Estéticas da Morte #cinquenta e nove
Bonfort e Le Coeur, assassinos, ajoelharam-se e declararam em voz alta o seu arrependimento pelas ofensas feitas a Deus e ao rei. Deus, infinitamente misericordioso (feitio, de resto, amplamente disputado em alguns livros do Antigo Testamento), indultou-os enquanto o Diabo* esfregou um olho. O rei, mais pragmático que o bom Criador, fez dos dois assassinos um exemplo: Bonfort e Le Coeur seriam enforcados depois de tomarem um banho veemente e de vestirem uma farpela elegante, costurada numa das melhores lojas da cidade (alfaiataria de Vincent Chalès, filho).
Mais tarde, Bonfort e Le Couer, caminhando lentamente para o cadafalso, remiraram-se com gosto nos olhos de belas raparigas do povo. Apesar de acharem as roupas novas um tanto ou quanto apertadas, é possível que tenham perdoado ao alfaiate Vincent esse nada despiciendo pormenor no momento em que o verdugo os ajustou à derradeira, peremptória, gravata.
*Que aparecera no Paraíso pouco antes, a fim de tratar de umas burocracias.
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