Notas de Passagem
A estação de autocarros da Batalha, no Porto, é daqueles locais de passagem, estéreis e sujos, onde a sensação de estarmos num não-lugar é acentuada até ao extremo da agonia. O odor a fumo de escape [entranha-se nas fibras do meu anorak e afasta a tua fragrância, fruta cristalizada que me guarneceu o dia], os sacos de viagem que são a única companhia da maior parte dos viandantes e os espectros [almas mortas, alguém já disse] que nos pedem alguns cêntimos para continuarem a desfrutar de momentos em que a realidade é menos dolorosa, moldam a ambiência desnuda e cinzenta de quinze minutos de inexistência. Quando vais embora e me deixas, só, num dos bancos traseiros do autocarro, não é só a ti que te perco. Perco até o real, sujo e desnudo, também, mas até agora existente.
A estação é suja e o autocarro cheira a mijo e a fumo de escape. E o caos é tão perfeito que eu, tu e todos os outros peregrinos, não somos mais que anjos a decorar uma parede no inferno.
A estação é suja e o autocarro cheira a mijo e a fumo de escape. E o caos é tão perfeito que eu, tu e todos os outros peregrinos, não somos mais que anjos a decorar uma parede no inferno.
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