Passeio Público
(Parada no tempo)
A Queima das Fitas acabou e, encarando a brandura eterna de Coimbra, a margem esquerda do Mondego adapta-se, de novo, ao esquecimento distraído dos autarcas da cidade. O corpo esquerdo de Coimbra oscila nesse desdém que o afasta do seu espelho direito, no outro lado do rio. Infelizmente, Álvaro Seco (vereador socialista da Câmara Municipal de Coimbra) não parou no tempo: a margem esquerda do rio continua esquecida, bloqueada na expectativa do porvir.
Nem tudo é olvido, ou descuido – assegura Carlos Encarnação, presidente da CMC. A margem esquerda não está à margem. O presente é esperançoso, e até acolhedor. Abundam os exemplos de boa administração municipal: Santa Clara-a-Velha e o Convento de São Francisco. Acrescentamos o Portugal dos Pequenitos, o Hospital dos Covões e o mono comercial. E, porque não?, os autocarros na Guarda Inglesa.
O Convento de Santa Clara-a-Velha, os Covões e o Portugal dos Pequenitos são favores entre parênteses, concessões estruturais que nada devem à Câmara Municipal, e que existem, como tal, independentemente dela e dos seus inquilinos. Nem uma palavra para o mono comercial. Vá lá, apenas duas: fealdade conveniente. A sua arquitectura é aflitiva mas, de resto, o mono dá jeito a quem precisa de comprar livros, roupa de marca espanhola ou pacotes de açúcar. Finalmente, o Convento de São Francisco sobrevive mal, assente numa fachada setecentista e nos planos ingentes dos arquitectos (projectos que teimam em não escapar ao papel).
Aproximam-se as eleições (europeias, legislativas e autárquicas) e não há quem desista da competição narcísica: todos querem ter a razão do seu lado. Mesmo que se atropelem os factos e, acima de tudo, as pessoas (atenção: os eleitores). A realidade não é obscura, ou subtil: o Mondego divide Coimbra, confunde mansamente o esquecimento de uma das margens. Que não subsistam as dúvidas acerca disso. Afinal, quando se reconhece que ainda há muito por fazer alcança-se um pouco da razão.
(Ontem, 13/05, no Jornal de Notícias)
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