A reminiscência do nada
(J. M. W. Turner, 1838, The Fighting Temeraire tugged to her last Berth to be broken up, National Gallery, London)
Há tantas histórias esquecidas e outras que os homens fazem por esquecer. Nélson, o almirante, tem uma memória erguida em Londres. Em Dublin (foi em mil novecentos e sessenta e seis) presumiram que Nélson, o almirante, não merecia o sono imortal de uma coluna e uma bomba artesanal cumpriu o seu destino de aniquilamento. Mas esta proeza terrorista não me arrelia particularmente. A Irlanda foi país de escravos brancos e a Inglaterra o país dos seus amos – quem poderá abjurar definitivamente a acção de saneamento da perspectiva de O'Connell Street? O que me incomoda, não o nego, é esta derradeira viagem do HMS Temeraire (a reboque de um vapor!), vitorioso em Trafalgar ao lado de Nélson, o almirante, e que mesmo assim conheceu a ignomínia do desmantelamento às mãos de compatriotas ingleses de East London. Felizmente, naquele dia de mil oitocentos e trinta e oito John Mallord William Turner decidiu pintar mais do que o céu animoso* e eternizou, para delícia dos vindouros, o magnífico navio de 98 peças.
*Os céus de Turner, sabem-no bem, valem por si mesmos.
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