Si rimisero a pensare
Em quê? Ou melhor: em quem? Eis o abecedário da dúvida. O meu irmão mais novo acabara de descobrir o Shangri-la. Celebrámos a ternura do momento. Para quê? Corri pelas ruas acossado pelos cães de olhos tristes, bestas antigas de melancolia, carraças e pontapés no traseiro. Eu tinha asas de peixe morto [das canastras estridentes da lota]. Parecia ouvir-te em surdina, vozinha de barítono gorducho: corre, corre, corre! E eu corri. [Perche?] Eu não queria correr. Queria ficar parado para sempre na avenida, criar raízes que o cimento quebrado tornasse devolutas. Talvez ela passasse por mim irreconhecível de ninhos e clorofila, uma tarde entrada na noite, depois das missas de sétimo dia e das confissões forçadas a um cura manso de vinte séculos. E eu estaria ali para ela. Para o que ela quisesse fazer comigo e com as minhas mãos de negro esbranquiçado pelos genes. Uma estátua de carnes moles, comida pelo vento de anos e pelos olhares senis das raparigas. Corre, corre. Parecias dizer-me. E eu corri. Apesar da fluidez mesquinha e inquebrantável da derrota.
Etiquetas: Campanile, devaneios, literatura
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