Efeméride em detença
No dia 27 de Maio de 1963 morria um dos mais fecundos cultores da língua portuguesa, Aquilino Ribeiro. Dele disse, um dia, Oliveira Salazar: "Comece o seu inquérito pelo Aquilino. É um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim mas não importa: é um grande escritor." Quem lê o Daedalus percebe que a minha escrita muito deve ao romancista do picaresco e do regional.
A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro de batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol (... )? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco, verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser
A Casa Grande de Romarigães (excerto)
p.s. Este tributo é devedor ao Luís Rainha, do BdE.
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