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30.11.07

Passeio público

Quinta-feira, 29/11, no Jornal de Notícias


Ser turista é uma das muitas características definidoras da modernidade e pós-modernidade ocidentais. Coetaneamente, uma ampla fracção das pessoas “faz” turismo, uma actividade social que se alargou a quase todas as esferas socioeconómicas, o que não acontecia até aos anos 60 do séc. XX. Mas, afinal, porque é que tanta gente se afasta das suas casas e dos seus locais de trabalho, por períodos de tempo mais ou menos longos, e parte norteando outros trilhos e destinos?

O elemento essencial do complexo de significados associados ao turismo é o lazer. Para além disso, o turismo frutifica, sobretudo, na reiteração da surpresa e da mútua perplexidade, na quebra limitada das rotinas e práticas diárias. O seu apelo reproduz-se partindo de uma antecipação, especialmente através da ilusão, do sonho e do devaneio, de experiências intensas e veementes que cingem os sentidos numa escala fora do normal. Com a progressiva consciencialização da fragmentação do sentido e da autenticidade nas sociedades modernas, os indivíduos consolidam as frágeis existências amparando-se nas fugas sazonais que os afastam para paraísos semânticos na praia ou na neve, em velhas cidades ou em novas ilhas construídas pelas máquinas inventadas pelos humanos.

Assiste-se a uma ânsia pelo que é autêntico, tradicional e pristino. Procura-se, não só o divertimento fácil de férias (a praia, a neve), mas também a história de um lugar, a sua excelência natural e cultural. É partindo destes pressupostos que se podem entender os bons resultados obtidos pela Marca Centro de Portugal durante o ano de 2007, especificamente até ao passado mês de Setembro. Com um aumento de 14 por cento do número de dormidas de visitantes estrangeiros, a Marca Centro de Portugal registou o aumento mais expressivo no conjunto de todas as Marcas Turísticas Portuguesas.

É óbvio que uma fracção importante destes resultados se deve a uma estratégia de marketing bem delineada e bem conduzida pelos responsáveis da Marca. Sobretudo porque essa estratégia se traduziu num esforço de internacionalização dos destinos regionais e dos serviços com eles articulados. Por outro lado, é inegável que o potencial turístico da Região Centro é, por si mesmo, inigualavelmente diferenciado, variado e heteróclito. Desde as Aldeias do Xisto até à Biblioteca Joanina (Universidade de Coimbra) ou dos areais da Figueira até à neve da Serra da Estrela, uma visita à região garante uma incomparável e aprazível sucessão de paisagens naturais e culturais.

Numa altura em que se anunciam transformações radicais no ordenamento formal das regiões de turismo (vão passar a ser apenas cinco, com a Região de Turismo do Centro a englobar as actuais regiões de turismo da Rota da Luz, Centro, Dão-Lafões, Serra da Estrela, Tejo Internacional e uma parte da Leiria-Fátima e as juntas de turismo do Luso/Buçaco e Cúria e a mudar a sua sede para cidade da Guarda) o futuro passa por uma aposta consciente e reiterada na promoção de uma zona de potencialidades turísticas tão amplas.

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29.11.07

Vítor Baía


[Claude Lévi-Strauss]

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French music #ten

Violent Femmes - Add it up

[I waited my whole life for just one]

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28.11.07

Última hora

[Reconstituição facial do Menino do Lapedo por Brian Pierson]
A hipótese apresentada por Eric Trinkaus e João Zilhão, entre outros, admite que a criança descoberta no vale do Lapedo exibe um mosaico de características morfológicas que deriva, aparentemente, de uma miscigenação regular entre Neandertais e Cro-Magnons, durante a fase crepuscular da existência Neandertal na Europa. Contudo, a mais recente reconstituição facial do menino sugere que a criança resultou do cruzamento do boneco Chucky com uma fêmea de Gremlin.

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27.11.07

Kipling [aliás, Coleridge] e Borges

Não sei o que vai dentro de mim. A constância da dor, do arrependimento, o saber tudo perdido - irremediável. Porque haveria de merecer a outra face? Olho por olho, dente por dente, silêncio por silêncio. Um pouco mauis que isso, até.

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French music #nine

Bunnyranch- In the land of the poor

[In the land of the poor I just don't want to be found]

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26.11.07

One step beyond

Ramón olhou por cima do ombro e percebeu que o passado lhe ia cair inevitavelmente em cima. Virou-se e olhou-o de frente. Teve a cobardia de olhá-lo de frente.

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Julianne Moore

O que a terá prendido à cama [para além do amor e de uma perna carcereira sobre o dorso]? Talvez um paradoxo banal: a história de um homem feliz que só sabe contar as histórias mais tristes. Sem esquecer tudo o resto.

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É lixado mas a vida é mesmo assim

Gauna pensava: saberás muitas coisas,terás lido muitos livros, mas trocarias agora de lugar com um ignorante como eu, só para saíres com Clara.
[Adolfo Bioy Casares, O sonho dos heróis, pág. 58]

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23.11.07

Passeio Público

Quarta-feira, 21/11, no Jornal de Notícias
Coimbra de passado precioso e famigerado. A História submeteu cada pedra da cidade aos seus indeléveis estigmas. Em Coimbra, sente-se o seu peso, uma poeira densa de significado que assinala as linhas proféticas do que pode vir a ser o futuro. Eu não tenho dúvidas disso. O improvável leitor, com toda a certeza, também não. O pragmatismo inato - genético - do homem comum revela-lhe, em passos lentos, a importância fundacional e essencial do que é ter um passado para além da própria e escassa vivência.
Não sei se o poder corrompe, mas certamente que transforma quem nele toca e dele usufrui. Os autarcas de Coimbra, por exemplo, esquecem demasiadas vezes a importância basilar da história da cidade. A comoção do poder parece estimular a deslembrança do que foi, do que aconteceu. Um véu esgarçado interpõe-se no olhar dos sucessivos autarcas que tomam em mãos o destino e o porvir da cidade, como se a rasura do passado fosse uma condição indispensável ao seu progresso.
Esta falta de memória estrutural dos autarcas de Coimbra derrama sobre a cidade a maldição da célebre elocução de Marx segundo a qual a História, se se repete duas vezes, a primeira é como tragédia e a segunda como comédia. Nenhuma pessoa de bom senso pode esquecer a obliteração, o aniquilamento e a reestruturação promovidos pelo Estado Novo de toda uma porção de Coimbra, a Alta, durante o século passado. Não foi há muito tempo. Quem não se recorda pode ver as fotografias que convocam a cidade desaparecida.
A tragédia pode repetir-se agora (de forma nada cómica, convenhamos) a passagem do metropolitano ligeiro de superfície, celebrada utopia de papel dos regentes da cidade, na Baixa, acarreta a destruição de uma parte substancial do núcleo medieval da cidade, entre as ruas Direita e da Sofia. É certo que os prédios (aliás, toda a zona) estão degradados e esvaziados de vida. É certo que o metropolitano ligeiro de superfície tem de encontrar um caminho que una o rio à Universidade. Mas fará algum sentido a destruição leviana de testemunhos expressivos do passado de uma cidade? De acordo com Filipe Mário Lopes, presidente da Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana (OPRURB), a recuperação de edifícios bastante degradados é exequível e, indubitavelmente, a reabilitação é bem menos onerosa do que a construção nova. Recordo que num texto anterior ("Jornal de Notícias", 10/10/2007) aludi à desertificação da Baixa de Coimbra e à deterioração das condições de segurança que um esvaziamento de gente necessariamente implica. Assim, por que não aproveita a edilidade para rever a trajectória do metro (como sugere uma petição entregue na Câmara Municipal pela OPRURB) e para reabilitar aqueles prédios, promovendo em concomitância a fixação de jovens numa zona actualmente tão deprimente?
Aprender com os erros cometidos. Não esquecer. Parece fácil. Pode ser fácil basta resguardar os vestígios pretéritos onde o espírito da cidade foi convocado e através de um simples gesto de protecção preparar o seu futuro.

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21.11.07

Bandeira

Mínima.

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A vertigem

Não é apenas isso. Um castelo caído, a vitória total da princesa sobre o seu povo.

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20.11.07

100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #51


[Lugar ao contraditório (via Cobois)]

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19.11.07

Kengulu

Não existe a palavra princesa em Cokwe, pelo menos no Dicionário Cokwe-Português de Adriano Barbosa. Mas existe a palavra sole: designa um gafanhoto comestível. A sole é a fêmea do mbuze. Se acreditarmos no que diz Adriano Barbosa, a sole e o mbuze são os mais belos gafanhotos de Angola.

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Das cenas

Frank saw her more than a block away [...]
[John Updike, Natural Color, pág. 1]

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18.11.07

Passeio público

Quarta-feira, 12/11, no Jornal de Notícias
Julgo que Plotino não exprimiu bem as suas ideias e percepções do mundo quando disse que os homens estão a meio caminho entre os deuses e os animais. Eu acho que estamos bem mais perto destes. Apesar do fausto cultural e dos milénios de aprendizagem social a humanidade continua presa aos instintos mais básicos. Que ninguém se julgue eximido ou livre dos sentimentos mais pristinos e anacrónicos, aqueles que fluem do córtex reptiliano. Somos um macaco nu, mas não deixamos de ser um macaco.
Apercebo-me distintamente disto quando observo as pessoas (e a mim mesmo) e certifico a incomensurabilidade do abismo que muitas vezes as separa. Os brancos dos negros, os cristãos dos muçulmanos, os gordos dos magros, os beirões dos alentejanos. Simples divisões dicotómicas que relevam as fobias em relação ao que é diferente, ao "Outro" diverso de nós mesmos.
Vem isto a propósito da exposição "Meninos Gordos contar uma história através da faiança" que pode ser vista até 14 de Dezembro no Museu Antropológico da Universidade de Coimbra. Nesta mostra ficamos a conhecer parte da história de dois irmãos, Ana e Mateus, nascidos no Piemonte italiano na primeira metade do séc. XIX. Mas qual o potencial de interesse nestes dois irmãos, especificamente? Ana e Mateus eram muito mais altos e gordos que quaisquer crianças da sua idade. E, cito o prospecto que me foi fornecido no local da exposição, "por serem diferentes, converteram-se (...) no alvo da curiosidade e assombro de reis, príncipes e populações que os admiraram nalgumas importantes cidades europeias."
A ideia de exibir a diferença (o que era anormal) inscrita nos corpos era comum na época: recordemos os "freak shows" ou o circo do americano P.T Barnum que percorriam as cidades americanas e europeias mostrando toda a espécie de "erros da natureza", humanos ou animais.A verdade é que toda a diferença é castigada. A instintiva paisagem sugere-nos os corpos de indefinição repetida, disformes, grotescos e volumosos - para além das proporções toleradas. O gordo, o badocha, o rechonchudo objecto de admiração e espanto. Mas ao espanto e à admiração temos forçosamente que acrescentar o escárnio e a zombaria. A exibição da diferença balanceava certamente entre estes sentimentos e, no fundo, impunham a hegemonia da norma.
A normopatia, a preocupação em circunscrever as formas, as cores ou os comportamentos ao que é de regra, é, ainda hoje, uma das grandes preocupações dos indivíduos, dos estados e mesmo das entidades supranacionais, como a União Europeia, que nos impõe hábitos comportamentais "normalizados". Pretende-se eliminar a diferença. Só por isso, porque é "diferente". Infelizmente não há sequer um retrocesso. O animal esteve sempre dentro de nós. Não se esqueçam, ele dorme mas não está morto. Alijemo-nos do fardo do inumano e busquemos mais além a centelha que nos faz humanos.

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14.11.07

French music #eight

The Cure - Just Like Heaven

[You're just like a dream]

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Into oblivion

Seria aquele o sorriso salvífico? Um dia hei-de pensar nisso. Agora prefiro o enjoo da cama e a face velada de viúva das televisões apagadas. Ou talvez não, tenho que forçar um sorriso - adeus novembros longos de escuridão, melancolia de pedinte descalço nas portas de Santa Cruz, vazio imenso que nos enche.

Beleza de boneco animado, li eu, mensagem curta. Não posso crer: beleza, sim, mas de Afrodite. Menos que isso é execrar a própria deusa.


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13.11.07

Tertúlias do Casino

Francisco José Viegas, romancista, poeta, jornalista, gastrónomo, blogger, judeu, transmontano, portista, estará na “Tertúlia do Casino na Figueira” do próximo dia 13 de Novembro às 22h, com moderação de Carlos Vaz Marques [jornalista da TSF].

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11.11.07

Falling man

Sinto a definitiva atracção pelo homem em queda, soçobrando ao apelo estridente de quem voa e rasteja - seres em processo de ruína, ardidos pelo tempo, estranhamente solitários. Como se o olhar pervagasse sobretudo a decadência das horas melancólicas.

Mas, no Outono, gostamos de ver as folhas das árvores precisamente porque caem e cumprem o seu destino de aniquilamento.

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10.11.07

Desilusão

Julgava que me conhecia a mim mesmo: mentira. Julgava que conhecia os outros: mentira. E é difícil perdoar seja a quem for.

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9.11.07

O sítio errado

É uma pena. Não estou em casa. Eu que já tinha seleccionado, faz agora um mês ou dois, o livro "mais próximo ou mais à mão" de onde ia retirar uma bela citação à quinta linha da página 161. É por isso que leio o repto lançado pelo meu querido amigo Nuno Sequeira com algum pesar no coração [e uma ligeira cefaleia]. Lá estico a mão para o único livro [o clássico de Lewis Stimson, A Practical Treatise on Fractures and Dislocations ] que hoje descansa no tampo cinzento da minha secretária de trabalho no Departamento de Antropologia. Demoro a encontrar a página 161 [o livro é grande, tem 876 pp.] e identifico essa mítica quinta linha [a escolha da 5.ª linha estará relacionada com o Quinto Império?]. Transcrevo-a, vagarosamente, para vosso deleite:
"[...] even in the best cases, the functions of the rectum and bladder remain partially and permanently disabled."
Transmito esta bonita corrente ao Carlos Barradas, à Branca, ao Bernardo, à Catarina e ao Pedro Mexia [que estava mesmo ao meu lado no concerto dos Interpol, magnificamente acompanhado por uma morena de cabelos encaracolados].

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French music #seven

The Gossip - Standing in the way of control


[You're forgetting who you are]

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Passeio público

Na quarta-feira, no Jornal de Notícias

A Associação Académica de Coimbra (AAC) celebrou mais um aniversário. Oficialmente, a mais antiga associação de estudantes do país (e uma das mais provectas de todo o mundo) perfez a venerável e respeitável idade de 120 anos: foi precisamente em 1887 que os primeiros estatutos da incipiente organização estudantil foram redigidos. São 120 anos formais, já o disse, nutridos e polinizados pelos setecentos anos de história da Universidade de Coimbra (UC).

Seriam, certamente, 120 anos impossíveis sem o sólido e inamovível alicerce proporcionado pela vetusta ossatura da mais velha instituição universitária radicada no nosso país. E a Universidade de Coimbra: seria possível (imaginável ou factível) sem a sombra tutelar da AAC? Julgo sinceramente que não. O trabalho desenvolvido por gerações de estudantes na Rua Padre António Vieira (e antes no Colégio de São Paulo) edificou um universo de realidades inumeráveis, constituído e enredado num incessante tráfego de ideias, na rebeldia e espírito contestatário e na devoção quase monástica de milhares de voluntários.

Coetaneamente, a AAC vinca a sua importância sobretudo porque se apresenta como uma representação motivada de um mundo: a universidade e a academia. Esse mundo é encapsulado, pensado, organizado e festejado através da aptidão orgânica da Associação Académica de Coimbra. Mas também porque supre, como pode, a indigência cultural que é apanágio e predicado da autarquia conimbricense e, por vezes, da própria UC.

A cultura é, indubitavelmente, uma das pedras basilares da AAC. O desporto também. Os grupos culturais, passados e presentes, afectos à Associação são inúmeros e distendidos por uma ampla latitude de géneros: música (Orfeon Académico, Tuna Académica, Secção de Fados, Orxestra Pitagórica ou Coro Misto, entre outros), teatro e artes plásticas e performativas (TEUC, CITAC), cinema, fotografia e rádio (Centro de Estudos Cinematográficos, Centro de Estudos de Fotografia, Rádio Universidade de Coimbra), et caetera. Não posso deixar de mencionar as secções desportivas, que garantem aos estudantes (e não só) um agregado diverso de modalidades que, de outro modo, estariam claramente sentenciadas à inexistência na cidade de Coimbra: rugby, baseball, esgrima, desportos náuticos, xadrez, tiro com arco, e tantas outras. Rememoro, ainda, a industriosa capacidade organizativa de um organismo académico capaz de armar, duas vezes por ano, festas como a Latada e a Queima das Fitas.

Foi Michel Houellebecq quem escreveu que “a partir de certa idade, a vida torna-se sobretudo administrativa”. A pujança e o entusiasmo que ressumam da Associação Académica de Coimbra desdizem as palavras do escritor francês. Novas camadas de sentido vão sendo adicionadas sem que as antigas acepções sejam aniquiladas. A reinvenção é constante e insinua o afastamento consciente da vida administrativa, burocrática e mesquinha das instituições densas de anos.

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6.11.07

Waiting for tomorrow



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2.11.07

Si rimisero a pensare


Em quê? Ou melhor: em quem? Eis o abecedário da dúvida. O meu irmão mais novo acabara de descobrir o Shangri-la. Celebrámos a ternura do momento. Para quê? Corri pelas ruas acossado pelos cães de olhos tristes, bestas antigas de melancolia, carraças e pontapés no traseiro. Eu tinha asas de peixe morto [das canastras estridentes da lota]. Parecia ouvir-te em surdina, vozinha de barítono gorducho: corre, corre, corre! E eu corri. [Perche?] Eu não queria correr. Queria ficar parado para sempre na avenida, criar raízes que o cimento quebrado tornasse devolutas. Talvez ela passasse por mim irreconhecível de ninhos e clorofila, uma tarde entrada na noite, depois das missas de sétimo dia e das confissões forçadas a um cura manso de vinte séculos. E eu estaria ali para ela. Para o que ela quisesse fazer comigo e com as minhas mãos de negro esbranquiçado pelos genes. Uma estátua de carnes moles, comida pelo vento de anos e pelos olhares senis das raparigas. Corre, corre. Parecias dizer-me. E eu corri. Apesar da fluidez mesquinha e inquebrantável da derrota.

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1.11.07

Passeio público

O filósofo conservador Michael Oakeshott escreveu um dia que “as mudanças são circunstâncias às quais nos temos que acomodar”. Em Portugal, muitas vezes, a adaptação e aclimatação à mudança são desnecessárias. São redundantes. As coisas mudam pouco. Sobretudo o que está mal. As coisas são “para serem feitas devagar”, as mudanças “dão trabalho” e as pessoas não estão para “se chatear”, exigindo uma “mudança para melhor”. Somos assim (aqui concedo espaço a devaneios essencialistas): acomodados por natureza. Efectivos conservadores e protectores da estabilidade.

Analisemos uma situação – excêntrica mas, de certa forma, paradigmática – que ilustra a cultura do laxismo e partidária do “deixa andar” adoptada pelo português médio: a conjuntura em que, por uma razão ou por outra, se vai “comer fora”. Ir a um restaurante é um ensaio sociológico extraordinário. É uma experiência memorável se tivermos a felicidade (ou a sapiência dos iniciados) de encontrar um restaurante que reúna uma série de condições que nos encham literalmente o estômago de boas reminiscências. Coisas simples: bons preços, ementa sortida, pratos fartos e aprazíveis, atendimento cortês, asseio e esmero na decoração. Coisas elementares, singelas. Quando as coisas não são assim – o que acontece inúmeras vezes – não protestamos, abrimos a boca somente para tentar engolir algum pedaço mal amanhado de frango ou alguma batata frita em óleo dado ao mundo em meados dos anos de 1990. E voltamos no outro dia, se necessário for. Sempre de sorriso nos lábios. E com muita fome. Como dizia Cícero, quando não tinha nada melhor para dizer: “O melhor tempero da comida é a fome.”

O nosso país tem uma gastronomia óptima. As pessoas são, de um modo geral, afáveis. E asseadas, limpas. Temos óptimos restaurantes. Não percebo é porque estão tão mal repartidos pelas diferentes regiões do país. Exceptuando alguns casos notáveis (não vou fazer publicidade), Coimbra tem uma restauração sofrível. Nalguns casos é mesmo terrível. Péssima. Coimbra é uma cidade de restaurantes típicos dos países em vias de desenvolvimento. Piores. Pelo menos nesses países os empregados são simpáticos e solícitos. As montras são exóticas e inundadas pelo folclore local. Não fazem a apologia do “kitsch”, do plástico fluorescente e do mau gosto.

O problema é que a cidade só pensa nos estudantes e nos jantares de curso. A qualidade nivela-se pelos oito euros e meio que custa o bife de porco grelhado (acompanhado de arroz e salada) e o vinho “à discrição”. A índole da restauração conimbricense deve ainda muito à ambiência das tascas de outrora. Com o que isso tem de bom e mau. Nesta altura do ano, com a sombra da Latada estreitada sobre a cidade, os restaurantes enchem-se de estudantes pouco exigentes em matérias gastronómicas. A mesa é fraca mas nunca está vazia de gente. E quem quiser comer bem pode sempre ir passear para outro recanto do país.

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