Os culpados
Foi antes da manhã, ainda o sol era uma promessa. De bruços, aspirando a serenidade do lençol de flanela, contei os minutos que ia suportar desta vez. O quarto pareceu sorrir num libelo de escárnio, penso mesmo que sussurrou algo ligeiramente trocista à mesinha de cabeceira. Não pude resistir à invectiva contida dos que me rodeavam. Ergui-me pesarosamente, senti ainda os chinelos de quarto [mas só agora recordo isso], manobrei dez vacilantes passos e, já defronte dela, jurei que esta era a última noite que a ela me submetia. Puxei o autoclismo e, enquanto tornava à cama, pensei nos dois copos de água que bebi antes de me deitar. Eles é que eram os culpados de mais uma noite mal dormida.
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