A escuridão cobriu-lhe os ossos
Diga-se, para que não restem dúvidas, que 2666 é um grande romance - apesar da capa e dos panegíricos da crítica. N'«A parte dos crimes», o «capítulo», digamos assim, que o resgata definitivamente da banalidade (divididas, as cinco partes que constituem 2666 seriam de uma vulgaridade atroz), as reverberações torrenciais de violência ecoam obviamente a Ilíada (cantos X-XIV). Bolaño mata meninas de escola, operárias e prostitutas em vez de Beócios, Lócrios e Paflagónios. Não é fácil trocar um Paflagónio por uma puta. Como é lógico supor, a esta faltam-lhe as lanças de bronze, alguns dentes e a devoção a Atena. Tudo isto, embora não pareça, engrandece o trabalho de Roberto Bolaño. Imaginem o que ele faria se pudesse matar Harpálion e Meríones em vez de Felicidad Jiménez e Leticia Contreras.
Etiquetas: livros, Roberto Bolaño
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