Passeio Público
(Percepções do risco)
«A natureza humana não suporta tanta realidade». A inflexibilidade poética de Luís Quintais (um «pessimista antropológico») reconhece a subsistência pós-tecnológica do mais ancestral dos sentimentos: o medo. Furacões, terramotos, inundações – todo o tipo de desastres naturais. É assim que os dias vão passando. Desde que o furacão Katrina destruiu Nova Orleães, pelo menos, que um futuro suspeitável, e terrível, ensombra as conversas dos cidadãos e os projectos dos políticos. A tragédia da ilha da Madeira é mais um tristíssimo episódio da eterna luta entre a força amoral da natureza e o esforço de sobrevivência dos humanos.
«A natureza humana não suporta tanta realidade». A inflexibilidade poética de Luís Quintais (um «pessimista antropológico») reconhece a subsistência pós-tecnológica do mais ancestral dos sentimentos: o medo. Furacões, terramotos, inundações – todo o tipo de desastres naturais. É assim que os dias vão passando. Desde que o furacão Katrina destruiu Nova Orleães, pelo menos, que um futuro suspeitável, e terrível, ensombra as conversas dos cidadãos e os projectos dos políticos. A tragédia da ilha da Madeira é mais um tristíssimo episódio da eterna luta entre a força amoral da natureza e o esforço de sobrevivência dos humanos.
A história é, por vezes, um espectáculo demoníaco. Porém, os pretéritos históricos devem fundar, em particular, o supremo esclarecimento que nos guia por entre as ruínas do medo. A percepção do risco, espoletada com os acontecimentos funestos do Haiti e da Madeira, é agora especialmente premente na região de Lisboa. O dia um de Novembro de 1755, o dia do Grande Terramoto, continua bem vivo na memória traumática dos lisboetas, apesar de já terem passado mais de 250 anos após esse evento terrível e definidor.
A maior parte dos estudos científicos sugere a possibilidade de um novo abalo na região de Lisboa. No caso de tal acontecer, e de acordo com o “Plano Especial de Emergência de Risco Sísmico da Área Metropolitana de Lisboa e Concelhos Limítrofes”, o número de vítimas mortais, de feridos graves e de desalojados será da ordem das dezenas de milhares. Obviamente, esta “arena do possível” pode nunca tornar-se realidade – esperemos que não. Contudo, as lições da história não devem ser desprezadas.
Desse modo, os projectos de reabilitação e construção urbana devem incluir expressamente uma componente de resistência à acção sísmica e o Plano Director Municipal deverá proibir a construção de novos edifícios, sobretudo infra-estruturas básicas, nas zonas críticas identificadas em diversas análises de risco. Não é provável que se possa conter totalmente a energia devastadora de um sismo, mas é possível mitigá-la.
(Sexta-feira, 28/02, no Jornal de Notícias)
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