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31.7.08

Passeio Público

(Preocupações e encómios)

Há uns meses encontrava-me persuadido que a cultura e os movimentos culturais da cidade de Coimbra se encontravam, se não perdidos, pelo menos destinados a uma longa e dolorosa cruzada de desespero. Sinto agora que a situação podia ser pior. Erodida e irreversível. Consumada no desbarato tomado em mãos pela Câmara Municipal de Coimbra, sobretudo pela vereação da Cultura. Esta desconsideração camarária pela cultura (convicta e reiterada) manifesta-se, por exemplo, nesse “dramma comico” que envolve “O Teatrão”, a “Escola da Noite” e alguns equipamentos culturais como a Oficina Municipal do Teatro e o Teatro da Cerca de S. Bernardo.

Enfim, o sol de verão amansa a melancolia da inépcia camarária. O mesmo sol, escrevia em 1962 o humorista José Vilhena, “com que Deus brinda o povo português com a ingénua intenção de o distrair de tanta miséria”.

Felizmente, agora vislumbro, para além deste sol neuroléptico, toda a inquietação, todo o desembaraço e todo o talento de um grupo de mulheres e homens que, protegidos apenas pelas suas qualidades ingénitas, afeiçoam e compõem uma genealogia cultural de excelência numa cidade em que o poder autárquico declinou as suas funções de apoio à cultura.

Isto dito, personalizemos os encómios - os panegíricos em paisagem indefinida têm o inconveniente de poderem ser apropriados até por aqueles que os não merecem.

Em primeiro lugar, José Miguel Júdice e o Hotel Quinta das Lágrimas. A inauguração da belíssima Colina de Camões, um espaço cultural ao ar livre, seria, por sim mesma, um acontecimento assinalável. Contudo, o “sonho partilhado” do antigo bastonário da Ordem dos Advogados com a sua mulher, a arquitecta Cristina Castel-Branco, é também um “sonho dos outros”, de Coimbra. Júdice não só entrega à cidade um novo espaço de cultura como defende a sua utilização gratuita pelos agentes culturais conimbricenses.

Por fim, um agradecimento a Manuel Portela. O reconhecimento aqui não se refere ao excepcional académico, ensaísta, tradutor e poeta; imputa-se, sim, ao seu trabalho enquanto director do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV). No momento em que Isabel Nobre Vargues toma posse da direcção do TAGV, a gestão cultural de Manuel Portela à frente daquela instituição deve ser rememorada como uma administração de excelência apoiada em orçamentos de penúria.
(Ontem, 30/07, no Jornal de Notícias)

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30.7.08

Dolicocéfalo


(Quentin Massys, Ecce Homo, 1520, Palazzo Ducale, Venezia)

Não é preciso esperar no vestíbulo do Inferno, o corpo persegue o reino das trevas na melancolia das tardes de verão. Este foi um dia de derrotas (mas todos os dias o são), de passagens estreitas pelos lugares da alma. Um dia que preparou o que ainda há-de vir.
Eis a dura lição: a cara de um homem não engana outro homem.

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700 anões (+11)

(Lista di Spagna, Veneza)

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Uma pessoa volta a casa e leva com isto

Mas leiam isto, por favor:
A camisola do Sporting vale mais, muito mais, que qualquer vitória, qualquer ida à Champions, ou que qualquer Campeonato.

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28.7.08

Happy Birthday


(Ode for the Birthday of Queen Ann - Henry Purcell/Alfred Deller)

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24.7.08

Capriccio


(Giovani Antonio Canal [Canaletto], circa 1730, Grand canal near the Campo San Vito, Pinacoteca di Brera, Milan)
É impossível pensar em Canaletto e nesta perspectiva do Grande Canal. É natural que pense em Francesco Guardi e num dos seus capriccios venezianos - afinal é dele que fala a história que me chegou aos ouvidos por um mero acaso e devido à pouca distância entre as mesas do café.
Guardi (ou melhor, um homem pintado junto a um muro) olhou o seis rolado na poeira. Não sabia de onde vinha aquela luz mestiça, de sol entardecido, vidros e largas paredes. No entanto, aquele seis acamado enfim no solo de Veneza. A realidade crescida em pontos, crua, de quem empenhara o que não devia. Francesco Guardi (aquele outro homem pintado junto a um muro) prostrou-se, pegou nos dados, pediu que lhe cortassem a cabeça seis vezes.

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Mild flirt

Só quem tem tudo pode perder tudo. Uma única pessoa recebe os meus encómios, os meus desenhos, a minha atenção. Tudo não passa de um elogio - iterado, sentido. Respeitoso. Respeitável, se quisermos ser mais universais e ecuménicos. Aconteceu uma vez, acontece sempre - como o sol que nasce todos os dias para nos alumiar. O esquema dá frutos porque é inatacável, mais vale olhar de uma vez a fruta. O flirt é para pessoas maiores e eu sou pequenino.

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23.7.08

A tarde


(Hieronymus Bosch, 1500-1502, O peregrino, Museum Boymans-van Beuningen, Rotterdam)
As peregrinações, tenho-o dito, são assuntos que se resolvem sobretudo entre a partida e a chegada. O destino final da jornada é a resposta esforçada do peregrino a quem lhe questiona a viagem, as suas façanhas e as suas perdas. Um peregrino é aquele que perde sempre alguma coisa - o que abandona no início da viagem. Um peregrino é aquele que pode vir a ganhar alguma coisa - se encontrar um fim do caminho. O peregrino é sempre aquele que atravessa a noite deslocado de si, é aquele que esquece a aurora e deseja o crepúsculo vespertino (cada aurora é uma sentença de morte, cada crepúsculo uma pena suspensa). O peregrino é um exilado à procura da salvação.

A agónica representação do peregrino de Bosch: a férrea vontade salvífica vertida num corpo descarnado, esfiapado. Quase dendrítico. Sobre a cabeça do viajante observamos os campos, a bucolia das colinas, e pressentimos a demanda do Paraíso: «Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens».

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22.7.08

A manhã

Desconfio das mulheres com pés feios e rústicos – um pé de porco numa mulher não deixa de ser um pé de porco. Mesmo bonitas, essas mulheres são ídolos com pés de barro, poderosas mas apoiadas em pântano movediço, volúveis sob a capa inflexível.

Conheço-te: és deliciosa e encantadora. E não é só a tua face umbrosa, e o corpo cadenciado, também a tua alma concita os tremores do meu olhar. E os teus pés, permite-me dizer-to, os teus pés são diamantes engastados num ideal resplendor celeste.

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Silly season

Adoro um bom Broch*.

*No caso, A morte de Virgílio (Vol.1, Relógio d'Água, tradução de Maria Adélia Silva Melo).

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20.7.08

Weekend TV

Parece que a RTP se especializou em espectáculos degradantes e repulsivos. Ontem foi o jogo de preparação do Benfica, hoje é a tourada na «XII Grande Corrida do Norte». Sejamos justos, porém: nem tudo é péssimo na programação de fim-de-semana do canal público de televisão.

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As fotografias

As fotografias precedem a memória, são a realidade parada de luz. As fotografias evoluem como os olhos, entre reformulações e malogros. As fotografias não amarelecem, queimam, não se enchem de pó mas de granizo. As fotografias duram mais que a memória, mas não muito mais.
(Pedro Mexia, Em memória, pág. 23)

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Respectful flirt

Hi there. Atravessei a estrada. O alcatrão é negro, a noite nem por isso (demasiados postes de iluminação). Lá no fundo, nas profundezas da tenebras e de um certo silêncio gratuito (nem sequer consigo imaginar), estão os sapos todos (à espera de um beijo, os Abéis...) e uma ou duas enguias (à espera não se sabe muito bem de quê, mas, porra, não se metam na vida delas! quem sabe quais os dramas e as comédias que se lhes colam ao lombo arisco?). Are you? Ciganinha: ele não vai acreditar em nosso plano, ele sabe bem que eu não tenho sangue cigano. O que querias no fim do dia? Um sorriso e um prato na mesa? Pisga-te porco, isso é só para os ditosos filhos da pátria. Podes morrer por ela. Não podes comer o que é dela. Acredita, todas as fotografias são restos de um corpo esquecido nos alcatrões deste mundo. De um corpo agarrado à mangueira que seca todas as flores deste mundo.

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18.7.08

O interesse

Um dia acordei e pus-me a pensar em coisas pouco interessantes. Continuei a pensar nelas ao longo do dia e, à noitinha, eram já as coisas mais preciosas da minha vida. Ou talvez não: quando acordei no dia seguinte pensei noutras coisas ainda menos interessantes e que, eventualmente, no fim do dia, eram já as coisas mais relevantes e valiosas da minha existência. E isto sucessivamente, uma manhã trazendo a outra, um crepúsculo sobre outro crepúsculo. Podia dizer-vos em que coisas estou a pensar agora mas vocês não iam achar nada interessante.

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Um retrato


A solidão metonímica. O desespero caído nos torrões do solo, melancolia quase alegre. Quase suspeitando a rasura: o gelo derretia rapidamente.
A água como a derradeira impressão do passado. A fotografia convoca a experiência, reifica-a e certifica-a.

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Dia habitável

É extraordinário como uma vida sexual empobrecida estimula o interesse pelas actividades culturais. Chega a levar à loucura, ou mesmo à Ópera, nos casos mais graves. Passei assim a estar «ao par» de tudo o que se fazia no país, em matéria de artes plásticas, dramáticas, musicais, populares... O que houvesse. Isto tudo em Portugal, note-se, para ficar com uma ideia de quanto é triste.
(Miguel Esteves Cardoso, Cemitério de raparigas, pág. 177)

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17.7.08

A melhor declaração de amor


Quando ela entra em casa aos gritos e aos saltos: Amute! Sou uma mamute*!

*não admira que se tenham extinguido de tão «lingrinhas» que são.

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Passeio Público

(A procissão da Rainha Santa)

As peregrinações são assuntos de caminhos e estradas, de aurora e lusco-fusco, cheiro a raposinho e banhos circunstanciais. São argumentos que se desenvolvem sobretudo entre a partida e a chegada. É a viagem e as suas façanhas que aliciam o peregrino, que o motivam para além do destino final da jornada.

As procissões são mais curtas. O destino é o mesmo. A promessa paga, o favor retribuído. O pacto místico de uma mulher, de um homem e de um deus (ou de um seu intermediário) que existe por eles. Os segredos inconfessados, o mistério da súplica.

Nas duas procissões da Rainha Santa, que se cumpriram na Quinta-feira e Domingo passados, milhares de pessoas (cerca de 150.000, de acordo com a Polícia) negociaram a sua fé (e os seus anseios, os seus medos, as suas exultações, as suas vitórias) com Isabel, santa e rainha. Milhares de indivíduos mesmerizados em volta de um andor de rosas e cravos brancos, conduzido com vagar e rigor por dez homens da confraria da Rainha Santa, e das graças concedidas por intermédio da virtuosa Isabel que o encima.

A procissão é um palco do real: do sal vergado do choro, dos joelhos nus sobre o chão cansado, das pétalas de flores voluteando sobre a Ponte de Santa Clara, das bocas que falam e que, como Jeremias, revelam cinco lamentos. Ao longe, as silhuetas sustentam o insucesso de cada existência incompleta e incumprida. É perceptível uma resignação consciente face ao mundo, face à “ordem natural”, pré-consumada, que amarra e submete cada biografia às disposições formulaicas dos deuses. Apesar disso, um rosto de superioridade não forçada, de orgulho ingénito, encima inexplicavelmente as figuras de prece.

O sacrifício é a marca da fé. Ouço alguém (talvez uma senhora idosa) dizer que só o sofrimento diferencia aqueles que merecem estar na procissão. A dor é a única redenção possível. Eu acho que não. O riso das crianças vestidas de anjo desmistifica o discurso moral da penitência e da sisudez.

A noite contígua, a fluidez esmaecida da luz junto ao Convento de Santa Clara, falsifica a autoridade mística do momento em que a imagem de Isabel, a Rainha Santa, regressa enfim ao absidíolo da igreja. A festa termina mas o sofrimento (e o riso das crianças) continua.
(Ontem, 15/07, no Jornal de Notícias)

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15.7.08

Estes dias de sol (edade)

Faz muito calor. Talvez seja da altura do ano. Costuma dizer-se do verão que é canicular, infernal, ardente. Eu não sei. Dizem-se tantas coisas do verão - algumas não são verdadeiras.
A aurora é apenas um pretexto para acordar. O calor traça um nó sobre as gargantas e os pardais (assustados e sedentos) pedem com instância as lágrimas dos velhos que perdem a vida.
A virtude é um fio de água que esmaece. A saudade é o preço do amor.

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Italian Music #two

(Fanfarlo - Fire Escape*)

(It's not too late)

*To the great land of Ungueria.

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14.7.08

A primeira manhã


(Francisco Goya, circa 1797, La Maja desnuda, Museo del Prado, Madrid)

A Maja (desnuda) de Goya não é a Vénus de Boticcelli (nem a Femme nue... de Courbet, e ainda bem): mais do que a sublimação da sensualidade, a Maja é a própria sensualidade - meio ordinária, diga-se, mas isso não me preocupa demasiado. É uma rapariga qualquer do povo, das classes mais baixas (mesmo que a mulher retratada seja a Duquesa de Alba); a sua pose arrojada (a sua nudez) não convoca qualquer atributo mitológico mas apenas o seu estatuto vernacular e medíocre. Prefiro a minha Maja. A de Francisco Goya é demasiado vulgar e rechonchuda de braços e coxas. Prefiro a minha (bela, nobre, esplêndida, deslumbrante, querida) Maja.

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11.7.08

One year to go


Acreditava naquela velha crença de que, no Universo, com o infinito a caminhar para dois extremos radicalmente opostos, tudo acontece duas vezes. Assegurou a respiração, olhou as frases perpétuas, tomou a curiosidade natural dos que o quiseram ouvir. Reconheceu: o amor é uma brisa suave sobre os meus cabelos, única e irrepetível; um merecimento das festas e flores. Uma anatomia de nós como um único corpo.

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Mr. November


(Ezra Koenig, dos Vampire Weekend, em Guantanamo)

(Mr. November: a melhor música da noite)

(Uma boa surpresa: The Hives)

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Weekly Review

Apresentação do livro "Caravana" de Rui Manuel Amaral, no âmbito do Festival VimaRock, com António Pedro Pombo e Nuno Corvacho, e leitura de contos pelo autor. Amanhã, sábado, 12 de Julho, 18h00.Livraria 100.ª Página de Guimarães, no Centro de Artes e Espectáculos de São Mamede.

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10.7.08

Passeio Público

(Air Show)

Creio que foi J.G. Ballard quem melhor compreendeu a alienação das sociedades ocidentais e pós-industriais – espaços de cultura transiente, de omissão relacional, identitária e histórica; “não-lugares” (se decidirmos frequentar Marc Augé) onde até a realidade irrompe do simulacro. Tudo é inventado, sobretudo o enfado, o enjoo e a apatia. Perante isto, o escritor inglês propõe uma ideologia redentora: a moral cede perante a vontade, a vontade cede perante a loucura. A demência como limite último da condição humana.

A recessão económica parece conduzir o país e as suas elites (no governo e na oposição) a uma situação semelhante à que Ballard descreve. Perante o abismo que nos defronta, os caprichos pátrios pasmam no aperto do desespero ou na audácia do passo em frente, na maledicência diletante ou no desvario megalómano. De um lado, a oposição (que já foi governo) atira anátemas e condenações sobre o TGV e ao novo aeroporto de Lisboa, do outro, o governo deseja e determina as obras monumentais. No meio da peleja, um desgraçado país. No meio do país, uma região desprezada.

Agora que a construção do novo aeroporto internacional de Lisboa em Alcochete é uma realidade inquestionável e que a “opção OTA” foi definitivamente arrumada na prateleira das controvérsias públicas, um grupo diverso de notáveis e entidades da Região Centro destinou ao Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, um documento que expressa a indispensabilidade de uma infra-estrutura aeroportuária civil que assista o Centro de Portugal.

A reconversão da Base Aérea de Monte Real para voos civis internacionais é uma das soluções alvitradas pelos signatários do documento, entre os quais se incluem Vital Moreira, Manuel Queiró e Marinho Pinto. A execução orçamental do projecto nem sequer é censurável do ponto de vista da loucura e da megalomania – são necessários apenas 10 milhões de euros para a abertura de um terminal para voos civis em Monte Real.

A disposição territorial dos aeroportos civis releva uma assimetria em que o Centro é, claramente, uma região marginalizada. A construção de uma infra-estrutura aeroportuária de âmbito regional, que admita a aterragem de aviões de médio porte, pode equilibrar essa desarmonia estrutural e estabelecer um eixo fulcral de desenvolvimento de um espaço geográfico tantas vezes esquecido e desprezado. A loucura pode ceder, por uma vez, à vontade.
(Ontem, 09/07, no Jornal de Notícias)

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9.7.08

Comunidades

Uma palavra apenas pode ser um prego a menos na dor da saudade. O meu amigo Rui, que está no Kosovo, sabe bem do que falo. Uma palavra apenas, ou duas (bom dia!), de manhã, quando o dia ainda é uma incerteza que perpassa os corpos demasiado firmes e confiantes na eternidade.

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700 anões (+10)


(St. Augustine Street, Dublin)

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8.7.08

700 anões (+9)


(John St. West, Dublin)

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Italian Music #one

(The National - Abel*)

(Abel, my mind's gone loose inside the shell)
*Originalmente, esta música ia ser dedicada ao meu primo Ricardo, ao Barradas, ao Bruno e ao Ricardo «Botas» por razões que eles facilmente compreendem (está tudo relacionado com o nome da música, um dia explico). No entanto, a dedicatória vai inteirinha para a Marta Chaves Nunes (porque é linda, porque é uma querida e porque me ofereceu um bilhete para o Optimus Alive).

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7.7.08

A reminiscência do nada



Há tantas histórias esquecidas e outras que os homens fazem por esquecer. Nélson, o almirante, tem uma memória erguida em Londres. Em Dublin (foi em mil novecentos e sessenta e seis) presumiram que Nélson, o almirante, não merecia o sono imortal de uma coluna e uma bomba artesanal cumpriu o seu destino de aniquilamento. Mas esta proeza terrorista não me arrelia particularmente. A Irlanda foi país de escravos brancos e a Inglaterra o país dos seus amos – quem poderá abjurar definitivamente a acção de saneamento da perspectiva de O'Connell Street? O que me incomoda, não o nego, é esta derradeira viagem do HMS Temeraire (a reboque de um vapor!), vitorioso em Trafalgar ao lado de Nélson, o almirante, e que mesmo assim conheceu a ignomínia do desmantelamento às mãos de compatriotas ingleses de East London. Felizmente, naquele dia de mil oitocentos e trinta e oito John Mallord William Turner decidiu pintar mais do que o céu animoso* e eternizou, para delícia dos vindouros, o magnífico navio de 98 peças.

*Os céus de Turner, sabem-no bem, valem por si mesmos.

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700 anões (+8)


(Church Lane, Dublin)

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Weekly Review

Hoje, pelas 18 horas, a derradeira sessão desta temporada de Os Livros Ardem Mal no Café-Teatro do TAGV (Coimbra). O convidado é o escritor Gonçalo M. Tavares.

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4.7.08

Glossário

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Sprawling Maja

Anna put a hand on my arm and we stopped. Something in the air evening bespoke a sombre promise. She turned to me and took one of the buttons of my jacket between a finger and thumb and twisted it forward and back like the dial of a safe, and in her usual mild and mildly preoccupied fashion invited me to marry her.
(John Banville, The sea, pag. 104)

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3.7.08

Ingrid

Suddenly I saw the commander who, during four years, had been at the head of our team, who so many times was so cruel and humiliated me, and I saw him on the floor naked with bound eyes.
(Ingrid Betancourt)

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Passeio Publico

(Uma festa)

Embora tenham passado alguns anos, não sei bem quantos, recordo facilmente aquele fim de tarde – o calor de Julho parecia já um gládio castigador sobre os corpos dos penitentes. Um momento de trânsito parado, denso e taciturno; as constantes paragens permitindo um olhar mais atento ao ramerrame da cidade definitivamente alterado pelo ciclo religioso das festas da Rainha Santa.

Perto do rio, uma jovem (talvez bonita e bem vestida) atravessou a estrada, altiva, como guarda de honra de uma velhota de face empergaminhada, de negro trajar, suspirando os passos lentos de joelhos, talvez percorrendo o longo caminho que se intromete entre a Igreja da Graça e o Convento de Santa Clara-a-Nova. Aquelas pernas antigas nutriam-se do alcatrão, cansadas e à procura de auxílio – da neta, de Deus, da Santa que também era rainha (alguém me ajude a decidir). O secreto desígnio da senhora, temo dizê-lo, permaneceu oculto.

A imagem paradoxal daquela tarde decídua de Julho eternizou-se em mim, como se fosse o ponto de partida para qualquer coisa indecidida, desconexa e absurda. O que é certo é que reflecti um pouco sobre aquilo que vi e não cheguei a uma conclusão ou máxima moral - boa ou má. Nada aflorou daquela experiência empírica.

Na verdade, aquele passo das festas da cidade de Coimbra direccionou o meu pensamento para outras festas: as dos “santos populares” (no Porto, em Lisboa, em Braga, etc.). As sardinhas, as marchas e os martelos de plástico são malquistos em Coimbra; os santos do povo são demasiado “vulgares” (mas não nos Olivais). Nos seus arremedos de dama afidalgada, nas suas extravagâncias decadentistas, Coimbra desejou uma santa da nobreza – “preferível” aos outros santos, portanto.

Teve-a, sabemo-lo bem. Isabel de Aragão, filha, esposa e mãe de reis. Falando a sério: nem melhor, nem pior. Apenas diferente. Menos festiva, mais devota. Popular, certamente – daquele povo imenso de joelhos cansando o solo e de anjinhos adejando na ponte. Afinal, apenas uma festa. De uma cidade como as outras. Nem melhor, nem pior: diferente.

(Ontem, 02/07, no Jornal de Noticias)

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1.7.08

Estéticas da morte #trinta e sete

Afastei-me um pouco para ver a tua queda: senti-me longe de ti, dos teus olhos de remelas falsas e escuridões lívidas. Um grito (apenas) chegou a mim desprevenido; foi tudo muito rápido - o teu corpo no chão disforme, um cão de pulgas antigas a vangloriar-se nos teus líquidos, o meu sorriso libertado.

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Homesickness

Only a medical doctor can help me.

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