(As armas certas)
Acreditamos na ciência ou em milagres, mas não acreditamos nos homens. Amamos uma aldeia ou uma rua, mas afastamo-nos daqueles que as habitam. Imaginemos que somos acareados com o desalento de uma cidade – penso em Coimbra. Avaliamos a sua direcção pelo que imaginamos dever ser sua a direcção; esquecemos a gestão própria da vida em favor da gestão apropriada da cidade. Achamos que o status quo merece a rebelião das urnas. Manifestamos o anseio pela alternativa, sem saber muito bem se a alternativa existe.
Quando, nas últimas eleições autárquicas, o Partido Socialista (PS) de Coimbra conheceu a ignomínia da derrota, a maior de sempre, julgámos que o retiro do fracasso seria proveitoso, que novos trilhos se abririam, que as novas ideias seriam acarinhadas, e que as mulheres e os homens da cidade não seriam esquecidos. Julgámos, talvez ingenuamente, que o insucesso, mesmo o mais deprimente, serviria de lição para os mais desavisados.
Aquele dia 9 de Outubro de 2005 devia determinar claramente um ponto de reinício, um desígnio de retorno ao poder, e não o apagamento autárquico de um partido latitudinário na sociologia da cidade. Naquele dia, o que parecia o fim poderia ser afinal um princípio. Todavia, o PS ainda não indicou, em definitivo, o seu candidato à Câmara Municipal de Coimbra.
Henrique Fernandes seria, não hesito em afirmá-lo, o melhor candidato, um pretendente de talentos multíplices. A sua honestidade, a sua competência, a sua experiência, a sua notoriedade junto do eleitorado e das bases partidárias traduzir-se-iam, seguramente, em votos que o PS não deve (não pode?) desprezar.
O actual Governador Civil de Coimbra será, talvez, o único homem com possibilidades de bater Carlos Encarnação nas autárquicas que se avizinham. Contudo, se o propósito socialista é preparar uma candidatura forte para o futuro, afiguram-se outros nomes, de inabalável prestígio, para a dura liça: João Vasco Ribeiro, Fernando Regateiro, ou Mário Ruivo. E, também, o valoroso delfim de Henrique Fernandes, Paulo Valério. A sua juventude não rima com inexperiência, e o futuro há-de ser agora.
A verdade é que o PS de Coimbra já tem um candidato, mas Vital Moreira pensa na Europa e não em Coimbra. Contas de outro campeonato. Antes de mais, é necessário encontrar as armas certas para a batalha que mais nos interessa.
(Ontem, 27/05, no Jornal de Notícias)
Etiquetas: Coimbra, eleições, jornais