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30.4.07

Greek music #fourty six

Silhueta

Há quem sinta a noite pelas costas e não receie a solidão. Eu não sou desses. Quando chega o calor [e hoje não é um desses dias] digo sempre, baixinho, só para eu ouvir, que hei-de pegar no saco cama, levá-lo para o monte, e passar a noite com ele. Dislates de primavera, sem concretização prática. Amedrontam-me a trevas e os barulhos que por lá se agigantam, o não visto. O que se pode pressentir mas não cheirar ou ouvir ou ver. E por isso não se pode exactamente nomear. Será este ano, talvez. Quando passar o frio.

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28.4.07

Folio

Foi enganado tantas vezes que já só acreditava quando lhe diziam mentiras.

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Vidal e Jimi

-Com a tua amiguinha, não me parece, pá.
-O que é que tem a minha amiguinha, como tu dizes? No fundo, todas as mulheres são iguais e uma como esta não te traz aquilo a que se chama o menor inconveninete.
-Bom, pá, vais perdoar-me, mas não é muito bonita.
-Penso noutra. O fundamental é gostares de alguma. Se, por mais que dês voltas à cabeça, não encontrares uma única que te agrade, alarma-te a sério, porque então chegaste a velho.
[Adolfo Bioy Casares, Diário da Guerra aos Porcos, pág. 87]

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27.4.07

Bible exegesis

26.4.07

São sete dias, sete



O extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico ou religioso – genocídio, que há quem trate as coisas pelo nome – do povo de Darfur parece que só agora se vai visibilizando no selectivo olhar de activistas e media internacionais. Um corpo no Darfur é quase invisível, a carnificina improvável e pouco noticiada. E, no entanto, neste apocalipse no vácuo, neste cenário abominável e quase sem testemunhas, já morreram mais pessoas que nos conflitos do Ruanda, Balcãs e Chechénia amalgamados. O Darfur é somente a ponta do icebergue desértico de uma gigantesca ablação de vidas, modos de ser e esperança, cujo descomunal palco é o Sudão, quase toda a África.

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Greek music #fourty five

[O violino de Perlman, virtuoso israelita, tange docemente contra qualquer tipo de dupla precaução]

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25.4.07

Somos livres: tradição

O afago meigo do vento na minha face atrida reclama as memórias delidas de uma noite distante. Éramos jovens com asas de anjo vingador, guerreiros indómitos com o buço a despontar e a G3 cingida ao corpo, amante engatilhada para o encontro com a morte. Naquele dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, ainda o estertor da noite vinha longínquo, já os vultos camuflados adejavam, silentes, na mata de Cantanhez, esperando conformados a punitiva resposta ao desafio lançado quando entráramos na espessura vegetal.
Foi nesse dia que perdi a audição. De qualquer forma eu já estava habituado ao silêncio. O silvo de uma bala, o último som que terei escutado, talvez a mesma que tocou o Gomes entre os olhos e o norteou para o reverso da vida. Não teria sido diferente se a derradeira audição tivesse sido consagrada a Wagner ou a Chopin, hoje não te poderia ouvir a ti e é isso que lastimo. Quando o furriel Gomes capitulou, a face alva de alentejano [ou minhoto] surpreendida pela bala da “costureirinha”, o seu corpo baqueou mesmo a meu lado. Abracei-me a ele e sussurrei-lhe, desesperançado, sem me ouvir, que ia ficar bem. E lembrei-me do dia em que vim para a Guiné, da minha mãe a rezar em frente de uma fotografia minha vestido de militar. Queria estar junto dela [será preciso dizê-lo?], olhar a sua face empergaminhada, tocar-lhe as mãos quentes. Não estar ali.O sangue quente gotejava nas minhas mãos assassinas, aquele vermelho vívido como um cravo no cano de uma G3, o olhar relapso nos olhos exauridos do Gomes. Percebi que aprendêramos a matar sem que soubéssemos porquê. O guerrilheiro pelo menos sabia porque matava, eu não. Ainda não sei.
Ao longe pressenti o limbo pardacento da tabanca. Deixei o frio subjugar o corpo em jeito de redenção. Olhei à volta, os homens abraçavam-se porque iam voltar para casa. Vivos, que o Gomes voltava entre quatro tábuas de pinho. Alguém escrevinhou num papel gorduroso que os capitães tinham derrubado o governo, o lobo fora caçado. Antes de adormecer, uma lágrima solitária misturou-se com a poeira e o sangue na minha face. Somos livres, a última coisa que ouvi, gritada em uníssono por centenas de vozes. Bem sei que não mas permite-me que esqueça o que te contei antes.

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24.4.07

What if?

23.4.07

Dia mundial do livro


















[Algumas gotas num oceano de palavras]

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