à Câmara Municipal de Coimbra, que o dispensou à PSP. A situação configura, absolutamente, um caso de polícia.

Os miúdos de hoje já nem sabem muito bem o que é a “natureza” mas, valha-nos o bom senso, existem maneiras preferíveis de lhes apresentar os encantos do mundo animal. Levá-los ao Jardim Zoológico, por exemplo. A verdade é que o zoo se transferiu para o infantário. Mas, infelizmente para todos, sem os leões, as girafas e os ursos. Só os ratos. Com as pulgas e as doenças que eles adoram transportar gratuitamente.

Desconheço as razões da existência de um depósito de viaturas abandonadas junto a um centro infantil. São coisas que não combinam, como a gravata às riscas com a camisa aos quadrados. É talvez necessário conhecer esta verdade essencial. Para que, da próxima vez, se mantenha afastado o que não deve andar por perto.
(Quarta-feira, 03/12, no Jornal de Notícias)

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17.8.08

Se isto é um peixe

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15.10.07

O acontecimento editorial do ano


Gary Larson foi finalmente editado em Portugal. Não é, ainda, o Farside mas este "Há um cabelo na minha terra" mostra de forma exemplar a visão do cartoonista americano sobre a vida, a biologia e a ciência, coada, à vez, pela demência e genialidade. A edição [maravilhosa] é da Gradiva. Custa [apenas] 17 €.

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21.9.07

The last Neanderthal [cont.]


Uma nota positiva: não jogaremos com a França. Os franceses têm um jogador chamado Sébastien Chabal que é interessante na medida em que, não sendo um intelectual, desmentiu categoricamente Charles Darwin. Chabal anda a evoluir ao contrário desde que nasceu, em 1977. Começou como Homo sapiens sapiens [há fotografias que o comprovam] e, num espaço de 30 anos, está feito um Homem de Neanderthal. Trata-se de um indivíduo que, no Torneio das 6 Nações de 2010, se apresentará, com toda a certeza, já na qualidade de gorila.

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14.9.07

100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #49


[Num túmulo megalítico um antropólogo lagarto fica visivelmente satisfeito (aliás, emocionado) quando encontra uma sua imberbe parenta: a osga (Tarentola mauritanica). Ele há óptimas coincidências! Assim vale a pena sair de casa bem vestido.]

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8.3.07

A resiliência fugaz dos ratinhos do campo perante os gatos rafeiros europeus: uma hermenêutica darwinista

Um sismo na Baixa mobilizou-me as pernas, dispersou-me a mente e desligou a corrente a eléctrica. Este post acabou por não ser escrito. As minhas sentidas desculpas ao improvável leitor.

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