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9.11.07

Passeio público

Na quarta-feira, no Jornal de Notícias

A Associação Académica de Coimbra (AAC) celebrou mais um aniversário. Oficialmente, a mais antiga associação de estudantes do país (e uma das mais provectas de todo o mundo) perfez a venerável e respeitável idade de 120 anos: foi precisamente em 1887 que os primeiros estatutos da incipiente organização estudantil foram redigidos. São 120 anos formais, já o disse, nutridos e polinizados pelos setecentos anos de história da Universidade de Coimbra (UC).

Seriam, certamente, 120 anos impossíveis sem o sólido e inamovível alicerce proporcionado pela vetusta ossatura da mais velha instituição universitária radicada no nosso país. E a Universidade de Coimbra: seria possível (imaginável ou factível) sem a sombra tutelar da AAC? Julgo sinceramente que não. O trabalho desenvolvido por gerações de estudantes na Rua Padre António Vieira (e antes no Colégio de São Paulo) edificou um universo de realidades inumeráveis, constituído e enredado num incessante tráfego de ideias, na rebeldia e espírito contestatário e na devoção quase monástica de milhares de voluntários.

Coetaneamente, a AAC vinca a sua importância sobretudo porque se apresenta como uma representação motivada de um mundo: a universidade e a academia. Esse mundo é encapsulado, pensado, organizado e festejado através da aptidão orgânica da Associação Académica de Coimbra. Mas também porque supre, como pode, a indigência cultural que é apanágio e predicado da autarquia conimbricense e, por vezes, da própria UC.

A cultura é, indubitavelmente, uma das pedras basilares da AAC. O desporto também. Os grupos culturais, passados e presentes, afectos à Associação são inúmeros e distendidos por uma ampla latitude de géneros: música (Orfeon Académico, Tuna Académica, Secção de Fados, Orxestra Pitagórica ou Coro Misto, entre outros), teatro e artes plásticas e performativas (TEUC, CITAC), cinema, fotografia e rádio (Centro de Estudos Cinematográficos, Centro de Estudos de Fotografia, Rádio Universidade de Coimbra), et caetera. Não posso deixar de mencionar as secções desportivas, que garantem aos estudantes (e não só) um agregado diverso de modalidades que, de outro modo, estariam claramente sentenciadas à inexistência na cidade de Coimbra: rugby, baseball, esgrima, desportos náuticos, xadrez, tiro com arco, e tantas outras. Rememoro, ainda, a industriosa capacidade organizativa de um organismo académico capaz de armar, duas vezes por ano, festas como a Latada e a Queima das Fitas.

Foi Michel Houellebecq quem escreveu que “a partir de certa idade, a vida torna-se sobretudo administrativa”. A pujança e o entusiasmo que ressumam da Associação Académica de Coimbra desdizem as palavras do escritor francês. Novas camadas de sentido vão sendo adicionadas sem que as antigas acepções sejam aniquiladas. A reinvenção é constante e insinua o afastamento consciente da vida administrativa, burocrática e mesquinha das instituições densas de anos.

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