Passeio Público
Até muito recentemente o couto privado da medicina limitava-se sobretudo aos consultórios e clínicas de pequena ou média dimensão – usualmente, detidos e administrados por profissionais médicos ligados, de uma forma ou de outra, ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não obstante, este quadro modificou-se substancialmente na última década, com a assomada vigorosa dos grandes investimentos em infra-estruturas de saúde privadas, designadamente os hospitais privados.
O conceito fundador destes hospitais recupera (sob o signo da economia) todas as formas de acesso discriminado à saúde. Este semblante infame da privatização da saúde é incontornável: ao “clientelizar” os doentes, as administrações dos hospitais privados colocam (mesmo que de uma forma inconsciente) a economia à frente da saúde e o dinheiro à frente das pessoas. Quem tem dinheiro para pagar o acto médico (ou dinheiro para pagar o seguro que vai pagar o acto médico) é examinado e tratado – em princípio, bem tratado. Quem não tem dinheiro… Bem, imaginem o final da história.
Obviamente, estas infra-estruturas de saúde privada surgiram primeiro em Lisboa mas rapidamente se metastizaram para outras regiões do país. Brevemente, também em Coimbra irá surgir um hospital privado: o Hospital de Santa Filomena, cujo projecto foi recentemente apresentado. A divisa do novo hospital, “a sua saúde é o nosso futuro!”, é extremamente interessante e não menos reveladora. Afinal, a “nossa saúde” (leia-se “o nosso dinheiro”) irá certamente garantir o “futuro” do hospital e dos seus proprietários.
{Sexta-feira, 25/03, no Jornal de Notícias}