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22.2.08

Passeio público

Ontem, 21/02, no Jornal de Notícias
Começo por intimar a memória. Uma outra história, ligeiramente diferente da que testemunhamos agora. Talvez seja essa a derradeira esperança, o último alento: conceber o presente como um sucedâneo mais estimável, apesar de tudo, do que foi, do que aconteceu e do que quase desapareceu nas escuridões e cesuras selectivas do passado.
Nas horas crepusculares do dia 25 de Novembro de 1967, entre as 19.00h e as 24:00h, uma calamidade desceu sobre a cidade de Lisboa e os seus arrabaldes. Cinco horas de chuvas torrenciais, diluvianas, que transformaram Lisboa e arredores num mundo declinado do Apocalipse de João.
A veemência das chuvadas e a ascensão infrene das águas entravaram a capacidade de escoamento das ribeiras, sarjetas e esgotos; em consequência, casas, estradas, pontes, carros, animais e pessoas baquearam diante da amarra devastadora da tempestade. Lisboa desfigurou-se e achou-se irreconhecível, as zonas mais baixas e as avenidas de Ceuta e da Índia submergiram num abismo de água e lama, na Praça de Espanha e a Avenida da Liberdade os excepcionais meios de transporte eram barcos. As localidades da bacia do Rio Trancão (Urmeira, Patameiras, Frielas e Póvoa de Santo Adrião), Odivelas ou Bucelas foram severamente afectadas. Os bairros de lata, particularmente, soçobraram perante o furor das chuvas.
Para além da contagem “oficial”, ficcionada e adulterada pelo regime de António de Oliveira Salazar, estimam-se que morreram mais de sete centenas de pessoas e que mais de mil ficaram sem casa para morar.
Quarenta anos depois, a Área Metropolitana Lisboa amanheceu debaixo de água (permitam-me o exagero semântico). Na noite e madrugada de segunda-feira passada choveu mais que o normal (coisa nunca vista em mês de Inverno…) e as águas tomaram a cidade como refém. As cheias dos últimos dias comparam-se mal com as de 1967. Há mortes a lamentar mas muitíssimo menos. Os danos materiais são incomparavelmente menores.
Podemos descansar sobre a ideia de que algo mudou desde então. O planeamento urbano, o desaparecimento dos bairros de lata e o aperfeiçoamento técnico das construções, por exemplo, tiveram como efeito uma considerável diminuição do arbitrário essencial: a discricionariedade da natureza.
E, no entanto, as cheias repetem-se sempre que chove mais do que é devido ou conveniente. O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles vem denunciando de forma reiterada a calamidade que subjaz a construção desenfreada em leitos de cheia. A densidade urbanística nos vales do Trancão, do Jamor, de Odivelas ou da Laje cresceu de forma exponencial. Por outro lado, a impermeabilização dos solos aumentou drasticamente. Subsistem, pois, ao contrário do que afirma o Ministro do Ambiente, Nunes Correia, algumas pré-condições de cheia dependentes do ordenamento do território.
Não esqueçamos, porém, que a negligência que as autarquias dispensam à manutenção de esgotos, valas e canalizações é explícita. A chuva apenas torna perceptível o desleixo e imprevidência: o lixo acumula-se, as ribeiras agigantam-se para além das margens naturais, os esgotos entopem.
A acídia – a negligência – enforma o falhanço dos homens. Claro que, no fim do dia, depois de contabilizados os prejuízos, é mais fácil culpar o aquecimento global e esquecer as responsabilidades.

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