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30.10.07

Tudo o que fiz

Tudo o que fiz chega para preencher uma nova história da infâmia. Páginas gradas de malfeitorias e esquemas e injustiças. A minha mão foi, não tenho pejo em afirmá-lo, criminosa. Tudo o que fiz foi cruel, como quando aquelas alimárias de Deus querem comer e não existe nada para comer senão os semelhantes e elas esquecem-se da decência e da moral e sacrificam-nas à fome. Tudo o que fiz não fui eu que fiz. Mas não quero desresponsabilizar-me dos actos cometidos. Só quero dizer que o que tudo o que fiz foi um outro eu que fez. Arrependimento e castigo. Os dias à minha frente.

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29.10.07

Apanharei espigas atrás daquele em cujos olhos eu achar graça*

Uma silhueta onde antes havia carne e odor de gente. Uma sombra na escuridão. Dirão os físicos que tal fenómeno é impossível mas garanto-vos que a vejo sempre nos recantos mais escuros da memória, demorada, à espera de qualquer coisa que me tem escapado desde o início. A verdade é que a sombra não chega a incomodar-me. São formas indefinidas – mas definíveis e redutíveis a um corpo conhecido. Quis esquecê-la, remetê-la ao oblívio de uma lágrima comida pela areia. A memória é, no entanto, fluida: uma maré de pensamentos. A água que reflui pode não voltar mais à praia. Mas muitas vezes essa mesma água retorna e traz com ela velhos conhecidos. Esta silhueta é isso: um velho conhecido. Deito-me com ela, acordo com ela, tomo o pequeno-almoço com ela, trabalho com ela. Até tomo banho com ela [e ela é tão pudica]. Mesmo sem substância corpórea, creio que esta sombra carrega nela a fisicalidade do que foi, um vestigium vitae de eras passadas. Afeiçoei-me a ela e, por isso, não a quero perder. Ouve:

Sou como Rute. Não me peças que te abandone e deixe de te seguir, porque onde quer que vás irei eu. O mais rígido dos zelotas.
*Rute 2:2

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27.10.07

Um dia vais perceber

Nosce te ipsum? Não. Engana-te a ti mesma.

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Genius

O que acontece é triste: vamo-nos habituando à ausência das pessoas e das coisas que desaparecem. Mais triste ainda: desabituamo-nos de encontrá-las. Tudo isto é triste porque é uma coisa que o coração não é capaz de aprender. Mesmo quando sabemos que uma coisa vai mal, ou não vai chegar a acontecer, o coração acredita, o coração espera, o coração engana. O coração é estúpido.
[Miguel Esteves Cardoso, As minhas aventuras na República Portuguesa, pág. 83]

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25.10.07

Passeio público

Sou cristão de matriz católica, daqueles relaxados. Não sou dado a ritos mas vou comparecendo às cerimónias etnograficamente recomendáveis [Missa do Galo e de Domingo de Ramos, funerais, baptizados e casamentos]. Já fui ao Santuário de Fátima e não posso dizer que tenha ficado indiferente ao lugar. Há ali qualquer coisa, que postulo indefinível, que agita o coração cá dentro.

Qualquer coisa que vai além das pequenas e grandes tragédias que se espraiam sobre os joelhos doridos dos peregrinos ou da incomodidade que provocam as centenas de lojas de lembranças e brindes religiosos (e não só). Toda a gente chora, clama e pede, sem que ninguém saiba muito bem porque chora, clama e pede. É por tudo, talvez. Como disse, sinto mas tenho dificuldades em compreender totalmente.

É que, apesar de cristão, nutro sentimentos antinómicos e contraditórios em relação ao fenómeno religioso de Fátima. Se, por um lado, pressinto na religiosidade que envolve as “aparições” um timbre popular que se aproxima da crença “real”, sentenciosa e não corrompida pelas hierarquias; por outro, recuso a apropriação da fé para fins lucrativos, evidenciada pela miríade de lojas e de vendilhões que tomaram de assalto as imediações do santuário. Repugna-me ainda a recidiva expressão de fé através do auto-sacrifício extremo (o mesmo não é dizer que repugno as pessoas que, livremente, escolhem esta maneira de manifestar a sua fé). Noto que Fátima, enquanto fenómeno mundial de religiosidade, provoca nas pessoas reacções extremas, de aceitação ou de rejeição.

Os temas fatímicos são, actualmente, muitos e diversos. A Cova da Iria de hoje não é certamente a mesma que acolheu as primeiras “aparições” em 1917. Fátima reinventa-se. Tanto ao nível da ideologia como da própria arquitectura. Muitas vezes sob o sortilégio do arrebatamento estéril, da lágrima de êxtase e do “kitsch”.

No passado dia 13 de Outubro foi inaugurada, no Santuário de Fátima, a Igreja da Santíssima Trindade. O imponente edifício, projectado pelo grego Alexandros Tombazis, assim como a Cruz Alta, imaginada pelo alemão Robert Shad, foram alvo de avaliações díspares por parte dos peregrinos. Se a nova igreja recebeu elogios de quase todos, a grande cruz, na sua concepção arrojada e modernista, não foi bem assimilada pelos peregrinos que iam sendo entrevistados ad nauseam por todos os canais de televisão. “Onde é que já se viu Jesus Cristo com a cara quadrada?”, perguntava uma indignada senhora de negras vestes.

A questão urbanística e arquitectónica não é de agora, porém. Fátima é uma manta de retalhos. A cidade cresce sem que se saiba muito bem como. O casario é imponderado e desconexo. Os locais de culto também. O “kitsch” impõe-se esteticamente. O que vale é que os fiéis voltam sempre.

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22.10.07

A muralha #2

Carolina tem os olhos largos e a alma distante. Carolina tem os olhos largos e negros, ao mesmo tempo. A cor das mãos engasga-se no olhar. Já muitos caíram às suas mãos. Carolina caminha em stacatto, suspende o passo final como se fosse um anjo. Como se fosse a olímpica Hera.

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21.10.07

O fim [desistir de andar acordado]

Ninguém esquece um olhar. Apenas o substitui por outro.

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20.10.07

A muralha

Carolina tem sapatos brancos. Carolina é linda. Carolina é Carolina mas podia ser Carolinda. Carolina passa por mim a correr. Tem asas nos sapatos brancos. Carolina é frágil como um passarinho. No entanto, Carolina não é um passarinho qualquer. Não se parece com uma pomba. As pombas só fazem merda. Carolina é o sonho de qualquer ornitólogo. É como um pavão mas com cara de mulher bonita.

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19.10.07

The smell of your simple city dress #eight

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18.10.07

Passeio público

Terreiro da Erva, Coimbra: um rosto por nomear, assombrado e de cor imprecisa, avizinhou-se de mim no limbo pardacento do estacionamento e, com a voz limpa e vítrea, sussurrou profunda ladainha de uma vida de desesperança. Falou, discorreu longamente sobre a sucessão ininterrupta de martírios e padecimentos que era o filme da sua existência. Toxicodependente, seropositivo e sem-abrigo, emblemas maiores de uma identidade desfiada pela miséria e pela mentira. Mais vale admitir esta como verdade e esquecer para continuar. Tenho a certeza que a sua vida era bem pior que aquela descrição esforçada. Sei que existem formas de sofrimento intransponíveis para uma configuração falada, verbalizada. Como pode o frio ser traduzido numa palavra, numa frase? É preciso senti-lo. Deixá-lo subjugar o corpo.

Auditório da Reitoria da Universidade: são colchões e cobertores, são homens e mulheres, abrigados pela fachada vagamente iluminada. São quartos sob as estrelas, se quisermos ser poéticos (e insensíveis, indiferentes). São os sem-abrigo que concertam a sua vida e os seus parcos haveres num espaço junto ao auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. São cada vez mais, desde que chegaram os primeiros há dois ou três anos. O Gabinete de Comunicação e Identidade da Universidade de Coimbra assevera que a situação comovente e trágica que afecta cada uma daquelas pessoas não pode ser resolvida pela instituição universitária. O espaço ocupado pelos sem-abrigo é público, pelo que a Universidade vem rogando o auxílio de instituições sociais desde que o problema foi detectado. Com pouca sorte. São tantos assim que já ninguém quer saber.

O frio, a intempérie, a fome, a tristeza sincopada dos dias. A desdita que toca irremediavelmente uma panóplia de pessoas que temporariamente – ou não – tem a rua como única casa. São os sem-abrigo mas também são os mendigos, os toxicodependentes, as prostitutas, os vagabundos. Uma repleção de termos que descrevem condições de vida alicerçadas quase sempre na exclusão, na pobreza e, por vezes, na inconstância residencial.

O nosso olhar sobre esta alteridade tornou-se passivo. Já nem sequer nos incomodam, fazemos de conta que não existem. A deambulação sem fim nem propósito, a mendicância, os olhares andrajosos não tocam mais os corações de quem segue com pressa para o conforto trivial do lar. Os sem-abrigo já nem sequer são “corpos estranhos” no nosso caminho. São corpos invisíveis. A sociedade meteu-os debaixo do tapete da própria alma.

Mas eles existem, com os seus colchões bolorentos e a sua fome antiga. Acomodam-se, quase em segredo, junto aos nossos locais de trabalho, de diversão, de estudo. Estão lá, nós é que não os queremos ver. Isso mostra bem no que nos tornámos enquanto sociedade. Nem esmola envergonhada, nem um minuto para ouvir uma recordação de quem vive só. A miséria somos nós.

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Enquanto isso

Era um belo aforismo. Infelizmente, quando parei em frente ao tribunal para dar passagem a uma mulher grávida e a dois carrinhos de compras, ele saíu do carro sem pedir licença. Fugiu. Nem sequer disse adeus, o filho da mãe. Era um belo aforismo: caso o avistem agradeço que me informem. Não é que queira recordá-lo - porque não quero. Eu quero é que o gajo me devolva os quinze euros que eu lhe emprestei ao almoço.

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16.10.07

Tales of mere existence

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15.10.07

O acontecimento editorial do ano


Gary Larson foi finalmente editado em Portugal. Não é, ainda, o Farside mas este "Há um cabelo na minha terra" mostra de forma exemplar a visão do cartoonista americano sobre a vida, a biologia e a ciência, coada, à vez, pela demência e genialidade. A edição [maravilhosa] é da Gradiva. Custa [apenas] 17 €.

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14.10.07

Road to Perdition

Seja. Há-de ser como Ele quiser. Mas eu já sei do futuro: duas mãos enlaçadas numa estrada para qualquer lado.

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French music #six

Tokyo Police Club - Nature of the Experiment
[It's my impeccable disorder Where I keep on falling for her]

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13.10.07

The smell of your simple city dress #seven


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12.10.07

70x7

Então Pedro, aproximando-se dele, perguntou-lhe: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete.
[Mateus 18:21-22]

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11.10.07

Passeio público

É um milagre haver ainda quem sonhe um jardim nocturno nas obscuras ruas da Baixa de Coimbra. A zona não se recomenda. Especialmente de noite, quando as sombras se espraiam sobre o casario deprimido e cediço e os únicos vultos que porventura se distinguem são os das ratazanas, dos faquistas, dos pequenos meliantes e dos toxicodependentes. Quase todos os dias (ou, se quisermos ser mais exactos, quase todas as noites) ocorre um assalto nesta faixa deprimida da cidade. A azáfama dos larápios é tão consistente e reiterada que alguns comerciantes se vêem obrigados a dormir nos próprios estabelecimentos de comércio que pontuam as ruelas da Baixa.
Este acto de genuíno desalento exterioriza de forma clara a confiança que aqueles comerciantes têm na actuação das entidades policiais. Parece óbvio que pouco se tem feito para melhorar as condições de segurança de uma zona ancestralmente privada de boa luminosidade e policiamento nocturnos. As ruas com maior concentração de lojas são pardacentas e estreitas, abandonadas de gente, e por isso mesmo desprotegidas. Mesmo que se cumpram as promessas de maior policiamento nocturno, a Baixa continuará a ser um local inseguro, intranquilo e perigoso.
Desse velho centro de comércio da cidade restam apenas lojas cada vez menos reconhecidas e visitadas, a sinuosidade das ruas nebulosas, o mutismo dos prédios degradados e um vazio de vida, preenchido de forma esparsa e ocasional pela população envelhecida e em decrescendo de efectivos. A dada altura, a cidade de Coimbra - como tantas outras em Portugal - fragmentou-se, dando lugar a duas cidades paralelas. Os antigos centros económicos e sociais, outrora pujantes, tornaram-se lugares ermos e abandonados, áreas deserdadas e fantasmagóricas, onde sobrevivem apenas as memórias dos "bons velhos tempos". Ao mesmo tempo que os núcleos urbanos primordiais iam sendo abandonados, fundavam-se eixos colaterais de habitação e comércio. As pessoas e as funções da "cidade abandonada" transferiam-se paulatinamente para estes novos e incipientes sustentáculos urbanos.
As rondas nocturnas da Polícia serão, realmente, o acontecimento salvífico da Baixa de Coimbra? Eu julgo que não. Sendo importantes, não passam de um paliativo que evita, temporariamente, a total degradação de uma zona inteira da cidade. Perante um cenário de abandono e insulamento, resta-nos interpelar a nossa consciência e inquirir, como Dom Abúndio em "Os noivos", de Alessandro Manzoni "Que fazer?". A redenção dos espaços centrais e históricos das cidades passa pela fixação de pessoas - de habitantes - e pela atracção do investimento privado: restaurantes, bares, hotéis.
Tomemos como exemplo a cidade de Barcelona: em 20 anos floresceu de uma forma extraordinária, sustentada na melhoria das habitações existentes e na manutenção dos residentes e dos bairros característicos do centro histórico. Querer menos do que isto para Coimbra é insuficiente, é perceber muito pouco de urbanismo. A Baixa não sobreviverá apenas com remendos fortuitos e polícias ensonados.

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10.10.07

O presente envenenado

Nunca antes o caminho fora tão solitário e negro, pontuado pela esquizofrenia da verdade revelada. Serei de nós, uma arma apontada ao coração das noites. Fui mesmo assim, um deus caído no inferno? A fogueira lenta, o merecimento da culpa. Uma barata nojenta: castigo.

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8.10.07

The smell of your simple city dress #six

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6.10.07

O mundo é um teatro em chamas [chamemos, pois, os bombeiros voluntários]

Convém, talvez, dizer qualquer coisa sobre mim. Não que seja importante dar-me a conhecer. A revelação do meu ser não é de agora, ao longo dos séculos procurei sempre mostrar-me mas poucos chegaram à essência do que sou na verdade. O meu nome é o menos importante. Não nasci. Não fui sequer gerado. Existo como o vento, como a pele nua que o sente quando passa. Sou um velho desconhecido das pessoas. Amei-as e fui amado por elas. Quando me começaram a esquecer também me fui esquecendo delas e dos seus anelos. Esta é a única possibilidade da história: o fim. Acabou. Factum fieri nequit infectum. Deixei de acreditar.
[Alexander Klöest, O deus que era ateu, pág. 9]

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5.10.07

Estéticas da morte #vinte e sete

Apesar da escuridão e do caminho largo tropeçou no corpo. O rumor dos caminhos desfez-se, agigantou-se o silêncio. Nunca tinha visto um morto assim tão perto, as carnes moles envolvidas pela poeira da estrada. Refreou a custo o medo que naturalmente o enlaçou. Tocou a pele descoberta do cadáver na ânsia desconexa de sentir a morte. Riu com gosto: o cadáver ainda estava quente. Ele estava vivo mas roxo de frio. Tentou mover o corpo, tanto volume e tanto peso dissiparam-lhe as vontades. Deixou-o algures na obscuridade do largo caminho, ao sabor dos cães e dos demónios, corrido pela ventania. Mais tarde, quando morresse, enfrentaria o juízo do Padre-eterno sem o peso de ter carregado uma morte às costas.

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4.10.07


Eu lembro-me bem como era. Chegávamos ao recreio por volta das 8:30h, abandonávamos a mochila no fim da fila encarreirada e juntávamo-nos aos mais madrugadores que, no pátio de terra batida, davam uns toques na bola de serapilheira (a de couro, essa, só via o sol em dia santo). Às nove em ponto dávamos os bons dias à senhora professora e sentávamo-nos em desconfortáveis cadeiras de madeira. Deletreávamos as primeiras letras, conjugávamos os verbos mais simples e entoávamos, trementes, a ladainha da tabuada. Éramos muitos – mesmo muitos –, acomodados na velha escola primária edificada à sombra do projecto educativo do Estado Novo.

Entretanto, a metamorfose foi excessiva. As escolas já não são primárias mas do 1.º Ciclo do Ensino Básico. As crianças são, cada vez mais, uma invulgar e extravagante silhueta nos átrios de recreio. É, pois, normal (e desejável?) que as escolas com poucos alunos encerrem: as turmas excessivamente pequenas enredam negativamente o rendimento escolar e, obviamente, são verdadeiros empecilhos económicos. Na verdade, as escolas cerram as portas a compasso da desertificação e da baixíssima taxa de natalidade. No interior do país, sobretudo, mas também nas aldeias que ladeiam as grandes cidades do litoral. A agonia destas escolas pode ser protelada até ao derradeiro aluno, a expensas da economia nacional, mas, a prazo, a sua morte é certa.
O Governo pretende fechar, até ao fim deste ano, cerca de 900 escolas do Primeiro Ciclo do Ensino Básico. Mais de metade (600) situam-se no Centro do País. Os distritos mais afectados deverão ser os de Viseu e da Guarda, mas o distrito de Coimbra, com 17,3% de escolas com menos de 10 alunos, também verá muitos estabelecimentos de ensino básico encerrados. O Governo deverá ainda encerrar, até 2009, mais 4500 escolas do Primeiro Ciclo do Ensino Básico. A ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, já exteriorizou de forma perspícua e clara esse desígnio. As populações, como seria expectável, protestam e resistem como podem mas a tendência parece ser irreversível.
Os modelos educativos não são murados, constituem-se numa rede entretecida intimamente no âmago social e cultural em que vivemos. As escolas primárias, como anteriormente a igreja e o seu adro, são entidades de significação vasta: não são apenas um referencial cognitivo – o local onde se aprende a ler e a escrever – são o verdadeiro coração das aldeias. E os habitantes dessas povoações, que expiram lentamente, sitiadas pelos vultos do Outono e da solidão, percebem que não há redenção ou salvação quando a “sua” escola encerra. Por isso é que, mesmo sabendo-se impotentes, contestam com tanta veemência. A extinção da escola primária (a multiplicação dos matos nos antigos pátios de recreio, os vidros quebrados e os brancos esmaecidos das paredes) convoca iniludivelmente a morte simbólica da aldeia. E ninguém gosta de contemplar as ruínas de si mesmo.

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100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #51

French music #five

She Wants Revenge - These Things
[She's in the bathroom, she pleasures herself]

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3.10.07

Estéticas da morte #vinte e seis

O plátano morreu nos meus olhos, ele que estava lá para sempre, imóvel, comendo os dias, espalhando pelas minhas mãos o restolho dos outonos. O plátano morreu e agora, quando a morte regressar ao pátio, virá por mim.

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2.10.07

The smell of your simple city dress #five


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1.10.07

O cemitério da doçura

Há um rio chamado Minieu. Disse o poeta que desagua no mar, perto de Arena. Se não desaguasse no mar, perto de Arena, talvez se espargisse num outro rio e, nesse caso, Minieu seria um rio e também um afluente, como o Ceira. Mas parece que não, Minieu é um rio que desagua mesmo no mar. A isso, porém, deu o poeta a resposta impossível: o mar é salgado e destinado a coisas mais honrosas que a morte.

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