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31.5.04

Efeméride em detença



No dia 27 de Maio de 1963 morria um dos mais fecundos cultores da língua portuguesa, Aquilino Ribeiro. Dele disse, um dia, Oliveira Salazar: "Comece o seu inquérito pelo Aquilino. É um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim mas não importa: é um grande escritor." Quem lê o Daedalus percebe que a minha escrita muito deve ao romancista do picaresco e do regional.

A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol (... )? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser

A Casa Grande de Romarigães (excerto)


p.s. Este tributo é devedor ao Luís Rainha, do BdE.

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Cansaço

Estou tão cansado, tão cansado, mas tão cansado que só tenho forças para dizer isso mesmo: estou tão cansado. A televisão debita a indignação de Paulo Pedroso e apaniguados, a felicidade do arqueólogo Francisco Alves [que é scientific advisor da National Geographic Portugal para a arqueologia náutica] por ser pronunciado somente por posse de arma ilegal e as iniquidades que se vão verbalizando na recém-nascida campanha eleitoral para as eleições europeias. O cansaço que sinto é sublimado. Se tivesse uma réstia de força [e dinheiro para comprar um novo] escavacava o televisor.

30.5.04

A pescaria

O sol não se atrevera ainda a mostrar a sua face madrugadora e o galo dormia enroscado na pedrês favorita do harém quando o Fernando acordou, levemente inebriado pelo cheiro a álcool que adocicava a atmosfera da enxerga. Depois de comido com urgência o frugal viático, não mais que pão seco e metade de uma sardinha que restara da ceia, empurrados por um copo de palhete; o ainda bamboleante rapaz vestiu-se e arrumou na motorizada a telescópica Shakespeare de 6 metros, a ervilhaca que ia servir de engodo, a caixa de material e um saquinho onde, vivazes e nojentas, se remexiam no meio de serradura as larvas de mosca da fruta, mais conhecidas pelos pescadores por asticô. Já na margem arborizada do pachorrento Mondego, acomodou-se e à cana da melhor maneira que soube e iniciou o que prometia ser pescaria à antiga. Depois de uma manhã transcorrida no tira e põe da linha, atento à corrente da água e ao vento e não menos ao passeio aquático da pequena bóia de cortiça, as expectativas não poderiam ter sido menos defraudadas – como sempre não ia levar um único barbo, ruivaca ou enguia para casa. Ao meio-dia decidiu voltar a casa e ao passar na ponte da vala, a motoreta a ronronar como um gato no cio de Janeiro, estacou um pouco, à conversa com o Pupazinho, este em passo lento para o regular passeio campestre. “Apanhaste alguma coisa?”, perguntou o Pupa, a boina espanhola a cobrir a calva luzidia de suor. “Uma boga”, retorquiu o Fernando. “Pois, pois. Então mostra-ma, se faz favor.”, açulou o outro, zombeteiro. “Deitei-a ao rio. Era tão grande que não cabia na frigideira”, e abalou de rompante, arrojando metade da poeira da estrada para o corpo afunilado do passeante.

29.5.04

Silêncio

Corres descalça pela casa, o cabelo molhado aspergindo um Nilo pelos corredores, e lá fora no jardim algumas flores, violetas e amores-perfeitos, aguardam o momento em que as vou colher e depô-las nas tuas mãos. O arrepio do silêncio cumpre o seu destino enquanto secas o cabelo no quarto do fundo.

28.5.04

Conversa da treta

-Boa tarde, o menino é arqueólogo?
-Não, sou antropólogo.
-Pois, pois, claro. Que estupidez a minha. Para estudar dinossauros o menino só podia ser antropólogo nunca um arqueólogo.

27.5.04

Desabafo

A lição parece clara: a humanidade também pode ser exposta como um animal no zoológico.

Se troquei a calma sensaboria de um gabinete pela rudeza indómita do “campo” e o portátil pela escova e pico, foi porque me sinto livre no seio da terra a esgaravatar o passado. Mas desta vez a liberdade foi-me cerceada. Uma escavação no centro da cidade, numa rua movimentada, sem barreiras erguidas entre mim e os transeuntes [somente as linhas de marcação da sondagem] pode ser uma jaula de zoológico. A sensação de estar constantemente a ser observado por alguém magoa. E como responder às centenas de perguntas e afirmações recorrentes: é ossos?, são de homens?, são dinossauros?, se calhar foram aí postos durante as invasões dos ingleses, que nojo, que espectáculo, que paciência, ó menino para que é que isso serve?, não seria melhor meterem aí a retroescavadora?, and so on. Uff. Em cada homem ou mulher, em cada criança e em cada velho que por ali passa existe um arqueólogo, um historiador, um eminente osteólogo. E eu, um animal que fuça na terra, desidratado, que por vezes nem sabe bem o que está ali a fazer.

26.5.04

O Hilé

Sou eu, o amor.
Da terra aspiro
o sabor da criação.
Sem menopausa, sou eu
uma gota que refresca
os teus lábios
e apaga o calor
de um adeus.


O espírito não dá sentido
a tudo o que sente
e eu sinto que já não sinto.
Estou perdido e só.

Campeões



Parabéns ao Futebol Clube do Porto: aos seus jogadores, equipa técnica, direcção, associados e simpatizantes [Um abraço muito especial ao Bruno, ao Boss, ao Francisco, ao Aníbal, ao Vasco, ao Ricardo, ao Pedro, ao Ricardo Curate e ao Ricardo “Manacho”]. E a todos os portugueses que, durante 90 minutos, sofreram pela equipa azul e branca.

25.5.04

Fieldwork as a statment

“Odeio viagens e exploradores”
Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos

A verdadeira metáfora da experiência antropológica será, porventura, a viagem ao encontro do Outro, a dolorosa e completa imersão num ethos alienígena que se pretende observar, colectar e, metodicamente, registar em suporte duradouro. Mais tarde, depois do mergulho analítico, a conclusão de que os modos de ser do Outro são, por vezes, inacessíveis, mesmo a olhares treinados para ler a escrita furtiva de um ritual, de um objecto, de um gesto fugaz. Não há lugar para a aventura na profissão de etnógrafo, só para o desassossego e inquietude.

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24.5.04

Ridiculous thoughts – Linguagem entre os animais


Kanzi falando consigo mesmo

Infelizmente, uma boa porção dos cientistas sociais rejeita, implícita ou explicitamente, a evolução do homem nos moldes observados em todas as outras espécies, erigindo reiteradamente um Rubicão que separa o humano do não humano, nós do Outro animal: esse Rubicão coincide usualmente com a impetração de um sistema de linguagem. Os prosélitos da particularidade humana postularam um algar inultrapassável entre as capacidades mentais dos humanos e dos grandes símios [chimpanzés, bonobos, orangotangos e gorilas]. Os critérios de distinção centraram-se, inicialmente, no uso de instrumentos e, mais tarde, nas capacidades cognitivas e linguagem, os últimos baluartes das potenciais diferenças de natureza. Mas, podem mesmo os grandes símios usar a linguagem, apesar de não a adquirirem na natureza? Esta cogitação fascinante foi ideada no início dos anos 20 do século passado por Yerkes, que estava bem ciente das diferenças cognitivas entre os hominóides e o resto dos primatas. Yerkes sugeriu que, como os chimpanzés pareciam incapazes de emitir um espectro considerável de sons de forma a utilizarem linguagem verbal, o melhor método de pesquisa seria a utilização de linguagem através de signos. Os estudos realizados desde os anos 60 do século passado, pelo casal Garden, com o chimpanzé Washoe e por outros cientistas mostraram que, em interacção estreita com os humanos, os orangotangos, chimpanzés, bonobos e gorilas [Kanzi, Sherman, Loulis, Lana, Moja, Tatu, Dar ou Austin, entre tantos outros] podem aprender a usar sinais visuais ou sons vocais com o intuito de estabelecerem uma comunicação simbólica. O homem por vezes não se reconhece no espelho.

[Mais sobre a origem da linguagem aqui]

Macacadas

Samuel Pepys, após ter observado um babuíno (ou talvez um chimpanzé) na cidade de Londres, anotou no seu diário em Agosto de 1661: Acredito que ele já entenda bem o Inglês; e sou de opinião que pode ser ensinado a falar ou a fazer sinais.

23.5.04

Talvez camiliano

Aquilino Ribeiro disse uma vez que todo o leitor modelo português era do lado do Eça ou do lado do Camilo. Embora leitor, e até português, estou longe de ser modelo, presumindo, no entanto, caber justa e aconchegadamente na banda camiliana. Entre a enumeração pródiga e científica de uma sala de fumo depois do jantar e um beijo que pode trazer o infortúnio aos dois amantes, prefiro a verbosidade da descrença nos amores que acabam bem.

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22.5.04

Rainha



A única que conheço, de nome Letícia*.



*Tradução livre de Letizia e Laetitia

21.5.04

Guerra dos pequeninos

Havia levante e chovia. Voltei à casa velha, ensombrada por loureiros esmaecidos de verde, e recordei os verões que sucederam debaixo da figueira grande, na areia que iria construir a casa nova. No local onde brincávamos às guerras com soldadinhos de plástico e fazíamos prisioneiros que, sadicamente [como éramos cruéis, as crianças da casa], torturávamos até o plástico se tornar uma massa informe, existe agora uma cama de restolho, e algumas flores de que não sei o nome. O que fazíamos naqueles dias com aqueles soldaditos de plástico caqui e cinzento, de má qualidade, foram coisas que só gravei na minha memória. Não tínhamos máquinas fotográficas digitais, e, provavelmente, não éramos tão maus como aqueles soldados com coração de plástico, de má qualidade, de que falam as notícias.

Maio 3

Talvez o melhor de Maio sejam as cerejas na tua boca. O sangue do entardecer que eu como despreocupadamente enquanto dizes para eu não atirar o caroço para o chão.

19.5.04

Maio 2

Lá fora. Ainda vou a tempo de te ver a flamejar rente à relva aparada e humedecida pelas últimas gotas do entardecer. Se ainda fosse criança, pegava-te com cuidado, aprisionava-te num copo junto a um punhado de sal, e ia dormir à espera do presente pela manhã. Talvez uma moeda que trocaria por um sorvete. Deixo que pouses na minha mão antes que saltes para a roseira. Está calor e amanhã não quero comer gelados.

Os pirilampos, ou salacus, como eu sempre lhes chamei, começam a ser avistados nas noites quentes de Maio. Há quem acredite que se esconde um tesouro onde eles pousam.

18.5.04

Agora, estes são os melhores do mundo

Quim, Ricardo, Moreira, Paulo Ferreira, Nuno Valente, Miguel, Ricardo Carvalho, Beto, Rui Jorge, Fernando Couto, Jorge Andrade, Costinha, Deco, Petit, Maniche, Tiago, Rui Costa, Simão Sabrosa, Ronaldo, Figo, Postiga, Pauleta e Nuno Gomes.

Pelo menos até finalizarem a sua participação no Euro 2004. Depois, as críticas ou o champagne.


O seleccionador Luiz Felipe Scolari divulgou a lista dos 23 convocados para o Euro 2004. As grandes surpresas são a chamada do guarda-redes do Benfica Moreira [pauvre Baía] e a não inclusão do extremo Luís Boa-Morte. Outra [semi] novidade é a justa inserção de Maniche nos 23 ungidos.

17.5.04

Outer Space



Nós, lá fora.

Gostei



da entrevista de Petit, inserta no programa da RTP Vive o 2004. Como o homem que toca o bombo no meio campo do Benfica é dado a aforismos registei dois momentos deliciosos que agora transcrevo para obrigatória leitura dos mais distraídos:

"Habituei-me a falar desde os 20 anos"

"Eu às vezes canto sempre no balneário"

Mítico.

Princípio da não contradição

A forma mais brutal do cristianismo, objectificada nas Cruzadas, Inquisição ou no secular anti-semitismo, encontra-se intrinsecamente relacionada com a intolerância dogmática para a qual a verdade deve ser apenas uma. A Teologia ortodoxa é herdeira do princípio da ciência grega da natureza: não há duas verdades. Desse modo, se duas afirmações em relação a Deus são dissemelhantes, uma é necessariamente falsa. Mas a aventura intelectual que foi a instituição de uma Teologia Racional, metafísica, prometeu Kant e a acumulação de dúvidas em relação à sua possibilidade. O projecto do cristianismo e a sua ética podem ser desviados da intolerância através de uma Teologia crítica, reveladora da palavra essencial: o Sermão da Montanha e o ama o próximo como a ti mesmo.

16.5.04

Mortal combat (Continuação)

Já tinha dito que o gato doméstico é legenda, em que poucos deviam crer. O gato continua selvagem e livre, não é como os cães que venderam a alma em troco de uma côdea de pão.
Quando me apercebi dos três tunantes a jogarem pelota com o melrito de voo primeiro, peguei num torrão de barro e, com pontaria pouco menos que certeira, dei caça aos caçadores. O pássaro núbil tremia de medo e assombro, fosse um pouco mais velho e ateroscleroso e provavelmente teria sucumbido a uma síncope cardíaca. Morreu pouco depois, num aconchego improvisado na arrumação de casa, olhos abertos e pose rígida de general. Deveria tê-lo deixado morrer digladiando os inimigos ancestrais. Assim partiu sem glória, chorado pelas mulheres e por mim.

No Centro do Arco

Novo título do poeta João Rasteiro, amigo e hábil tecelão de letras, a apresentar amanhã, segunda-feira, pelas 18:30h no foyer do Teatro Académico de Gil Vicente. A sua escrita sanguínea, onde o divino é presença recidiva e o corpo materialidade tangível, remete quase sempre para o assombro que é a insignificância do quotidiano:

“O corpo é o lugar onde o medo se inscreve
indiferente aos acordes das cítaras
o estertor doce dos vidros bamboleantes
a liberdade na teia do casulo
agitando as lanternas sob o arco interior.”

Retirado de Retrato


João Rasteiro, No Centro do Arco, Palimage

15.5.04

Estrelas

-Paizinho, como é que nascem as estrelas?
-Bem, quando Deus era pequenino, como tu, decidiu espalhar no céu os grãos de milho que andava a semear, dar-lhes luz e tornar o céu mais bonito.
-Então as estrelas não se formaram através de forças gravitacionais de grande magnitude que agruparam e concentraram nuvens de gás e de poeira cósmica…
-Ó filha, isso são estórias para assustar criancinhas.

14.5.04

O antropólogo e Tintim


O antropólogo Miguel Vale de Almeida, numa pequena reflexão em torno das dificuldades que a comunidade russófona da Estónia enfrenta em aceder à cidadania deste novel país da EU, assemelha o cultivo da língua, do folclore e das "tradições" pelos estónios aos nacionalismos de um pequeno país como a Sildávia de Tintim. Embora concorde com o fulcro do texto de MVA, não me delongo sobre as suas considerações (de MVA), mas sobre o episódio de Tintim a que se refere, O ceptro de Ottokar. Hergé inicia a história de um modo “normal”, isto é, o jovem repórter do Petit Vingtième realiza um acto sem importância aparente (visita um museu onde roubam uma estatueta, aproxima-se de um avião com defeito que acabou de pousar, etc.) depois, progressivamente, começa a envolver-se em eventos de proporções astronómicas cujo alcance só será compreendido muito depois. O enredo de O ceptro de Ottokar é dissímil, no entanto, porque através dele Hergè ideou uma crítica acre ao expansionismo fascista-nazi. Por exemplo, o nome do chefe da Guarda de Ferro da Bordúria, Müstler, resulta da contracção dos nomes de dois imbecis que um dia aportaram neste planeta: Hitler e Mussolini.

13.5.04

Parabéns 3

Trezentos e sessenta e cinco dias de um blogue de excelência, em que a sublime arte de escrever sobre o quotidiano, de uma forma consciente e combativa, é a norma de edição. Muitos parabéns Miguel!

Fátima

Apesar de cristão nutro sentimentos antinómicos em relação ao fenómeno religioso de Fátima. Se, por um lado, pressinto na religiosidade que envolve as “aparições” um timbre popular que se aproxima da crença “real”, sentenciosa e incorrompida pelas hierarquias católicas; por outro, repugno a apropriação da fé para fins lucrativos, corporizada pelos reles vendilhões que tomaram de assalto as imediações do santuário; e a recidiva expressão de fé através do auto-sacrifício [o mesmo não é dizer que repugno as pessoas que, livremente, escolhem esta maneira de manifestar a sua fé]. Noto que Fátima, enquanto fenómeno mundial de religiosidade, provoca nas pessoas reacções extremas, de aceitação ou rejeição, que são visíveis, por exemplo, nos posts de hoje do Barnabé e nas reacções aos mesmos.

Qualquer religião não sujeita a uma hermenêutica crítica é fundamentalista. Fátima deve ser, portanto, questionada e avaliada, teologicamente dissecada. Julgo, no entanto, que questionar é diferente de zombar e que a incomensurabilidade de opiniões díspares não legitima a despromoção satírica dos "videntes" (aka pastorinhos), de peregrinos e do próprio santuário. O pedantismo intelectual de alguns também é uma forma de fundamentalismo.

Mortal combat 1

O sol ainda mal começara a decair e a tarde, de infinita complacência, teimava em demorar-se quieta. Eu sabia, de reparo anterior, que os ninhos eram três: dois no silvado, empoleirados nas forquilhas dos loureiros, e um na vinha, rescendendo o odor açucarado da parreira. Todos tinham criação, denunciada pela azáfama procriadora das aves adultas, melros pretos. A minha óbvia inquietação escorria de fonte felina, os gatos da casa sabiam, há mais tempo que eu, o manjar que se acoitara por ali. Mesmo quando de barriga farta, o gato doméstico [que, para mim, é quimera. O gato continua selvagem e livre, não é como os cães que venderam a alma em troco de uma côdea de pão] não perde uma oportunidade de se divertir com rataria, hordas de insectos e passarada que com ele têm o azar de se cruzar. Apesar de Darwinista ferrenho não ia deixar que a turma traiçoeira se deleitasse com aquelas aves imberbes, ainda mal amanhadas de penugem e a tiritar de frio quando os pais se ausentavam para procurar papinha. [Continua]

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12.5.04

Joaking

O beijo decadente de uma noite no Queimódromo, depois do alquebrado Cortejo, seduz-me pela possibilidade de revivescer memórias aparentemente esbatidas e de [re]ver antigos compagnons de route. Mas talvez o melhor da noite seja a romaria anual ao palco principal para prestar humilde e sincera homenagem ao King [Barreiros], poeta popular e animador de multidões.
Veja-se, a propósito, o que escrevi aqui e que, com a vossa aquiescência, recupero agora:

"Ben Harper e Quim Barreiros: mais que grandes letras estes homens partilham a saudável capacidade de subjugar os seus públicos. No Pavilhão Atlântico ou lá em baixo depois do Cortejo o mundo é deles."



11.5.04

A noite, aberta e iniludivelmente sensual, toca de longe aqueles para quem o tempo não conta. Ironia. Lágrimas bruscas, gargalhadas depois de anedotas fáceis. A ironia é viver noites sem fim porque tudo tem um fim.

Excertos da noite – Conversa gritada

-Ela deu-te uma tampa?!
-Amigo, não brinques, foi exactamente ao contrário. Só faltou ela pôr-se ali de joelhos a pedir-me que não a deixasse.
-Pois, pois… E eu sou o Durão Barroso.
-Estou a dizer-te. Eu é que não quero mais nada com ela.
-Então porque é que estás a chorar?
[...]

10.5.04

Maio

Alguém disse que o céu de Maio é o mais bonito do ano. O som distinto a chuva, metálico sobre o capot do automóvel, desmascara a insensatez de tão categórica percepção. Os teus olhos são de arroz e noz-moscada, vítreos de madrugada. Talvez o céu de Maio sejas tu.

8.5.04

Amanhã

Parabéns 2



Se pudesse consagrava-te o “Rapaz”. Ofereço-te um beijo que é uma forma não menos autêntica [e amante] de te dar os parabéns.

7.5.04

Parabéns

Aos marujos do Mar Salgado, pela notável mestria que empregam na condução do seu Pequod pelos encapelados oceanos blogosféricos [parabéns em antecipação]. Ao JPP por ter sido o culpado da visibilidade mediática da blogosfera, escorado em 365 dias de Abrupto [parabéns em detença]. Ao Ventura e ao Rodrigo pelo debute na blogosfera. Ao Marcos por este magnífico [terceiro!] blog.

Coonestar

Verbo estranho e, indubitavelmente, provido de uma fragrância de actualidade que parece que foi cunhado por um jornalista [?] da TVI ou do 24 Horas. A Charlotte certamente assentirá que, no referencial mediático que o país atravessa, coonestar é um vocábulo que aclara bondosamente o que se passa com Valentim Loureiro, Carlos Cruz e a outra malta similar. Fazer com que pareça honesta, disfarçar, legitimar. É o que este verbo denuncia. É o que está a acontecer e ainda ninguém teve a coragem de nomear.

6.5.04

Acrato

(s.m.) Qualidade do que é puro, sem mistura.

Gosto de pessoas politicamente comprometidas, padres incluídos. Não gosto de padres a esgrimir argumentário político e a fazerem campanha por determinados partidos na solenidade do púlpito, ensombrados pelo sacrário. A Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

A primeira noite de sete – Um adeus à festa

Adormeci vagamente inspirado num caixote de lixo sob um candeeiro, dois copos de plástico espiando um homem ébrio que peleja para não cair na poeira da noite. Indecisamente, o meu olhar transpôs o umbral negro do sonho e espiou de perto aquele corpo lívido, espectro fugidio de um conto de Edgar Allan Poe. Através do óculo de Galileu apercebi-me que viveu a noite em correrias loucas, assaltou a barraca do pão com chouriço e arrebatou romances de ocasião.

Acordei. Foi só um sonho, espero. Aquelas sete noites nunca mais voltarão a ser. Pelo menos para mim.

5.5.04

Tece a teia, a pequena aranha

Gosto de aranhas. Gosto, mesmo quando são enormes e peludas e anediam a nossa pele, sem que saibamos o que provoca aquele prurido pseudo-sensual. Gosto, sobretudo, porque sei tão pouco sobre elas [São artrópodes porque possuem exoesqueleto e aracnídeos porque têm 6 pernas, cabeça e tórax; e mais não sei]. E um estranho é simplesmente um amigo que ainda não conheço.

O maior 2



Em [19]87, ainda vagueava pela escola primária, torci pelo Futebol Clube do Porto na final de Viena para acintar a minha vizinha germânica, a Rebecca, que naturalmente depunha todas as suas esperanças no Bayern de Munique. Desta vez torço pelo FCP porque sei reconhecer uma grande equipa.

4.5.04

Todos diferentes, todos iguais [os homens]

Nesta raia de brandos costumes, as mulheres auferem salários bem menores que os homens, olham de longe os lugares de chefia e trabalham em casa como escravas sobremodernas. No Afeganistão são envenenadas por almejarem uma educação escolar. Duas faces de uma moeda que já devia ter saído de circulação.

Os culpados

Foi antes da manhã, ainda o sol era uma promessa. De bruços, aspirando a serenidade do lençol de flanela, contei os minutos que ia suportar desta vez. O quarto pareceu sorrir num libelo de escárnio, penso mesmo que sussurrou algo ligeiramente trocista à mesinha de cabeceira. Não pude resistir à invectiva contida dos que me rodeavam. Ergui-me pesarosamente, senti ainda os chinelos de quarto [mas só agora recordo isso], manobrei dez vacilantes passos e, já defronte dela, jurei que esta era a última noite que a ela me submetia. Puxei o autoclismo e, enquanto tornava à cama, pensei nos dois copos de água que bebi antes de me deitar. Eles é que eram os culpados de mais uma noite mal dormida.

3.5.04

O maior



"Com ele, todos os carros andavam mais depressa, todas as equipas venciam mais corridas [André A. Amaral]"

Mentiroso

Pensas que te quero abraçar? O abraço é o meio para tocar um desfecho banal. Quero sentir o aroma do teu pescoço quando apoias a cabeça no meu ombro. Gosto de abraços que cheirem bem.

Uff

[Para eliminar o W32.Sasser.B.Worm]

process: avserve2.exe (terminated)

registry: HKEY_LOCAL_MACHINE\SOFTWARE\Microsoft\Windows\CurrentVersion\Run: avserve2.exe (value deleted)

C:\System Volume Information\_restore{2A7FB207-A6E1-4ADC-86FE-7DBE98DA0AE6}\RP125\A0064115.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\avserve2.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\11582_up.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\17118_up.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\2455_up.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\4713_up.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\4802_up.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\7917_up.exe: (deleted)
C:\WINDOWS\system32\9367_up.exe: (deleted)
D:\System Volume Information: (not scanned)

W32.Sasser.Worm has been successfully removed from your computer!

Here is the report:

The total number of the scanned files: 64878
The number of deleted files: 9
The number of viral processes terminated: 1
The number of registry entries fixed: 1

SOS

muita azáfama STOP porcaria de vírus STOP espero resolver problema rapidamente STOP

1.5.04

Em tua casa

Recordo esses momentos em que me davas um beijo de fugida, quando ouvíamos os teus pais a rodarem a chave na porta e os nossos corações a desejarem um abraço mais longo.