Wond'ring how your pains were eas'd
Começo, talvez, pelo princípio. Juro que não é birra, apenas o seguimento cego das regras. O meu corpo habita ainda o espírito atávico de um camponês primevo, neolítico (de estreita mundividência, asseguro-vos). Sou um pouco filistino. Sabem o que isso é, a dor que isso me causa e os problemas que isso traz à minha condição. Procurei melhorar o meu parco sentimento estético. Li os Clássicos e prestei-me a outras coisas menos recomendáveis (cheguei a ver o "Alexander Nevsky" do Eisenstein sem beber sequer uma Mini). Permaneço nas trevas. A erudição fingida não serviu os meus propósitos de elevação espiritual, não fujo a essa trágica constatação. Contudo, a minha pele maloia não segue intocada. Conto: ouvi Purcell cantado por Alfred Deller e pressenti neste uma moçoila de perna grossa e seio amplo. Juro. Nem me lembrei dos castratti. E muito menos dos contratenores. Coitado do Deller, sujeito a estas injustiças póstumas. Uma vez uma senhora francesa disse-lhe: "Monsieur, vous êtes eunuque". Acham que o Alfred se abespinhou? Não, nunca. O cavalheiro era de estirpe maior. Replicou (certamente desdenhoso): "I think you mean 'unique', madam". "Unique" talvez não. Maior, sim. Ouçam esta "Music for a while" interpretada pelo Comandante (do Império, do Império).
E agora pelo Philippe Jaroussky.
Magníficos. Não deixo de ser provinciano e ignaro só porque gosto destes dois cavalheiros de voz fininha, desta música, do Henry Purcell (e do Buxtehude) mas sou muito mais feliz. Muito mais feliz.
E agora pelo Philippe Jaroussky.
Magníficos. Não deixo de ser provinciano e ignaro só porque gosto destes dois cavalheiros de voz fininha, desta música, do Henry Purcell (e do Buxtehude) mas sou muito mais feliz. Muito mais feliz.
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