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14.1.04

Das bibliotecas

Com o decidido dealbar da empresa que é fazer nascer uma tese que vem sendo adiada por compromissos sempre mais importantes que a acumulação de saber teórico, as romarias às bibliotecas vêm sendo cada vez mais frequentes. Os percursos da memória, delineados entre a Biblioteca Geral e a biblioteca do Zoológico, passando pela omnipresente biblioteca do Instituto de Antropologia, gozam agora de um vago sentido nostálgico que remete para as verdadeiras razões pelas quais eu e os meus frequentávamos tais repositórios de saber.

Lugares outrora sacrossantos, de vivências liminares, onde o silêncio se caldeava com o voltear monótono das páginas, as bibliotecas são há muito espaços de verborreicas pseudo-intelectualidades e genuínas montras da vanitas feminina. Nem eu nem os meus nos preocupávamos muito com isso [excepto com uma ou outra saia da moda]. Aguentávamos a opressão do silêncio para que depois, durante o lanche e enquanto os livros descansavam nas mesas, pudéssemos atingir o verdadeiro conhecimento: o conhecimento de nós próprios e daqueles que amamos. Porque acima de tudo, Coimbra e as suas bibliotecas proporcionaram-me isso, uma meada de amizades, de amores e de companheirismo que há-de perseverar sempre. Até que a morte nos separe.