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31.1.04

Eu adoro este homem

-Eu e o Barradas estávamos a pensar oferecer-te o último livro do Boaventura. Achas que alguém to vai dar?
-Penso que não.
-Óptimo. Então damos-to nós. Depois deixas-me tirar fotocópias?

30.1.04

A magnífica Zundap-Famel



O que dizer deste bicho? Igual à motorizada do Paulo Preto, quitada e a atingir a velocidade astronómica de 120 Km/h, é o sonho de qualquer parolo numa noite de baile.

Esperança

Desde aquela tarde de chuva, depois da escola, a minha fé neste país pouco claudicou. Como poderia? Como perder a crença num pequeno quadrado que detinha no seu seio este merceeiro magnífico? Pedi uma garrafa de azeite, um pacote de Nestum e um quilo de arroz. O João fez as contas numa máquina de calcular e ficou assente que eu teria que pagar
530$00. Pensava eu. O magnífico lojista não deixou de conferir, à mão sobre um papel pardo, as contas que tinha realizado na máquina. Afinal só paguei 520$00. Isto, meus amigos, é perfeccionismo. É a epifania de um país que prepara admiravelmente os seus profissionais.

29.1.04

Das nêsperas do Manca-Mulas

“Loas a quem me disser o nome dos desgraçados”, gritava junto às nespereiras devassadas o Manca-Mulas, desejando em surdina que o Diabo levasse para o inferno a canalha dos prevaricadores.
Naquela semana por três vezes os tunantes se tinham empanzinado de nêsperas luzidias e doces, à custa dele, desprezível rendeiro de uma leira de meia aguilhada. Por boca travessa soube que um dos meliantes era o Fernando. Este, reles de figura, sempre descalço e com o monco de ranho a pender pela narina, andava sempre incluso em más andanças, muito por culpa do confrade inseparável, o Faustino. O Fernando vivia num casinhoto junto ao Palácio, dois quartos, uma salita sempre cheia de fumo com o lume a um canto, casa de banho no quintal e um portão de madeira alto a separar o privado do lar da estrada macadamizada.
Naquele dia à tarde, depois de andar todo o dia a armar costelos na Maracha, o Fernando voltava a casa estoirado, o Kentucky fanado na loja do ti João Mata a pender na queixola. Dissimulado atrás do portão, o Manca-Mulas, segurando um fogueiro nodoso entre as mãos de bruto. Anos mais tarde o Fernando recordava:
“Quando passei o portão o velho deu-me uma paulada nas costas que eu até dei três passos para trás”.

Trafulha

Os especialistas em direito fiscal declaram, quase em uníssono, que a retenção de contribuições de cerca de 600 funcionários judiciais devidas à Segurança Social pelo Ministério da Justiça é ilegal, configurando um abuso de confiança fiscal, crime previsto no Regime Geral das Contribuições Tributárias. Para além da ilegalidade subjacente a esta prática continuada ao longo de um ano inteiro [aqui não há o célebre “engano”, apanágio do caso da “cunha”, por exemplo], a mim parece-me lícito relevar a imoralidade e a “intrujice” de uma situação que, como sustentou Francisco Louçã no Público, se encontra ao nível das “falcatruas cometidas pelos empresários mais trafulhas deste país”.

Esta pretensa ilegalidade soma-se, dessa forma, ao rol de “casos” menos claros que vêm sendo protagonizados pelo governo do país e que demonstram, claramente e no seu conjunto, que a propaganda de rigor encetada pelo governalho PSD-CDS/PP não passa disso mesmo, propaganda. Enganosa.

As razões para a preocupação são muitas. O governo revela uma paupérrima capacidade de lidar com as necessidades e dificuldades do país, a oposição movida pelo PS tem sido coarctada pelo espectro do caso “Casa Pia” e, sobretudo, o quarto poder tem-se alheado dos problemas reais do país, à custa de problemas graves, sim, mas cuja relevância tem sido demasiadamente empolada. A recente exploração facínora da dor provocada pela morte prematura de Miklos Fehér posta-se como exemplo: as notícias praticamente ignoraram o abuso fiscal protagonizado pela ministra Celeste Cardona, focando desregradamente, impudicamente, o seu olho na morte do futebolista húngaro e nos sentimentos destilados em seu redor.

28.1.04

Depois do baile com os Casa Vibra

A Zundap novinha em folha carrilava a 90 à hora, o motor reluzente a arrulhar vrrruuuuns ásperos, pela velha estrada das Amieiras, entre Taveiro e Ameal. Fernando podia começar a história assim, mas presumo que não escolheria estas palavras.
“Eu agarrei-me com força ao Faustino e gritei-lhe:
- Posso levar a mota?
- Tá bem, leva.
Colei-me ao guiador e acelerador a fundo. Virei-me para trás e perguntei:
-Ó Faustino, já viste esta condução?
Quando me virei para a frente já estávamos no meio das canas.”

Nota de honestidade

Peço aos leitores do Daedalus que paralisem a natural incredulidade e que acreditem no que digo em algumas das últimas histórias. Não porque o que digo seja real e vero, mas porque presumo e finjo que o seja. Aceite-se o pacto ficcional, diria Eco.

27.1.04

Morte...

sei que é doce a tua sentença. Só não precisava de ser tão rápida, tão arrebatada, tão fora de tempo. Acho que te enganas demasiadas vezes.

Os chimpanzés deviam ser humanos

Revisito o sonho. Caminhamos juntos, nas áleas do jardim, perfumadas por odores que não distingo (não consigo). Por muito que tente, tudo está perdido. Ou talvez não. Por vezes recebes a melhor prenda de quem menos esperas.

Pergunto-me se o título será nonsense. Talvez sim. Ou talvez o texto.

26.1.04

Notas de Passagem

A estação de autocarros da Batalha, no Porto, é daqueles locais de passagem, estéreis e sujos, onde a sensação de estarmos num não-lugar é acentuada até ao extremo da agonia. O odor a fumo de escape [entranha-se nas fibras do meu anorak e afasta a tua fragrância, fruta cristalizada que me guarneceu o dia], os sacos de viagem que são a única companhia da maior parte dos viandantes e os espectros [almas mortas, alguém já disse] que nos pedem alguns cêntimos para continuarem a desfrutar de momentos em que a realidade é menos dolorosa, moldam a ambiência desnuda e cinzenta de quinze minutos de inexistência. Quando vais embora e me deixas, só, num dos bancos traseiros do autocarro, não é só a ti que te perco. Perco até o real, sujo e desnudo, também, mas até agora existente.

A estação é suja e o autocarro cheira a mijo e a fumo de escape. E o caos é tão perfeito que eu, tu e todos os outros peregrinos, não somos mais que anjos a decorar uma parede no inferno.

25.1.04

Adeus, adeus

criança no corredor da morte. A vida é injusta e a morte ainda o é mais.

Adeus Miklos.



24.1.04

Excerpts

"Call me Ishmael. Some years ago -- never mind how long precisely -- having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world. It is a way I have of driving off the spleen, and regulating the circulation."
[Herman Melville, Moby Dick, pág. 1]

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Traduttori, tradittori

Há algum tempo decidi começar a ler alguma ficção na língua em que foi originalmente escrita, complete and unabridged, não sujeita à traição subjacente à maioria das traduções. As obras de autores anglo-saxónicos foram a escolha óbvia: o idioma nascido do lado de lá do canal da Mancha, para além das arribas de Dover, insinuou-se há muito na minha existência, sobretudo devido à leitura de epístolas “técnico-pedagógico-científicas” e ao consumo diário de ficção televisionada e cinematográfica proveniente do eixo anglo-saxão.
Na FNAC do Norteshopping escolhi quatro ou cinco clássicos anteriormente lidos na língua de Eça, Camões e Pessoa e encetei a dura empresa de saborear literatura estrangeira, alienígena, sem mediação de um terceiro elemento, o tradutor, a interpor-se conspicuamente entre o autor e eu. Ler o Moby Dick de Herman Melville ou Bleak House de Charles Dickens em inglês é uma experiência aterradora, mortificante, cruel. A riqueza vocabular, a sinonímia, é colossal. Os pareceres solicitados ao Oxford Dictionary constantes. E, não obstante, escutar Ahab ou John Jarndyce a arengarem na sua língua materna é um exercício redentor, vivificante. Franquear o estilo vitoriano de Dickens, a verbosidade de Melville ou a facúndia aventureira de London é, undoubtedly, mil vezes mais entusiasmante que deletrear o inglês mecanicista, técnico e chato de uma dúzia de antropólogos ou biólogos que assiduamente tenho que suportar.

22.1.04

Depois do baile com os Odeon Jazz

O motor de 49cc, alma da motorizada, tinha assistido dias antes, impotente, à abertura das suas goelas até aos 65 e meio. O Faustino tinha sido o mentor da proeza. Coadjuvado pelo Fernando, dissipara noites, dinheiro e juízo a transmutar o efeminado motor de fábrica num machão com voz grossa mas definitivamente sem tusa.

Naquela noite de Sábado, no verão do ano, altura de festas e bailes, voltavam os dois de Casal Minhoto quando o inusitado aconteceu. De repente a Zundap começou a fraquejar e, na estrada da noite, o arquejo ridente saído do tubo de escape deixou de se ouvir. O Faustino praguejou enquanto tentava reanimar o paciente. O Fernando, esse, viu logo o cão negro a aproximar-se. E, enquanto corria para casa, desabrido e desde essa noite insano, ainda gritou:
-Ó Faustino, vamos embora que este cão é o diabo.

21.1.04

4

Vou lá fora aspirar o fresco da noite. Esperar por ti, pelo teu beijo no vento frio. Tenho saudades do rouxinol no jardim de trás. E de ti.

Blogging

Porquê lutar com a espada se o que temos são as palavras?

Slow food de forma rápida 2

Desta vez opto pelo peixinho. A receita é da Marta e, embora simples, possui o dom de seduzir o mais renitente dos convidados. Segue assim, para duas pessoas: esfregam-se grosseiramente com sal duas douradas [fresquinhas e de alto mar, de preferência. Para os menos abonados de cêntimos a peixaria do Contente com as suas douradas de viveiro também serve] previamente despojadas dos volumes abdominais. Não esquecer de fazer uma incisão a meio de cada peixe de forma a facilitar o entranhamento salino. Colocar os peixes num pirex e rodear de batatinhas cortadas aos cubos. Escorrer um fio de azeite pelas douradas e batatas e, de seguida, ungir com tomate pelado. Depois levar ao forno e esperar até as batatas dourarem bem. Enquanto espera e troca uns kisses ou uns piropos, prepare uma saladita de tomate com milho, pitada de sal e sumo de limão. Á mesa, a flor ao lado do prato d@ amad@ ou d@ amig@.

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20.1.04

Ainda a língua portuguesa

Na cozinha desadornada e suja, o jantar fumegante. Algumas batatas, poucos grelos de nabo e ainda menos bacalhau. Sentado, Tonito aspira os últimos fôlegos do Ventil. Pergunta pelo vinho mas não tem resposta. Uma pergunta dela, a esposa.
-Queres pão ou corno?
Caprichosa e lambisgóia, Maria Guita diz-lhe uma verdade sem que ele a pressinta.

p.s. o corno é um pão (doce) característico da região de Coimbra.

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico

Pois é... o maior palavrão que se pode proferir em língua portuguesa. Com esta palavra simples [46 letras] descreve-se o estado de quem é acometido por uma doença rara, provocada pela aspiração de cinzas vulcânicas. Despretencioso, não?

19.1.04

Ludíbrio a nós

Lá fora o vento passa, no olival por trás da casa. Passou por mim sem olhar, relembro. Ou talvez tenha olhado. Nunca saberei porque baixei os olhos até ver os atacadores das sapatilhas. Quando nos olhámos, da última vez, o tempo pareceu-me atroz, a canícula de Setembro a entranhar-se nas nossas peles distantes. Sei que chorei porque a minha face, de repente, tornou-se tão fresca que não resististe e encostaste a tua cara à minha. E tudo o que restou foi nada.

15.1.04

O algar ou a esperança intérmina

Era escuro e bafiento. No chão oculto pelo negrume imperecível senti os despojos do passado: ossadas de animais de grande porte [mamíferos com certeza], uma enorme carcaça cúbica irradiando um frio metálico, talvez uma velha máquina de lavar roupa, cagadelas várias tapadas pudicamente com papel amarelecido [cor associativa, eu não vi, no escuro da caverna, aquela cor. Só que a semiologia faz parte de mim] e sobretudo madeiras podres. Foi junto a uma pilha de tábuas de pinho [madeira associativa, para mim poética] que me decidi. Num trejeito célere, congénito, libertei a água mesclada com ureia em doses conhecidas pelos químicos e naquele ponto, o único ponto fixo do universo [as minhas pernas balanceavam de tal forma que naquele momento eu era o pêndulo de Foucault], decerto se remeteu a imaginação dos espectadores [se os houvesse] para as comportas abertas da barragem de Assuão. No próximo ano voltarei ao ponto. A razão, talvez do caos a vida. A esperança de ali ver uma flor.

14.1.04

Belle de Jour

Descobri-a porque ganhou um prémio qualquer em Inglaterra. A escrita inteligente de uma London Call Girl. A não perder.
Aqui, a dúvida num último desvio, como se fosse demasiado simples avançar pelo labirinto. Como se fosse demasiado simples escavar um blogue tão bom.

Acho que sei

Das bibliotecas

Com o decidido dealbar da empresa que é fazer nascer uma tese que vem sendo adiada por compromissos sempre mais importantes que a acumulação de saber teórico, as romarias às bibliotecas vêm sendo cada vez mais frequentes. Os percursos da memória, delineados entre a Biblioteca Geral e a biblioteca do Zoológico, passando pela omnipresente biblioteca do Instituto de Antropologia, gozam agora de um vago sentido nostálgico que remete para as verdadeiras razões pelas quais eu e os meus frequentávamos tais repositórios de saber.

Lugares outrora sacrossantos, de vivências liminares, onde o silêncio se caldeava com o voltear monótono das páginas, as bibliotecas são há muito espaços de verborreicas pseudo-intelectualidades e genuínas montras da vanitas feminina. Nem eu nem os meus nos preocupávamos muito com isso [excepto com uma ou outra saia da moda]. Aguentávamos a opressão do silêncio para que depois, durante o lanche e enquanto os livros descansavam nas mesas, pudéssemos atingir o verdadeiro conhecimento: o conhecimento de nós próprios e daqueles que amamos. Porque acima de tudo, Coimbra e as suas bibliotecas proporcionaram-me isso, uma meada de amizades, de amores e de companheirismo que há-de perseverar sempre. Até que a morte nos separe.

Para ti, que me conheces e sabes que eu gosto de ti

Contar algo sobre a Passagem do Ano assume, para mim, a forma de uma narrativa de displacement. Porque a fuga não é do tempo mas de um espaço. Coimbra-Sobral de S. Miguel: 105 Km entre a modernidade e o encanto dos castros. Felizmente o nevoeiro escondia o abismo, felizmente quem guiava era a Marta e não eu, felizmente quem dizia que conhecia o caminho sem conhecer era o Thiago e não eu, felizmente foi o Barradas que se atrasou e não eu. Felizmente a transição dos anos foi celebrada junto de muitos daqueles que mais adoro.

13.1.04

A antecipação do beijo

O amor vero, esperar por um beijo que poderá nunca acontecer.

12.1.04

Quando chegar o Verão

vou estampar isto numa t-shirt...

Artrose ou a dor do tempo

A virtude de um tempo sempre chuvoso, a imposição de um dever inaudito. Ficou em casa durante todo o fim-de-semana, custodiado pelos dois gatos que um dia impediu de serem afogados pela avó [telefonaste-me três vezes: qual é a melhor maneira de matar um gato?], era isso ou ir ao shopping, e ele optou pelo desconsolo de 48 horas afogado no arrumo dos quartos e do escritório. Quando ela foi embora e lhe deixou os gatos [é-se sempre responsável por quem se salva da morte] e a responsabilidade de limpar o apartamento que fora, que continua a ser, dos dois, as articulações das mãos doíam-lhe sempre que se lembrava dela. No início essa dor não passava de um palimpsesto cujas iluminuras mostravam a irreversibilidade do fim de uma relação descomedidamente linear: namoro-casamento-divórcio. Com o transcorrer dos dias as dores vinham sempre em dias frios, chuvosos e cinzentos, o de hoje um exemplo. Enquanto esticava o fio do aspirador ele apercebeu-se que as dores nos dedos finos de ambas as mãos não tinham nada a ver com a perda de uma mulher. Eram somente a fronte visível da sua obsolescência germinal. Só e sem crédito para voltar atrás.

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10.1.04

Deliciiiiiiiiiious

"Que chamem vin ao vinho vá lá. Agora chamarem fromage a uma coisa que eu estou a ver perfeitamente que é queijo, isso não admito."

9.1.04

Apólogo irrealmente fictício e desde o início talvez romanesco

O que o abalou foi isso, o esquecimento. O opróbrio do oblívio. Só que não foi isso e ele não sabe. Se ele soubesse que naquele dia ela não tinha saldo no telemóvel, que não havia nenhuma estação dos correios por perto, que o Golf estava na revisão, que todos os deuses murmuravam contra a possibilidade de um encontro. Não. Ele não sabe e por isso finge que não a ama mais, fabula a sua própria morte aos olhos dela. A inquietude frenética na vermelhidão dos seus olhos, o passo arrastado no chão imaculado do café, a beata esmaecida nos lábios roxos, tudo o denuncia. Tudo conspira contra si e contra o olvido de si próprio. Enquanto ele chorar não vai esquecer.

Pomadista

adj.2g.s.2g (1899 cf. CF) que ou aquele que mente (in Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa)

No turbilhão deste chavascal quem não é?

Slow food de forma rápida

É fácil, diz a Rita, pegas num frango (do campo, if possible, ou em alternativa peitos de frango) e cortas em pedaços pequenos. Picas uma cebola fresca para riba do pito, vertes uma cerveja (a minha modesta opinião conjura a favor da Mini Sagres), adicionas uma sopa de cebola Knorr (condição sine qua non, não me perguntem porquê) e uma pitada de sal e piripiri. Deixas cozer em lume brando enquanto preparas o esparguete (ou spaguetti para os puristas) como acompanhamento. Para salada, umas folhitas de alface temperadas com sal, azeite, vinagre e limão.

20 minutos depois, o repasto. Não esquecer de emparceirar algo para empurrar o frango: Mini ou tinto. Bom apetite.

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8.1.04

Tentei comprar o tempo

mas já não houve tempo.
Sem saber o que faço continuo a fazer. Chorando espuma branca.


7.1.04

Natal, outra vez

De acordo com o calendário juliano hoje celebra-se, mais uma vez, o nascimento de Cristo. Confirma-se o velho aforismo segundo o qual o Natal é quando um homem quiser.

Propaganda e obscenidade

Os tablóides escritos portugueses e, sobretudo os televisivos (Anátema TV), têm enveredado nos últimos anos por uma reificação teatral e performativa da trivialidade lusa. Com o advento do caso de pedofilia envolvendo alguns alunos da Casa Pia com uma série de indivíduos mais ou menos conhecidos, alguns orgãos de informação [pronto, acusem-me lá de benevolência] atravessaram o rubicão da decência jornalística e empenharam-se [pedindo emprestadas as palavras a Joan de Jean] em ressuscitar a obscenidade.
É certo que uma das maneiras de uma sociedade tomar consciência de si própria, e consequentemente dos seus podres, é através das suas performances rituais e teatrais. Todavia, quando esta fenomenologia social é utilizada de forma abusiva e invasiva, como me parece ser o caso no affair Casa Pia, os media deixam de veicular informações e tornam-se passerelles de propaganda. Política, pois.

A excitação da dor

Li, num daqueles poemários que oferecem no Natal ou nas festas de aniversário, que a possibilidade da existência de uma dor infinitamente excitante, existe.

Hoje, durante a bola, levei um pontapé nos "tomates". Senti uma dor daquelas que só as mulheres sentem [nós, homens, (in)felizmente não conhecemos as agruras do parto].

Tive a certeza que não existem dores infinitamente excitantes. A única excitação que senti relacionou-se com a possibilidade de rebentar a parede do pavilhão com a cabeça. Apesar das pilhérias de auxílio senti-me só como nunca me senti. E a excitação não pode sobrevir na solidão.

5.1.04

Anátema TV

Hoje decidi arrumar a TVI no meu índex pessoal. Não me perguntem porquê. Não quero nem posso ministrar aulas de moral. Mas nem com ameaça de excomunhão volto a ver aquela trampa televisiva.

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SLB-1/SCP-3

Já sei o que vão dizer: não existiu falta sobre o Silva, o Sr. Proença apitou sempre a favor dos lagartos (ele é sócio do Benfica, não é?!), o Rochembak devia estar no Chile a jogar pela canarinha, o centro do Barbosa foi feito depois da bola ter saído pela linha de fundo, a bola entrou naquele livre do Zahovic, et coetera. Nem vou perder tempo a refutar cada uma destas afirmações (bem, quero dizer que em relação à primeira confesso que não teria mesmo nada a dizer…), só quero reafirmar isto: ganhar ao Benfica sabe quase tão bem como ganhar o campeonato. E isto, meus senhores, não é menosprezar a nossa Superliga ou confessar uma clubite doentia, daquelas de antanho, é simplesmente relevar a grandeza dos dois clubes em contenda [julgo que desportiva].

Reflexões em torno de um blogue

Depois da fiesta o retorno. Indubitavelmente uma necessidade derivada [de que nos fala Malinowski], um blogue. Este assoma na minha fenomenologia diária como uma necessidade artificialmente criada, quiçá como resposta ao colapso da minha capacidade para me fazer ouvir. Ou como um instrumento para resolver um problema individual e de simulacro que se me colocou depois de me embrenhar nas vísceras da blogoesfera: agradar a mim mesmo e a quem, porventura, lê o que escrevo.

Hoje a revolução é feita pelo desviante e não pelo proletário e escrever num blogue, se possui algo de narcísico, contém pouco de revolucionário. Na blogoesfera lusa produz-se muito e muito do que se produz é muito bom. Mas a regra é a unissonância urbano-depressiva, a constância do motejo inócuo e a recidiva actualização das crónicas boateiras e pseudo-noticiosas. Este blogue confirma essa tendência. Poucas vezes consegui ir mais além, menos vezes ansiei pelo potencial revolucionário desta arma que me puseram nas mãos. Não o soube fazer ou, pior, não tive coragem.

O puro de coração que atire a primeira calhoada.