<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d5676375\x26blogName\x3dD%C3%A6dalus\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://daedalus-pt.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://daedalus-pt.blogspot.com/\x26vt\x3d5394592317983731484', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

25.10.07

Passeio público

Sou cristão de matriz católica, daqueles relaxados. Não sou dado a ritos mas vou comparecendo às cerimónias etnograficamente recomendáveis [Missa do Galo e de Domingo de Ramos, funerais, baptizados e casamentos]. Já fui ao Santuário de Fátima e não posso dizer que tenha ficado indiferente ao lugar. Há ali qualquer coisa, que postulo indefinível, que agita o coração cá dentro.

Qualquer coisa que vai além das pequenas e grandes tragédias que se espraiam sobre os joelhos doridos dos peregrinos ou da incomodidade que provocam as centenas de lojas de lembranças e brindes religiosos (e não só). Toda a gente chora, clama e pede, sem que ninguém saiba muito bem porque chora, clama e pede. É por tudo, talvez. Como disse, sinto mas tenho dificuldades em compreender totalmente.

É que, apesar de cristão, nutro sentimentos antinómicos e contraditórios em relação ao fenómeno religioso de Fátima. Se, por um lado, pressinto na religiosidade que envolve as “aparições” um timbre popular que se aproxima da crença “real”, sentenciosa e não corrompida pelas hierarquias; por outro, recuso a apropriação da fé para fins lucrativos, evidenciada pela miríade de lojas e de vendilhões que tomaram de assalto as imediações do santuário. Repugna-me ainda a recidiva expressão de fé através do auto-sacrifício extremo (o mesmo não é dizer que repugno as pessoas que, livremente, escolhem esta maneira de manifestar a sua fé). Noto que Fátima, enquanto fenómeno mundial de religiosidade, provoca nas pessoas reacções extremas, de aceitação ou de rejeição.

Os temas fatímicos são, actualmente, muitos e diversos. A Cova da Iria de hoje não é certamente a mesma que acolheu as primeiras “aparições” em 1917. Fátima reinventa-se. Tanto ao nível da ideologia como da própria arquitectura. Muitas vezes sob o sortilégio do arrebatamento estéril, da lágrima de êxtase e do “kitsch”.

No passado dia 13 de Outubro foi inaugurada, no Santuário de Fátima, a Igreja da Santíssima Trindade. O imponente edifício, projectado pelo grego Alexandros Tombazis, assim como a Cruz Alta, imaginada pelo alemão Robert Shad, foram alvo de avaliações díspares por parte dos peregrinos. Se a nova igreja recebeu elogios de quase todos, a grande cruz, na sua concepção arrojada e modernista, não foi bem assimilada pelos peregrinos que iam sendo entrevistados ad nauseam por todos os canais de televisão. “Onde é que já se viu Jesus Cristo com a cara quadrada?”, perguntava uma indignada senhora de negras vestes.

A questão urbanística e arquitectónica não é de agora, porém. Fátima é uma manta de retalhos. A cidade cresce sem que se saiba muito bem como. O casario é imponderado e desconexo. Os locais de culto também. O “kitsch” impõe-se esteticamente. O que vale é que os fiéis voltam sempre.

Etiquetas: