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29.2.08

Les desserts

Como começar? Mais uma vez, as palavras. A confusão densa das mãos destruídas. Palavras assíncronas, de um pouco depois. A verdade das palavras tardias. Não sei o que isso é. Mesmo assim, pestanejando. Culpando o tempo e o que fomos. Sei lá. O que interessa, afinal?

Anódino, Esmaecer, Rapariga, Rapaz, Vela, Metacarpo, Redenção, Arcano, Colher, Tessitura, Riso, Póstumo.
(Bruno, Barradas e quem quiser)

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28.2.08

Wond'ring how your pains were eas'd

Começo, talvez, pelo princípio. Juro que não é birra, apenas o seguimento cego das regras. O meu corpo habita ainda o espírito atávico de um camponês primevo, neolítico (de estreita mundividência, asseguro-vos). Sou um pouco filistino. Sabem o que isso é, a dor que isso me causa e os problemas que isso traz à minha condição. Procurei melhorar o meu parco sentimento estético. Li os Clássicos e prestei-me a outras coisas menos recomendáveis (cheguei a ver o "Alexander Nevsky" do Eisenstein sem beber sequer uma Mini). Permaneço nas trevas. A erudição fingida não serviu os meus propósitos de elevação espiritual, não fujo a essa trágica constatação. Contudo, a minha pele maloia não segue intocada. Conto: ouvi Purcell cantado por Alfred Deller e pressenti neste uma moçoila de perna grossa e seio amplo. Juro. Nem me lembrei dos castratti. E muito menos dos contratenores. Coitado do Deller, sujeito a estas injustiças póstumas. Uma vez uma senhora francesa disse-lhe: "Monsieur, vous êtes eunuque". Acham que o Alfred se abespinhou? Não, nunca. O cavalheiro era de estirpe maior. Replicou (certamente desdenhoso): "I think you mean 'unique', madam". "Unique" talvez não. Maior, sim. Ouçam esta "Music for a while" interpretada pelo Comandante (do Império, do Império).

E agora pelo Philippe Jaroussky.

Magníficos. Não deixo de ser provinciano e ignaro só porque gosto destes dois cavalheiros de voz fininha, desta música, do Henry Purcell (e do Buxtehude) mas sou muito mais feliz. Muito mais feliz.

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27.2.08

Arca de Noé - III Classe (repeat)

Ocupas todos os espaços do meu coração (diz). Salvaste a minha vida da mediocridade (agradece). (A perfeição não existe) dirás, equivocado (como quase sempre).

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26.2.08

Encontro desabitado

Li ontem (em menos de uma hora, julgo eu) a novela póstuma de José Cardoso Pires, Lavagante - Encontro desabitado. Foi consolador (ou talvez não) encontrar já tanto do escritor excelentíssimo em tão parco volume. O livrinho vale pelo ineditismo e pela inconsciente vontade em mostrar alguma dessa sombra potencial do Cardoso Pires por vir.

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Cultura #3


[O Porto Oriental no final do século XIX por Jorge Ricardo Pinto]

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25.2.08

Arca de Noé - III Classe

Nasceu uma outra serenidade no meu corpo, um desejo ressuscitado de água.

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23.2.08

French music #nineteen

St. Vincent - Marry me

[We'll do what Mary and Joseph did without the kid]

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22.2.08

Passeio público

Ontem, 21/02, no Jornal de Notícias
Começo por intimar a memória. Uma outra história, ligeiramente diferente da que testemunhamos agora. Talvez seja essa a derradeira esperança, o último alento: conceber o presente como um sucedâneo mais estimável, apesar de tudo, do que foi, do que aconteceu e do que quase desapareceu nas escuridões e cesuras selectivas do passado.
Nas horas crepusculares do dia 25 de Novembro de 1967, entre as 19.00h e as 24:00h, uma calamidade desceu sobre a cidade de Lisboa e os seus arrabaldes. Cinco horas de chuvas torrenciais, diluvianas, que transformaram Lisboa e arredores num mundo declinado do Apocalipse de João.
A veemência das chuvadas e a ascensão infrene das águas entravaram a capacidade de escoamento das ribeiras, sarjetas e esgotos; em consequência, casas, estradas, pontes, carros, animais e pessoas baquearam diante da amarra devastadora da tempestade. Lisboa desfigurou-se e achou-se irreconhecível, as zonas mais baixas e as avenidas de Ceuta e da Índia submergiram num abismo de água e lama, na Praça de Espanha e a Avenida da Liberdade os excepcionais meios de transporte eram barcos. As localidades da bacia do Rio Trancão (Urmeira, Patameiras, Frielas e Póvoa de Santo Adrião), Odivelas ou Bucelas foram severamente afectadas. Os bairros de lata, particularmente, soçobraram perante o furor das chuvas.
Para além da contagem “oficial”, ficcionada e adulterada pelo regime de António de Oliveira Salazar, estimam-se que morreram mais de sete centenas de pessoas e que mais de mil ficaram sem casa para morar.
Quarenta anos depois, a Área Metropolitana Lisboa amanheceu debaixo de água (permitam-me o exagero semântico). Na noite e madrugada de segunda-feira passada choveu mais que o normal (coisa nunca vista em mês de Inverno…) e as águas tomaram a cidade como refém. As cheias dos últimos dias comparam-se mal com as de 1967. Há mortes a lamentar mas muitíssimo menos. Os danos materiais são incomparavelmente menores.
Podemos descansar sobre a ideia de que algo mudou desde então. O planeamento urbano, o desaparecimento dos bairros de lata e o aperfeiçoamento técnico das construções, por exemplo, tiveram como efeito uma considerável diminuição do arbitrário essencial: a discricionariedade da natureza.
E, no entanto, as cheias repetem-se sempre que chove mais do que é devido ou conveniente. O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles vem denunciando de forma reiterada a calamidade que subjaz a construção desenfreada em leitos de cheia. A densidade urbanística nos vales do Trancão, do Jamor, de Odivelas ou da Laje cresceu de forma exponencial. Por outro lado, a impermeabilização dos solos aumentou drasticamente. Subsistem, pois, ao contrário do que afirma o Ministro do Ambiente, Nunes Correia, algumas pré-condições de cheia dependentes do ordenamento do território.
Não esqueçamos, porém, que a negligência que as autarquias dispensam à manutenção de esgotos, valas e canalizações é explícita. A chuva apenas torna perceptível o desleixo e imprevidência: o lixo acumula-se, as ribeiras agigantam-se para além das margens naturais, os esgotos entopem.
A acídia – a negligência – enforma o falhanço dos homens. Claro que, no fim do dia, depois de contabilizados os prejuízos, é mais fácil culpar o aquecimento global e esquecer as responsabilidades.

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21.2.08

Os livros ardem mal #2

O melhor blog português sobre livros é (e desculpem-me todos os outros, que os há e dos bons) este.

Exemplae:
Um livro estranho, porque frequentemente mal escrito; e um livro estribado numa série de preconceitos ideológicos demasiado evidentes. Mas um livro importante, pelas duas ou três coisas que deixa estabelecidas de forma não direi definitiva – a ocorrência é daquelas cuja modalidade de existência subtrai, em muitos casos para sempre, testemunhos e evidência – mas muito mais definida: 1) que em resultado do 27 de Maio de 1977, em Angola terão sido mortas cerca de 30 000 pessoas, com o pretexto de serem simpatizantes de Nito Alves (um massacre, que o seria sempre mesmo que esse número descesse para metade ou um quarto, números sempre superiores aos do Chile de Pinochet); 2) que Agostinho Neto, que afirmou a propósito da intentona: «Não haverá contemplações. Certamente não vamos perder tempo com julgamentos», assinou documentos autorizando execuções e, no mínimo, foi complacente com muitas outras; 3) que nos tristemente famosos interrogatórios aos detidos colaboraram, de forma variada e com graus diversos de empenhamento, escritores como Pepetela, Costa Andrade, Manuel Rui ou Luandino Vieira. Ou seja, dois futuros prémios Camões. É certo que Pepetela já tratou em romance o «desencanto da revolução». E que Luandino se tornou «o recluso de Cerveira» e não aceitou o prémio. No que andou muito bem, pois há algo de inaceitável na associação do nome de Camões – ou seja: o nome da poesia - a quem pactuou com a infâmia. [Osvaldo Manuel Silvestre sobre o livro Purga em Angola de Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus]

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Ronaldo, Quaresma e outros problemas sentimentais #2

O subúrbio, a auto-estrada, o centro comercial, a bomba de gasolina: limites topográficos de privação sensorial. Espaços de cultura transiente, de omissão relacional, identitária e histórica. Os não-lugares (se tencionarmos frequentar Augé) onde até a realidade irrompe do simulacro; onde tudo é inventado, o aborrecimento, o tédio, a passividade. As paisagens desoladas onde as luzes permanecem acesas mas as pessoas se retiram de novo para a escuridão.

Perante isto, resta a alienação distópica dos indivíduos. O futebol, diz-nos Ballard, é a derradeira esperança de violência da sociedade. Definindo-se numa nova ordem social, baseada na energia e na emoção, os adeptos mais subversivos re-dramatizam as suas vidas através da violência e da agressão, re-primitivizam-se e entretecem um código radical que nega o bem e o mal em favor de uma patologia sublimada. Uma ideologia redentora: a moral cede perante a vontade, a vontade cede perante a loucura.

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20.2.08

Elective insanity

‘People are never more dangerous than when they have nothing to believe in except God.’
‘But what else is there to believe in?’
‘Nothing. Except madness.’
[J.G. Ballard, Kingdom Come, pág. 104]

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19.2.08

Cultura #dois


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Cultura #um

A Editorial Caminho e a Livraria Byblos têm o prazer de convidar V.Exa. para a apresentação do livro Ritos de Passagem, de Paula Tavares, com figurações de José Luandino Vieira.
Na sessão estarão presentes os autores que falarão da obra. O evento realizar-se-á no próximo dia 20 de Fevereiro, pelas 18:30 horas no Auditório da Livraria Byblos [Amoreiras, Lisboa].

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18.2.08

Estéticas da morte #trinta e um

Não julgues que o coveiro vai cavar mais fundo, ou mais a direito, por saber que é para ti a vala definitiva. Aquela noite perene é ainda um destino só teu. As mãos do coveiro não animam na morte e nos mortos que ela semeia. Abraçado à enxada, enquanto fuma um cigarrinho trapaceiro, talvez vislumbre na geometria branca do cemitério as coxas de uma infindável, inesquecível, rapariga dos subúrbios. Não te julga a ti nem a quem te matou. O romântico coveiro romântico. O indivíduo aprisionado no cliché. Quem sabe alguma coisa sobre a criatura?

O vento sopra o regresso das mãos à tua vala, o falhanço dos homens remanesce em dedicatórias póstumas no mármore indiferente das campas.

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French music #eighteen

Guild of Funerary Violinists - The Sombre Coquetry of Death


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Os livros ardem mal

17.2.08

Look-a-like



[Mayra Andrade - 29 de Fevereiro, Coimbra Pavilhão Multidesportos]

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14.2.08

Passeio público

Ontem, 13/02, no Jornal de Notícias
A cultura em Coimbra não há-de baquear como um rei vencido num tabuleiro de xadrez; não há-de cair ou declinar perante o reiterado filistinismo programático da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). E mesmo que caísse (agouro inadmissível), já teria arrojado um mobilizador grito de sedição e revolta. Os conimbricenses, e não só, arregimentaram-se em redor de um texto (“Pelo Direito à Cultura e pelo Dever da Cultura!”) que denuncia a inépcia das políticas culturais para a cidade promovidas pela CMC, pelo seu Presidente e, sobretudo, pelo seu Vereador da cultura. O manifesto desafia os cidadãos e a cidadania possível: mais de mil pessoas já o subscreveram (e leram). Entreteceram o seu nome ao desassossego e aos anseios expressos numa declaração que é já o avatar de uma outra, publicada em 2005.

Entretanto, a cultura resiste como pode, praticamente sem ajudas financeiras da autarquia. Emulando o Teatro Pobre, inspirado pelo polaco Jerzy Grotowsky, despojado de figurinos e cenário, de luz e de música (e até de texto), o refúgio da cultura é a “pobreza”; o estado de penúria material (mas não espiritual) que, se por um lado, coarcta a capacidade logística dos vectores culturais, por outro lado, força e instiga a criatividade e mitiga a “servidão” perante o poder que “paga” a lealdade e a complacência dos artistas e dos agentes culturais através do mecenato institucional.

Partir sem reunir alimento para a jornada é ingenuidade de andarilhos amadores. Quanto aos profissionais, a história é outra. Sem alternativa, cedem perante o despotismo do metal vil: para sobreviver carecem de dinheiro e este tem que vir de algum lado. Os mais expeditos safam-se, entre subsídios e esmolas de circunstância. Ou arranjam mecenas em troco da peregrinação e das promessas implícitas. Os mecenas sempre tiveram um papel crucial no fomento da Cultura e das artes. Leonardo, que não era nenhum burro, sabia-o. Tiepolo e Cranach também. E outros que seria fastidioso enumerar.

Em Portugal, a tradição de mecenato privado (aristocrático ou burguês) não existiu nunca. O patrocínio da cultura é feito, quase em exclusivo, pelo Estado e pelas autarquias. Em Coimbra deveria cumprir-se a norma: a cultura orçamentada pela Câmara com uma estratégia cultural pragmática e bem delineada; acautelando o bem-estar dos agentes culturais da cidade e evitando, porque não?, a dependência extrema de subsídios. A regra é, porém, o esquecimento iterado. Opondo-se à decadência cultural da cidade, poucos. Lembremos, por exemplo, o esforço invulgar que vem sendo posto na programação cultural da FNAC ou no mensário de actualidade literária “Os livros ardem mal”, co-organizado pelo TAGV e pelo Centro de Literatura Portuguesa da UC.

Perante a indiferença, o desinvestimento e, sobretudo, a vacuidade babélica das políticas culturais da CMC, remanesce o desalento das mãos estendidas. A cultura, em Coimbra, sobreviverá definhando na melancolia do abandono institucional. Mas os conimbricenses reconhecem os culpados, a vaga de repúdio é implacável.
* Por lapso, a crónica saiu no jornal com o título "Crítico literário".

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13.2.08

Untreatable disease

Henry Purcell nasceu provavelmente em St Ann's Lane, Old Pye Street, Westminster. Não é que isso interesse muito; afinal a música não precisa de prolegómenos chatos ou de biografias insistentes. Apetece ouvir, apenas. Já foi bom: Shakespeare, Guild of Funerary Violinists e Purcell. A vida não exige demasiado de nós.

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12.2.08

The devil has already poisoned the wine

Deixa estar, não penses mais nisso, foi tudo uma farsa, uma bela farsa. Quinze dias depois, sete meses depois, também é por isso que foi uma farsa, uma inominável farsa. Antes disso foi ainda uma farsa e a culpa de um só farsante, depois de mais um e um mais um dá dois (nem preciso de contar pelos dedos). Não pensemos mais nisso, uma farsa é o que é, nem mais nem menos, apenas isso, uma farsa. Eu sei o que ficou da farsa, o estigma nas peles que restam. Vou guardar o que ficou da farsa, criar esse resto com ternura, não penses mais nisso, não vou deitar tudo fora apenas porque foi tudo uma farsa, uma bela farsa.

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11.2.08

Estes dias de canícula

Era na Itália, e no século XVII, que certa princesa dizia, ao entardecer de um dia abafadíssimo, pegando gulosamente num gelado: Que pena não ser pecado!
[Stendhal, Crónicas italianas, pág. 120]

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10.2.08

Estes livros com interesse

Recebi muita roupa, muitos livros e menos dinheiro do que precisava, é o normal. Dos livros: de uns gostei mais, de outros gostei menos. Dos que gostei mais, este
foi o que gostei mais. E ainda nem o li na totalidade (hei-de fazer a crítica, sim senhor). O Henrique Fialho é, como dizê-lo sem parecer possidónio?, um grande escritor. Julgai vós mesmos este pequeno apontamento Borgesiano:
19. Quando se olhou ao espelho, o espelho ficou confuso. Não sabia se o princípio de todas as coisas seria ele próprio ou o infinito.
[Henrique Manuel Bento Fialho, Estórias domésticas, pág. 115]

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8.2.08

Passeio Público

Anteontem, 06/02, no Jornal de Notícias
[Marinho de guerra]

Não sei bem porquê mas no rescaldo da eleição do novo Bastonário da Ordem dos Advogados desconfiei imediatamente que, na quietude de zéfiro da justiça, se movimentava enfim um vento provocante e arrasador. O instinto apropriado: finalmente, um Bastonário com pommodoros. Marinho Pinto já marcou território com um odor inconfundível. Quem, como eu, se interessa furtivamente pelo estado da justiça em Portugal, não fica indiferente. Os recados do novo Bastonário têm sido demasiado contundentes para serem ignorados.

Pode-se não gostar do estilo bulldozer, do sotaque ou das gravatas mas não há dúvida que o causídico de Coimbra agitou decididamente as remansosas e lamacentas águas da justiça e política portuguesas e é dos poucos que denuncia sem temor as pequenas misérias que as inquinam. O triunfo de Marinho Pinto, no crepúsculo da “Grande Entrevista” da RTP: a corrupção acha-se de novo na agenda dos meios de comunicação e nas conversas dos portugueses.

Como seria expectável, as afirmações do Bastonário da Ordem dos Advogados transtornaram os agentes da justiça, os políticos e os jornalistas, que prontamente lhe reagiram com um tropel de censuras ou depurando louvores. As críticas foram de espectro largo. Marinho Pinto foi criticado por lançar suspeitas sobre altos dirigentes políticos, por não concretizar as acusações que fez sobre alegados actos de corrupção, por ser demagógico, populista ou meramente queixinhas. Na realidade, as afirmações de Marinho Pinto tiveram um efeito concreto sobre a investigação da corrupção: o Procurador-Geral da República decidiu a abertura de um inquérito que será conduzido pela magistrada Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal.

Parece-me que esta avalanche de criticismo radica daquilo a que Lord Byron chamava “age of cant”, a era da hipocrisia. A fastidiosa hipocrisia que, e recordo as palavras de Stendhal, “tem a imensa vantagem de proporcionar aos tolos motivos de conversa: escandalizam-se quando alguém ousa dizer isto ou aquilo”. Hipocrisia e, talvez, o receio dos estilhaços. A história ainda vai curta.

Termino com uma das “manhas” a que Marinho Pinto aludiu na entrevista a Judite de Sousa: a venda do prédio dos CTT, na Rua Fernão de Magalhães em Coimbra. O caso remonta a 2003 e, na altura, o imóvel valorizou cerca de cinco milhões de euros em poucas horas, tendo sido vendido de CTT à Demagre por 14,8 milhões de euros e, posteriormente, pela Demagre à Gespatrimónio (Grupo Espírito Santo) por 20 milhões de euros. No mesmo dia. Antológico e grotesco. Pavoroso. Mais um caso sumido nas gavetas do olvido. Talvez por pouco tempo.

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6.2.08

The Busby Babes

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5.2.08

The devil has already paid for my soul

Tomarei a tua mão antes que amanheça mas há respostas mais curtas para essa questão mais longa. Esquece a tua fé traída, o mármore negro da tua inconsciência. O sangue antigo de feridas inexistentes cola-se aos teus passos demorados. É cada vez mais difícil tentar a piedade disfarçada dos que partem antes do desalento das mãos estendidas. Não é o silêncio que se faz ouvir.

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4.2.08

The devil is here to make milk from my bones

Esta é uma outra história. Diferente. Melhor, sem dúvida. Talvez não saibas mas a Eneida é já muito mais terna que a Ilíada.

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Suora Scolastica

Vêem-se os cabelos a nascer entre um abraço, esperei por eles nos dias de chuva. Tu sabes como eles são, revoltos e distantes, levados em ombros estreitos. Ocasionalmente secos, penachos de guarda na ombreira do quarto.

O quarto aberto prensa o inverno que resta, se é que ainda resta alguma coisa.

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1.2.08

O dia em que o rei [não] morreu

1908. Those were the days. Perpassava então, na "voz da maledicência"*, a ideia de que o rei D. Carlos vituperava o país, chamando-lhe "piolheira". História apócrifa, certamente. Alfredo Gallis, insuspeitado opositor do monarca, reagia mesmo à anedota com um irónico "mas isso não está definitivamente averiguado"*. Mesmo assim, o zunzum passou indolentemente à história da nação como facto vero e confirmado. E ainda há quem se insurja com tão grosseiro desprezo por Portugal. Isto dito, não me interessa saber se D. Carlos disse ou não que o país era uma piolheira: é que se o tivesse feito, estaria apenas a dizer a verdade.
*Rui Ramos. 2006. D. Carlos. Mem Martins: Círculo de Leitores [5* até à pág. 149, o resto ainda não li]

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Out of the Unknown


[J.G. Ballard, Thirteen to Centaurus]

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