O melhor blog português sobre livros é (e desculpem-me todos os outros, que os há e dos bons)
este.
Exemplae:
Miguel Sousa Tavares é, literariamente, uma criatura da promoção, como sabe todo aquele que já quase chocou com a sua versão em cartão à entrada de uma livraria. A sua legitimidade é a dos números - de páginas, de tiragem, de vendas, de lucros -, pelo que se compreende a avareza com que dispõe deles para uso de terceiros, sobretudo se críticos. De certa forma, a situação de MST dá a ver a impossibilidade de a crítica defrontar obras que, antes de existirem enquanto tais, são ocorrências singulares de um sistema de comunicação de massas e de circulação do capital. Esclareço que não acho que os romances de MST não sejam literatura. São-no, de facto - mas são má literatura (e péssima gramática, já agora). [Osvaldo Manuel Silvestre]
Um livro estranho, porque frequentemente mal escrito; e um livro estribado numa série de preconceitos ideológicos demasiado evidentes. Mas um livro importante, pelas duas ou três coisas que deixa estabelecidas de forma não direi definitiva – a ocorrência é daquelas cuja modalidade de existência subtrai, em muitos casos para sempre, testemunhos e evidência – mas muito mais definida: 1) que em resultado do 27 de Maio de 1977, em Angola terão sido mortas cerca de 30 000 pessoas, com o pretexto de serem simpatizantes de Nito Alves (um massacre, que o seria sempre mesmo que esse número descesse para metade ou um quarto, números sempre superiores aos do Chile de Pinochet); 2) que Agostinho Neto, que afirmou a propósito da intentona: «Não haverá contemplações. Certamente não vamos perder tempo com julgamentos», assinou documentos autorizando execuções e, no mínimo, foi complacente com muitas outras; 3) que nos tristemente famosos interrogatórios aos detidos colaboraram, de forma variada e com graus diversos de empenhamento, escritores como Pepetela, Costa Andrade, Manuel Rui ou Luandino Vieira. Ou seja, dois futuros prémios Camões. É certo que Pepetela já tratou em romance o «desencanto da revolução». E que Luandino se tornou «o recluso de Cerveira» e não aceitou o prémio. No que andou muito bem, pois há algo de inaceitável na associação do nome de Camões – ou seja: o nome da poesia - a quem pactuou com a infâmia. [Osvaldo Manuel Silvestre sobre o livro
Purga em Angola de Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus]
Etiquetas: blogues, literatura, livros
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