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22.11.09

Passeio Público

(É já amanhã [foi ontem])
Os primeiros anos são sempre os melhores: as caras são frescas e as maçãs também. O arroz é de tomate, a faneca (nada menos que fresquíssima) acompanha. A fruta é tosca, mas o sabor é inconfundível: a César o que é de César, à laranja o que é da laranja. As couves conhecem-se pelo nome (penca, galega, flor, tronchuda, etc.). Há muito mais no seu nome que algumas folhas, filamentos e caule. Há prazeres, e gostos, distintos.

Mais tarde, tudo muda. Imperceptivelmente. Fatalmente. O tempo encurta, deixamos de nos importar com o que comemos. Tornamo-nos reféns dos esquemas miseráveis de polimento da fruta nas grandes superfícies comerciais. Dedicamo-nos a eliminar os pedaços de carne ou vegetais que há muito foram eliminados. Regressámos à escuridão: comemos apenas quando temos fome, alimentamo-nos mal e inquietos com o tempo.

Persuadido da importância do plano rudimentar, mas prudente, de comer sobretudo aquilo que existe num raio de cem quilómetros (duzentos, vá lá), considero útil a adopção de uma estratégia conservadora, mas eficaz: não abrirmos mão daquilo que é manifestamente bom. Andámos a bisbilhotar o futuro mas está na hora de voltarmos ao passado.

De qualquer modo, há um pequeno entrave à bendita consumação desta profissão de fé: não é fácil, digamos assim, encontrar produtos de “agricultura tradicional” (embirro com o termo “agricultura biológica”: toda a agricultura é “biológica”, mesmo a mecanizada e intensiva; prefiro chamar-lhe “agricultura tradicional”) fresquinhos, abundantes e baratos (a sinonímia bendita, glorificada por Miguel Esteves Cardoso).
Felizmente, existe o “Mercadinho do Botânico”, que se realiza todos os sábados no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e que constitui um bom estímulo para quem defende rotinas sustentáveis de consumo e, sobretudo, para quem gosta de escapar aos sabores uniformes do plástico.O que mais impressiona na Alameda de S. Bento (no Jardim Botânico) é o ar do tempo, pachorrento, luminoso, agradável; o aspecto delicioso de cada peça de fruta, ou de cada pé de feijão, resultante de uma mescla honesta de vanguarda e tradição. É já amanhã.
(Anteontem, 20/11, no Jornal de Notícias)

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11.11.09

Estética da inexistência

A barafunda dos cães não é decerto uma prova de existência - os pânditas devem sabê-lo melhor do que eu - mas uma reacção séria ao desagrado canino aspira a mais que uma corrida piedosa. Isto é, se houver pedras por perto (havia).

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14.10.09

Manga curta

Calor e ainda mais: a meteorologia (ou Al Gore) faz do ano um triste itinerário.

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25.6.09

Passeio Público

(Pescar no aquário)

Numa altura em que o mundo se encontra sepultado na escuridão de uma crise de proporções indizíveis, a inauguração de um empreendimento de aquacultura em Mira (distrito de Coimbra) aviva, senão um entusiasmo desmedido, pelo menos alguma esperança na possibilidade de salvação do enfraquecido sistema económico português.

Inaugurado pelo primeiro-ministro José Sócrates, o projecto “Acuinova” (do grupo galego “Pescanova”) poderá criar cerca de 800 novos postos de trabalho, entre “empregos directos” e “indirectos”, na zona de Mira, produzirá entre sete a dez toneladas de pregado por ano, e irá contribuir muito para o aumento das exportações.

O maior empreendimento de aquacultura de peixes planos do mundo (anoto o presumível regozijo dos portugueses perante tamanho sucesso, idêntico ao júbilo antes manifestado pelo valor da transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid ou pelas dimensões do novo centro comercial na Amadora) assemelha-se a um inventário de bem-aventuranças, mas nem tudo é inocência e bondade.

A Quercus é quem o assevera: o viveiro encontra-se situado junto à orla costeira, em zona de rede Natura 2000, e vai certamente destruir dunas e incrementar a erosão costeira. O Ministério do Ambiente desmente a Quercus: todas as normas ambientais foram escrupulosamente cumpridas. Acredito que sim. Espero que sim. Mas desconfio.

Recordo que só quando saí de casa dos meus pais (e fui obrigado a fazer as compras da semana) é que percebi que a maioria dos peixes à venda nos supermercados provinha, não do mar largo, mas de aquários de criação. O único (e breve) contacto que tive com a aquacultura, e com os peixes crescidos nessas quintas de criação intensiva, foi na Serra da Estrela, num dos viveiros de trutas da região – provavelmente durante os anos de 1990. Não gostei do que vi: o espaço era exíguo, os peixes eram autênticos colossos e pareceu-me que o canibalismo era a principal fonte de sustento dos peixes maiores. Mas eu era muito jovem, e um pouco fantasioso – não há-de ter sido nada assim.
(Ontem, 24/06, no Jornal de Notícias*)
*As minhas crónicas no JN passam a ser à sexta-feira.

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20.2.09

Passeio Público

(Co-incineração suspensa)

A defesa intransigente do Choupal, o ressurgimento das hortas urbanas, a resistência à instalação de uma central termoeléctrica em Taveiro, e até a projectada construção de um fluviário dedicado, em exclusivo, à fauna piscícola do Mondego, modelam-se numa certa forma de pensar o mundo, a ecologia, que reprime o lucro em favor da consciência ambiental e da vulgarização do bem-estar – incluindo o das pedras, plantas e demais bichezas. O ambiente é, definitivamente, o tema do momento em Coimbra. Faço votos para que seja longo o seu caminho.

E agora, de novo, Souselas. Depois de anos de luta e tiros perdidos, de avanços e retrocessos, uma vitória significativa dos opositores da queima de resíduos industriais perigosos (RIP) nas instalações da Cimpor reabre definitivamente o dossier da co-incineração. O Tribunal Central Administrativo do Norte suspendeu o processo na cimenteira de Souselas, de acordo com Castanheira Barros, o representante de um grupo de cidadãos que moveu uma acção cautelar contra a licença de exploração da incineração de RIP (poderia arriscar a interpretação destas iniciais mas abstenho-me de tal experiência).

A referência ao discurso que Churchill realizou em Londres, em 10 de Novembro de 1942, é quase inevitável: não será o fim, nem sequer o princípio do fim, até porque longas vão as hostilidades e o Ministério do Ambiente e a Cimpor vão, com certeza, recorrer da sentença, mas talvez o fim do princípio de um longo conflito que confronta a saúde e a tranquilidade da população de Souselas e Coimbra com os propósitos lucrativos da cimenteira.

É claro que a co-incineração, enquanto processo técnico, pode ser perfeitamente inócua para o meio ambiente. Mas o contrário parece ser mais provável: a cimenteira é frequentemente encoberta por nuvens de pó, a massa vegetal de Souselas desaparece, lenta e inexplicavelmente, os peixes morrem no rio Botão. O próprio acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte refere a “existência de um risco de concentração de poluentes susceptíveis de aumentar o risco de contrair certas doenças por parte de quem vive nas proximidades”. Daquelas chaminés não escapam dádivas benignas.

A decisão do Tribunal Central Administrativo do Norte distancia Souselas dos desastres possíveis que a inconsciência ambiental sempre acarretam, pelo menos por algum tempo. A contenda desloca agora o seu eixo para o Choupal.
(Ontem, 19/02, no Jornal de Notícias)

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