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21.5.09

Passeio Público

(Aos Domingos)

Há muitas razões para se gostar da Académica de Coimbra (Organismo Autónomo de Futebol), um clube de estudantes e doutores, respeitável e precioso; estimado, senão com bonomia, pelo menos com alguma displicência, pelo povo deste nosso Portugal (exceptua-se do embrulho o vimaranense mais intransigente). Há quem ache, possivelmente a maioria, que é um clube “simpático”; outros louvam a integridade de uma verdadeira “escola de homens”; e alguns, ainda, reconhecem-lhe a herança (documentada) de luta pela liberdade, muito antes da segurança democrática de Abril.

Eu gosto da Académica porque é o clube da minha cidade, porque o luto perpétuo do equipamento soleniza um certo apego aos sonhos de uma tribo imaginada. Não me move porque irradia a “inocência do amadorismo”. Do que eu gosto mesmo é de futebol, e da indiscrição do triunfo – com golos, correria e grandes penalidades. O resto (a pacholice do “mito da simpatia”) serve, quando muito, para jogos de solteiros contra casados.

Durante anos, o futebol da Briosa balançou entre a mediocridade e a ingenuidade – quase sempre com maus resultados. Felizmente, há quase dois anos chegou a Coimbra um homem nascido e cumprido na mais admirável indústria de campeões do país, o Futebol Clube do Porto. Domingos Paciência, pois se é dele que falo, não se limitou a desenvolver um exercício estético de futebol. Domingos corrigiu um atraso de duas décadas, pelo menos, e transformou os “pardalitos do Choupal” em extraordinárias aves de rapina; convenceu-os, enfim, que a vitória é a menor das vergonhas.

Uma certeza (ou duas) determina este interesse contingente sobre o futebol da Briosa, quando ainda falta um jogo para o final do campeonato. A Académica pode até perder no “D. Afonso Henriques”, e o Marítimo pode até vencer no “Mar”, mas a melhor classificação da equipa de Coimbra nos últimos 25 anos está já garantida. Infelizmente, o treinador está de saída. Vai-se embora o Domingos. Paciência. A Académica é maior que todos nós.

(Ontem, 20/05, no Jornal de Notícias)

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27.11.08

Passeio Público

(As catedrais)

1. Uma das características menos interessantes dos seres humanos é a capacidade de esquecer coisas tão valorizadas como as noites que ficaram para trás, o almoço de anteontem ou o nome do lateral-esquerdo da equipa da Académica que perdeu a final da Taça de Portugal em 1969. Uma desgraça. O esquecimento não devia ser um privilégio da humanidade.

Há uns tempos, numa arrojada encosta do Douro, entre um abraço assustadiço e as curvas fugazes da água, espessou-se o mistério escolástico; então, na proximidade da queda, os ritos intransigentes da velha religião voltaram a fazer sentido – o que fazer, senão rezar, quando o abismo é quase uma certeza a despedaçar o espírito? A memória, e não o esquecimento, certifica a nossa segurança. Foi a sentença moral que retirei daquela experiência.

Quase todas as igrejas são antigas e velhos são os ritos que lhes excedem os umbrais. Os séculos afinam o estilo, muitas coisas são esquecidas e poucas acrescentadas. O préstito e a palavra apuram com o tempo, espécie de azeite gourmet, como sói dizer agora. A Sé Velha de Coimbra, o nome não engana, é feita de pedra antiga e honrada. Pouco tempo depois da batalha de Ourique (os fados, enfim, apiedavam-se de D. Afonso I) principiaram os trabalhos de construção da igreja, fortalecida de espírito e de grossas paredes. O retábulo gótico da Sé, antigo de 500 anos, dignifica o templo e justifica a festa destes dias.

Para a solenidade do momento recupera-se um rito desmemoriado: a liturgia moçárabe. As paredes atarracadas da igreja parecem menos frias, há uma desarrumação de cores, um odor crestomático denuncia um abraço passado, um lugar utópico de coabitação de culturas. Coimbra moçárabe, Coimbra multicultural: a prática antes do conceito. Cristã, judia e moura.
Os dias eram outros. Melhores ou piores, não interessa. A vida é mais fácil quando a imaginação substitui a realidade (defeito de um sentimental).

2. No estádio Finibanco - é assim que se chama? – o espectáculo está garantido. Se não for no relvado ou nas bancadas, há-de ser nos corredores da administração. A Académica/OAF e a TBZ arranjam sempre matéria para desentendimentos (a concórdia nunca ficou bem em estádios de futebol). Desta vez, até a polícia foi convocada para a bernarda. O problema, obviamente, foi o dinheiro. O bago, o pilim. O numerário, sacrossanto interesse de ambas as partes. A relação entre o clube e a empresa, sempre frágil, encrava definitivamente, engasga-se em paroxismos derradeiros de condenado. Não se esperava outra coisa.
(Ontem, 26/11, no Jornal de Notícias)

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