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27.11.09

Passeio Público

(A importância da taxonomia)

Numa entrevista publicada na última edição do “Jornal de Letras”, o escritor austríaco Peter Handke confessou que o seu trabalho do momento é andar pela floresta a apanhar boletos. Em Portugal, toda a gente com acesso a uma mata anda a apanhar tortulhos. É Outono, estação magoada e propícia à nostalgia, temporada de folhas caídas e fungos gastronomicamente valorizados.

Para mim, é pouco natural que Barry Seaman (um dos avatares da ambição bendita de Roberto Bolaño, em “2666”) tenha ressuscitado graças às costeletas de porco; afinal, a nossa tradição gastronómica não valoriza assim tanto esse retalho da anatomia do suíno e, que eu saiba, apenas Lázaro e Jesus Cristo lograram regressar do conforto eterno da morte. Não obstante, parece ser natural (em termos estatísticos, pelo menos) morrer devido à ingestão de cogumelos venenosos.

No distrito de Coimbra, são muitas as vítimas das superstições e da ignorância no que toca aos venerados fungos. Em apenas duas semanas, contam-se três mortes e vários internamentos em hospitais da região, motivados pela deglutição confiada de cogumelos não comestíveis. As circunstâncias são graves - e pouco exploradas pela avidez insensata de alguma comunicação social – e sugerem que, afinal, um acto gastronómico aparentemente inócuo pode ter consequências mais severas que uma infecção pela famigerada gripe A.

Infelizmente, uma pequena parte das pessoas que se dedica à colheita de cogumelos não distingue um míscaro de um pinheiro-bravo. Tal-qualmente, não destrinça um tortulho de um dos muitos cogumelos tóxicos. O destino dessas pessoas é pouco auspicioso. Aparentemente, o homérico desconhecimento da taxonomia destes fungos não inibe algumas de pessoas de os recolher, de os cozinhar e de os consumir. As consequências desta leviandade rampante podem ser avaliadas nos repositórios clínicos dos Hospitais da Universidade ou dos Covões. As pessoas dão tanto valor aos cogumelos que não se importam de morrer por eles.
(Hoje, 27/11, no Jornal de Notícias)

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24.11.09

O livro da estupidez

A minha avó nunca se referiu ao assunto mas o preconceito enraizou na mesma: é preciso ter cuidado com as suburbanas licenciadas à menos de uma geração. Não porque vestem mal (ide todas bardamerda com a «Desigual»), ou porque gostam de dizer que vão comprar as cápsulas da «Nespresso» ao Chiado, nem mesmo porque ficam com o pito aos saltos em frente das alfaces secas do «Vitaminas», mas porque são pouco dadas a leituras e, sobretudo, porque quando fazem que lêem a sua escolha se limita àquelas resmas de papel que deveriam ter ficado honestamente em branco, para redenção dos nossos pecados.
Há uns tempos, numa das filas do «Jumbo», um síntipo da espécie declarava, assaz ufana, ter lido o livro de José Rodrigues dos Santos, «O Símbolo Perdido» (sic), o qual lhe ensinou «muitas coisas em que nunca tinha pensado», tendo ficado até a «conhecer dentro dos muçulmanos os seus fanatismos». Não vomitei (as batatas fritas do «Pinóquio» não mereciam tamanha desconsideração) mas fiquei desconcertado, e de tanto rir até me nasceu um pêlo no sobrolho. O resto é história: visitei a «FNAC» e procurei «O Símbolo Perdido», último opus de Rodrigues dos Santos, que infelizmente não encontrei (também já não havia nenhum «Deepak Chopra», referido bastas vezes, em tom ignorantemente elogioso, pela «amiga» da nossa suburbana). O resto do dia foi uma desgraça e parece, até, que desde então perdi um pouco a alegria de viver.

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Pandemia da náusea

A verdade é esta: neste querido país é mais perigoso ter «namorado» do que apanhar a gripe A.

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O livro



(When on board HMS ‘Beagle’ as naturalist, I was much struck with certain facts in the distribution of the organic beings inhabiting South America, and in the geological relations of the present to the past inhabitants of that continent. These facts, (…) seemed to throw some light on the origin of the species – that mystery of mysteries.)

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23.11.09

Comunidades

A confiança na razão é sempre determinada pela solidez da fé & assim será depois das visões calmas das manhãs. Os autocarros são amarelos por opção - mas não por opção divina. Um pensamento espúrio, ditado pelo jugo feminino do orvalho. Resta a desolação: o autocarro engalanado pelos trajes sintéticos dos operários, dos estudantes e demais madrugadores, os cães que simulam o coito em postes mal iluminados, esses arbustos raquíticos que oferecem o verde ao lixo & a anatomia vertical às brisas, se as houver.
Pisou os degraus com peso comedido, contou o dinheiro (ainda antes de levar a mão ao bolso). A impaciência do motorista reflectiu-se nos gestos coordenados do seu corpo, um euro & mais quarenta cêntimos, confere, uma dádiva em troca da distância. Encolhi os ombros, desejei-lhe boa viagem (para onde quer que fosse) &, mais tarde, acrescentei duas fotos do meu mais novo (o Ruben) ao Facebook das minhas próprias perambulações.
O dia ainda está a começar. O meu mais novo não merece qualquer comentário.

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22.11.09

Passeio Público

(É já amanhã [foi ontem])
Os primeiros anos são sempre os melhores: as caras são frescas e as maçãs também. O arroz é de tomate, a faneca (nada menos que fresquíssima) acompanha. A fruta é tosca, mas o sabor é inconfundível: a César o que é de César, à laranja o que é da laranja. As couves conhecem-se pelo nome (penca, galega, flor, tronchuda, etc.). Há muito mais no seu nome que algumas folhas, filamentos e caule. Há prazeres, e gostos, distintos.

Mais tarde, tudo muda. Imperceptivelmente. Fatalmente. O tempo encurta, deixamos de nos importar com o que comemos. Tornamo-nos reféns dos esquemas miseráveis de polimento da fruta nas grandes superfícies comerciais. Dedicamo-nos a eliminar os pedaços de carne ou vegetais que há muito foram eliminados. Regressámos à escuridão: comemos apenas quando temos fome, alimentamo-nos mal e inquietos com o tempo.

Persuadido da importância do plano rudimentar, mas prudente, de comer sobretudo aquilo que existe num raio de cem quilómetros (duzentos, vá lá), considero útil a adopção de uma estratégia conservadora, mas eficaz: não abrirmos mão daquilo que é manifestamente bom. Andámos a bisbilhotar o futuro mas está na hora de voltarmos ao passado.

De qualquer modo, há um pequeno entrave à bendita consumação desta profissão de fé: não é fácil, digamos assim, encontrar produtos de “agricultura tradicional” (embirro com o termo “agricultura biológica”: toda a agricultura é “biológica”, mesmo a mecanizada e intensiva; prefiro chamar-lhe “agricultura tradicional”) fresquinhos, abundantes e baratos (a sinonímia bendita, glorificada por Miguel Esteves Cardoso).
Felizmente, existe o “Mercadinho do Botânico”, que se realiza todos os sábados no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e que constitui um bom estímulo para quem defende rotinas sustentáveis de consumo e, sobretudo, para quem gosta de escapar aos sabores uniformes do plástico.O que mais impressiona na Alameda de S. Bento (no Jardim Botânico) é o ar do tempo, pachorrento, luminoso, agradável; o aspecto delicioso de cada peça de fruta, ou de cada pé de feijão, resultante de uma mescla honesta de vanguarda e tradição. É já amanhã.
(Anteontem, 20/11, no Jornal de Notícias)

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18.11.09

Bentham

É interessante a recente valorização da ciência pouco confessável das vigilâncias. Uns gostam, outros não gostam, outros ainda gostam e não gostam (em concomitância e de acordo com o que lhe dá mais jeito). Sempre me pareceu que a hipocrisia é, talvez, o pior defeito de todos os que afligem este desgraçado país. Assim é: na mesma conversa elogia-se o «Estado de Direito», e a possibilidade de se realizarem (e usarem) escutas ilegais. No café perora-se contra o chip das matrículas, e na rua valoriza-se uma vigilância persistente e panóptica, desde que feita sobre pessoas que manifestamente detestamos. O hipócrita transcende o próprio ego: é uma pessoa diferente em cada circunstância.

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Culpa o Crick, o Watson e (há que fazer-lhe justiça) a Rosalind Franklin*


(Nada de Dois, de Pedro Mexia, chega às livrarias dia 20 e será lançado dia 19, amanhã, às 19h, no Teatro Aberto, em Lisboa.)
*VASCO Isso é um bocado básico, não é, «o que é que tu queres ouvir»? Quero a minha campainha, o meu torrão de açúcar, a mão na crina e
[pausa]
não tenho mais metáforas animais, embora ajudasse ser um bocadinho mais animal.
JOANA Estás a dizer que eu gosto de animais?
VASCO São os genes, minha querida. Vai-te queixar ao Mendel.

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14.11.09

Passeio Público

(Inversão das transparências)

Já vivi tempo bastante para deduzir o que se esconde nas entrelinhas. Ora, sendo verdade que o presidente da Câmara Municipal Coimbra (CMC), Dr. Carlos Encarnação, constatou finalmente, após oito anos, ponderosas razões para afastar a comunicação social de uma boa parte das reuniões camarárias, devo tentar identificar uma dimensão oculta nesta inusitada exteriorização do poder discricionário.

A interdição é, de certo modo, paradoxal. O Dr. Encarnação aprecia, decerto, o controlo das câmaras – o olhar permanente das câmaras de vigilância que tornam as ruas da Baixa (e os caminhantes abstractos) transparentes à gestão securitária do poder. A decisão de afastar os jornalistas das reuniões da Câmara (a fantasia de um “canal de desatenção”), em concomitância com a videovigilância nas ruas da Baixa, evidencia um desejo de voyerismo unidireccional: o poder pretende ver sem ser visto. A observação (a exposição permanente) é a pré-condição essencial do conhecimento. E é preferível conhecer os outros sem que nos demos a conhecer (é dos livros).

No caso, assistimos a uma inversão das transparências: a função autárquica, escrutinizável por direito, esconde-se. Não obstante, incentiva a observação da vida privada dos conimbricences.
Cada palavra, gesto ou acção releva dos interstícios mais ou menos profundos do córtex cerebral. Quando falamos ou agimos (isto é, quando comunicamos) também exteriorizamos as nossas concepções do mundo. A linguagem despe o pensamento, o lugar do bem e do mal. As pessoas traem o seu espírito em cada gesto que oferecem à rua.

Porém, nem tudo é novo nesta viagem: partes do discurso mantêm-se. Lateraliza-se a culpa: a ponderação do regime não sobrevive na presença de jornalistas, o governo (o “Estado”) ignora a cidade de Coimbra, e o diabo a sete. O Dr. Carlos Encarnação, confiado de fresco no mandato derradeiro, não renega a sua natureza: confia demasiado na dramaturgia do Calimero em interacção simbólica com a omnisciência do deus que não quer ser visto.
(Ontem, 13/11, no Jornal de Notícias)

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13.11.09

Dispensável

Se aprendi alguma coisa com a novela da vacinação contra a gripe A é que, para as autoridades sanitárias portuguesas, sou uma pessoa dispensável. No caso, ainda bem. Se fosse um dos few «indispensáveis» recusava certamente a vacina. Não é que não acredite no Pandremix (os efeitos secundários dos fármacos nem sempre são maus, vide o Viagra: ah pois, ladrão!), eu não acredito é na doença.

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12.11.09

Um muro para durar: uma homenagem aos sacos de cimento da Cimpor

Agora que se comemora o vigésimo aniversário da queda d'«O Muro», lembro-me de uma coisa que tem de ser dita, imediatamente e com alguma precipitação vocabular (o caso é urgente, não vá a efeméride ser esquecida): é mais fácil destroçar um muro que construí-lo. Eu sei do que falo. Já erigi um muro (uma muralha!), com a ajuda do meu primo e do meu padrinho – um muro mais alto que baixo, feito em pedra de lei, raçudo e sem graffittis. Foi há 15 anos, mais ou menos. Ainda se mantém nas traseiras da casa dos meus pais, assoberbado, persuadido da sua importância histórica, demarcando com zelo uma estrada da junta de uma fiada de tomateiros.

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11.11.09

Estética da inexistência

A barafunda dos cães não é decerto uma prova de existência - os pânditas devem sabê-lo melhor do que eu - mas uma reacção séria ao desagrado canino aspira a mais que uma corrida piedosa. Isto é, se houver pedras por perto (havia).

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7.11.09

The beginning

Passeio Público

(Aparências)
Um olhar superficial revela apenas uma fracção parcelar da natureza das coisas. Aparentemente, a Universidade de Coimbra (UC) passa por um bom momento, abainhado por um conjunto de circunstâncias que erigem um muro de optimismo em redor das faculdades.
De facto, a UC é a instituição académica portuguesa mais bem classificada num ranking internacional publicado pelo jornal inglês The Times. A venerável universidade conimbricense ascendeu, este ano, à 366.ª posição a nível mundial, e é mesmo considerada a terceira melhor do espaço da lusofonia e a sexta melhor da Península Ibérica. Coincidentemente, o seu orçamento para 2010 ultrapassa, pela primeira vez, os 200 milhões de euros; e a candidatura a Património da Humanidade apronta os derradeiros detalhes da apresentação final à UNESCO. Não há como evitar a máxima de Pangloss: tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis.
Infelizmente, quando aproximamos o olhar descobrimos pequenos defeitos, ou irregularidades, que dilapidam o capital de optimismo que antes acumulámos. O orçamento é, na aparência, desafogado; contudo, apenas 30% (60 milhões de euros) das verbas serão canalizadas para unidades não relacionadas com o pagamento de pessoal. A investigação científica, por exemplo, será contemplada com 20 milhões de euros. Eu acho que é pouco. O prestígio das universidades alicerça-se na marca pedagógica e, sobretudo, na qualidade da sua investigação científica. Que, evidentemente, não se faz sem dinheiro. O corte no Orçamento de Estado das verbas para o ensino superior é o principal responsável pela inadequação das verbas destinadas à investigação. Quanto a isso, há pouco a fazer.
Apesar de tudo, o momento é extremamente positivo. O espaço simbólico da UC pode ter diminuído, mas o mundo é constituído por factos e não por nostalgias. E a Universidade de Coimbra tem sabido crescer, apesar das dificuldades orçamentais (mais do que triviais nas universidades portuguesas). Sete séculos de história e um futuro: que se cumpram na velhice as promessas da juventude.
(Ontem, 06/11, no Jornal de Notícias)

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4.11.09

Nambikwara


(Eugène Delacroix, 1850, Étude pour Marphisa, Curtis Bauer Collection)
Acordo em barulho. É esta mania de falar alto, o regalo de qualquer conversa, o cenho carregado das missas. Velhas que se não decidem pelas palavras e tarde hão-de odiar-me por elas.

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Wikipédia


Dossier temático: Claude Lévi-Strauss
O antropólogo que odiava viajar: entrevista com Claude Lévi-Strauss
Carlos Câmara Leme
O código Lévi-Strauss ou o mundo como correlato objectivo
Filipe Verde
Kant na noite do Ártico: uma revisitação do “pensamento selvagem”
Luís Quintais
A máscara por detrás do véu do estigma: cabe o pensamento de Lévi-Strauss numa reflexão sobre a experiência da lepra?
Alice Cruz

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3.11.09

Alteridade radical


(Claude Lévi-Strauss, 1908-2009)
Lévi-Strauss morreu. Era da família.

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2.11.09

Um novo começo

O Público inicia hoje uma nova etapa da sua história. Entretanto, as velhas encheram os autocarros da manhã e começaram a limpeza das campas, entre áleas recolhidas e velas à espera de luz. Flores, homenagens póstumas. Hão-de recordar os seus defuntos - e eu penso como é difícil trazer de volta o passado e os seus despojos, como a vida é mesmo assim, uma sucessão de mortos que, por alguma razão pouco clara, julgamos ainda vivos.

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