30.4.04
A alteração meteorológica que me arruína o fim-de-semana na praia da Amorosa em Viana do Castelo só pode ser explicada pela agência de um ente malfazejo, ancorado no desejo de me ver passar mais um dia recluso no intestino de casa. Depois de uma semana de trabalho fechado num salão pardacento, rodeado de memórias fixadas em mineral ósseo, com o sol delido através das persianas, o desígnio de libertação empurrado pelo refulgente astro residia em dois dias acariciando com os pés a areia da Amorosa. O meu desejo foi pulverizado pela má fortuna. Pelo menos encontro algum consolo em Evans-Pritchard*e num pullover sobre a camisa.
29.4.04
Mais emendas, mais emendas
O primeiro-ministro turco declara-se confiante em relação às reformas que o governo quer implantar no país. Afirma que ainda perduram algumas arestas, porventura não desbastadas convenientemente, mas que as reformas atingiram o ponto de não retorno. O Boss [na casa antiga] fez a apologia de uma Turquia no limiar da modernização, não tecnológica, mas social e mental. Uma Turquia que trilha um caminho rumo à igualdade entre as mulheres e os homens, que abraça meigamente o fim da discriminação, a pluralidade de convicções, et coetera.
Uma menina de 14 anos foi assassinada pelo pai e pelo irmão por ter sido violada por um rapaz de 20 anos. Estrangulada com um fio eléctrico. Na Turquia. Onde todos os anos são cometidos dezenas de “crimes de honra”.
Passos relevantes [periclitantes também] foram dados pelo remanescente do império otomano com o intuito de arejar socialmente o país. Mas ainda existe tanto a fazer. Tanto, tanto.
Uma menina de 14 anos foi assassinada pelo pai e pelo irmão por ter sido violada por um rapaz de 20 anos. Estrangulada com um fio eléctrico. Na Turquia. Onde todos os anos são cometidos dezenas de “crimes de honra”.
Passos relevantes [periclitantes também] foram dados pelo remanescente do império otomano com o intuito de arejar socialmente o país. Mas ainda existe tanto a fazer. Tanto, tanto.
Portugal-2 : Suécia-2
Poderia escrever um post sobre a frangalhada do Ricardo. Ou mesmo um que verse sobre a incapacidade da selecção em jogar bem e da cristianíssima táctica de Scolari: tudo ao molho e fé em Deus. E que tal rabiscar qualquer coisa sobre a Figo-dependência da equipa nacional?
Abdico dessas matérias tão caras e refiro só um pormenor que devia ser um pormaior: a ausência de público no estádio do Calhabé, na senda do que se observou em Braga, Aveiro ou Guimarães. O espectáculo era, a priori, de qualidade duvidosa? Sim. Isso seria motivo para arredar o público do estádio? Não. Mas os bilhetes a 20 euros…
28.4.04
Adenda despretensiosa ao cometimento hercúleo da Charlotte
Começo por manifestar a minha aversão a um português [idioma] coarctado e amputado de expressões ou palavras que, simplesmente por existirem, o enriquecem e diversificam. O problema maior de muitos bloggers lusos residirá, porventura, na recidiva falta de jeito para a gramática e ortografia, não na utilização da palavra “melindrar”, por exemplo.
De qualquer forma, louvo o empenho da Charlotte [uma querida, que nunca nega a ajuda a um aprendiz de escriba] em transformar a linguagem blogoesférica [existirá um neologismo melhor que este?] num proscénio limpo de fealdade e impurezas. Releio o meu texto anterior e detenho-me no vocábulo “persianas” (do Fr. persienne). Um galicismo, pois. Pondero uma alternativa e chego ao soberbo “estores”. Derivado do Latim “storea”, ofende, não obstante, a minha estética filológica. Veneziana e cortina também não servem. Demasiado a-poéticos. Fico com vontade de apagar o texto. Só me apetece chorar e beber vinho [expressão mítica a utilizar à vontade em contexto coloquial], sair para a rua e findar a tarde a pastar a toura.
De qualquer forma, louvo o empenho da Charlotte [uma querida, que nunca nega a ajuda a um aprendiz de escriba] em transformar a linguagem blogoesférica [existirá um neologismo melhor que este?] num proscénio limpo de fealdade e impurezas. Releio o meu texto anterior e detenho-me no vocábulo “persianas” (do Fr. persienne). Um galicismo, pois. Pondero uma alternativa e chego ao soberbo “estores”. Derivado do Latim “storea”, ofende, não obstante, a minha estética filológica. Veneziana e cortina também não servem. Demasiado a-poéticos. Fico com vontade de apagar o texto. Só me apetece chorar e beber vinho [expressão mítica a utilizar à vontade em contexto coloquial], sair para a rua e findar a tarde a pastar a toura.
A parte pelo todo
As persianas semi-cerradas são as grades de uma prisão voluntária. Mais um dia de sol, lá fora. Sentado numa cadeira [que magoa as costas] tenho escrúpulos em confessar o meu atávico descontentamento. Recomeço lentamente a escrever: o osso é a metonímia e eu preciso de acreditar nisso.
27.4.04
Revisionismo histórico – Guy Fawkes
Conheci Guy Fawkes, o bombista, à sombra da Porta do Bazar de Rodes. O derradeiro Grão-Mestre dos Cavaleiros dissipara-se na bruma incerta do mundo ínfero muitos anos antes, mas Guy sabia onde encontrar o Guardião do Segredo. Cruzámos como lémures silentes o Mercado Velho, tentando não denunciar o nosso rosto de ignotos estrangeiros, e penetrámos num pequeno pátio arcano, algures na Rua dos Cavaleiros. Uma jovem de cara tapada, um único fio de cabelo negro assomando sobre o lenço escarlate, aguardava-nos desde que o sol era nado. Sem dizer uma palavra, muda como S. Pedro na abside central da Basílica dedicada ao mesmo, entregou a Guy um palimpsesto de caligrafia argêntea, onde constavam as minudências teológicas e técnicas da nossa missão.
Decifrámos lentamente aquelas letras finamente desenhadas, arte superlativa que não nos desviou a atenção do grave conteúdo textual. Fawkes e eu, perfilhando escrupulosamente as advertências do manuscrito, tomámos em mãos o desígnio sacrossanto de assassinar o rei Jaime I de Inglaterra, traidor da una e vera Igreja, mas a inconstância do destino e a intervenção inoportuna de uma horda de demónios malogrou as expectativas do Conselho dos Anciãos. Guy foi preso nas catacumbas sob o Parlamento de Londres, enquanto aprontávamos o atentado. Eu escapei à captura, por desígnio de Deus e de umas boas pernas para correr. Fawkes foi executado, também em Londres, no dia 5 de Novembro de 1606, desde aí, desgraçadamente, conhecido por Dia de Acção de Graças. No derradeiro instante o beleguim ofertou misericórdia a Fawkes se ele atraiçoasse os cúmplices, a sua cabeça repousava já sobre o cepo de pinho. O cutelo fugiu das minhas mãos. Fora mais célere que as palavras traiçoeiras daquele impostor.
Adenda: Uma pequena parte dos factos narrados neste texto correspondem à verdade histórica.
Dedicado especialmente ao Bruno, ao Marcos, à Charlotte, aos Barnabés e ao Nuno Guerreiro.
Decifrámos lentamente aquelas letras finamente desenhadas, arte superlativa que não nos desviou a atenção do grave conteúdo textual. Fawkes e eu, perfilhando escrupulosamente as advertências do manuscrito, tomámos em mãos o desígnio sacrossanto de assassinar o rei Jaime I de Inglaterra, traidor da una e vera Igreja, mas a inconstância do destino e a intervenção inoportuna de uma horda de demónios malogrou as expectativas do Conselho dos Anciãos. Guy foi preso nas catacumbas sob o Parlamento de Londres, enquanto aprontávamos o atentado. Eu escapei à captura, por desígnio de Deus e de umas boas pernas para correr. Fawkes foi executado, também em Londres, no dia 5 de Novembro de 1606, desde aí, desgraçadamente, conhecido por Dia de Acção de Graças. No derradeiro instante o beleguim ofertou misericórdia a Fawkes se ele atraiçoasse os cúmplices, a sua cabeça repousava já sobre o cepo de pinho. O cutelo fugiu das minhas mãos. Fora mais célere que as palavras traiçoeiras daquele impostor.
Adenda: Uma pequena parte dos factos narrados neste texto correspondem à verdade histórica.
Dedicado especialmente ao Bruno, ao Marcos, à Charlotte, aos Barnabés e ao Nuno Guerreiro.
Eles roubam tudo
É Xanana Gusmão quem o proclama nesta entrevista ao Público.
Quando a Interfet, soldados altos e louros de óculos Ray-Ban, montes de style, confluiu para Dili em 1999, não pude deixar de pensar que aquela ajuda dos kangaroos trazia água no bico, no fundo o que eles querem é o pitróil, dizíamos lá em casa. O desfecho é conhecido: o novel país luta contra o colosso australiano pela posse das reservas de petróleo e gás natural. E, desta vez, não me parece que a funda de David seja suficiente para derrubar Golias.
Quando a Interfet, soldados altos e louros de óculos Ray-Ban, montes de style, confluiu para Dili em 1999, não pude deixar de pensar que aquela ajuda dos kangaroos trazia água no bico, no fundo o que eles querem é o pitróil, dizíamos lá em casa. O desfecho é conhecido: o novel país luta contra o colosso australiano pela posse das reservas de petróleo e gás natural. E, desta vez, não me parece que a funda de David seja suficiente para derrubar Golias.
26.4.04
Sonho acordado
Hoje está um dia fantástico para ir à praia. Hoje acordei ainda a sonhar com o chamamento dos meus pais: -Francisco, levanta-te que vamos para a Figueira. Hoje está um dia fantástico e eu estou encerrado entre quatro paredes. Que nem sequer são muito bonitas.
Etiquetas: devaneios
25.4.04
Somos livres – Excertos de uma carta de amor [em iteração]
O afago meigo do vento na minha face atrida reclama as memórias delidas de uma noite distante. Éramos jovens com asas de anjo vingador, guerreiros indómitos com o buço a despontar e a G3 cingida ao corpo, amante engatilhada para o encontro com a morte. Naquele dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, ainda o estertor da noite vinha longínquo, já os vultos camuflados adejavam, silentes, na mata de Cantanhez, esperando conformados a punitiva resposta ao desafio lançado quando entráramos na espessura vegetal.
Foi nesse dia que perdi a audição. De qualquer forma eu já estava habituado ao silêncio. O silvo de uma bala, o último som que terei escutado, talvez a mesma que tocou o Gomes entre os olhos e o norteou para o reverso da vida. Não teria sido diferente se a derradeira audição tivesse sido consagrada a Wagner ou a Chopin, hoje não te poderia ouvir a ti e isso é que lastimo. Quando o furriel Gomes capitulou, a face alva de alentejano ou minhoto surpreendida pela bala da “costureirinha”, o seu corpo baqueou mesmo a meu lado. Abracei-me a ele e sussurrei-lhe, desesperançado, sem me ouvir, que ia ficar bem. E lembrei-me do dia em que vim para a Guiné, da minha mãe a rezar em frente de uma fotografia minha vestido de militar. Queria estar junto dela (será preciso dizê-lo?), olhar a sua face empergaminhada, tocar-lhe as mãos quentes. Não estar ali.
O sangue quente gotejava nas minhas mãos assassinas, aquele vermelho vívido como um cravo no cano de uma G3, o olhar relapso nos olhos exauridos do Gomes. Percebi que aprendêramos a matar sem que soubéssemos porquê. O guerrilheiro pelo menos sabia porque matava, eu não. Ainda não sei.
Ao longe pressenti o limbo pardacento da tabanca. Deixei o frio subjugar o corpo em jeito de redenção. Olhei à volta, os homens abraçavam-se porque iam voltar para casa. Vivos, que o Gomes voltava encerrado entre tábuas de pinho. Alguém escrevinhou num papel gorduroso que os capitães tinham derrubado o governo, o lobo fora caçado. Antes de adormecer, uma lágrima solitária misturou-se com a poeira e o sangue em conúbio na minha face. Somos livres, a última coisa que ouvi, dita em uníssono por centenas de vozes. Bem sei que não mas permite-me que esqueça o que te contei antes.
Foi nesse dia que perdi a audição. De qualquer forma eu já estava habituado ao silêncio. O silvo de uma bala, o último som que terei escutado, talvez a mesma que tocou o Gomes entre os olhos e o norteou para o reverso da vida. Não teria sido diferente se a derradeira audição tivesse sido consagrada a Wagner ou a Chopin, hoje não te poderia ouvir a ti e isso é que lastimo. Quando o furriel Gomes capitulou, a face alva de alentejano ou minhoto surpreendida pela bala da “costureirinha”, o seu corpo baqueou mesmo a meu lado. Abracei-me a ele e sussurrei-lhe, desesperançado, sem me ouvir, que ia ficar bem. E lembrei-me do dia em que vim para a Guiné, da minha mãe a rezar em frente de uma fotografia minha vestido de militar. Queria estar junto dela (será preciso dizê-lo?), olhar a sua face empergaminhada, tocar-lhe as mãos quentes. Não estar ali.
O sangue quente gotejava nas minhas mãos assassinas, aquele vermelho vívido como um cravo no cano de uma G3, o olhar relapso nos olhos exauridos do Gomes. Percebi que aprendêramos a matar sem que soubéssemos porquê. O guerrilheiro pelo menos sabia porque matava, eu não. Ainda não sei.
Ao longe pressenti o limbo pardacento da tabanca. Deixei o frio subjugar o corpo em jeito de redenção. Olhei à volta, os homens abraçavam-se porque iam voltar para casa. Vivos, que o Gomes voltava encerrado entre tábuas de pinho. Alguém escrevinhou num papel gorduroso que os capitães tinham derrubado o governo, o lobo fora caçado. Antes de adormecer, uma lágrima solitária misturou-se com a poeira e o sangue em conúbio na minha face. Somos livres, a última coisa que ouvi, dita em uníssono por centenas de vozes. Bem sei que não mas permite-me que esqueça o que te contei antes.
Etiquetas: 25 de Abril
24.4.04
Trova do mês de Abril
Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Fpo o tempo que doía
com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
na esperança de um só dia.
Manuel Alegre
Etiquetas: 25 de Abril
23.4.04
Prepúcio: eu não perdi o meu
A circuncisão, enquanto ritual e prática médica, é um assunto que venho investigando assim como quem não tem nada que fazer, ou como se proclama muitas vezes, na desportiva. A excisão do prepúcio será tema condensador de um post futuro, tenha eu pachorra para o escrever e a ajuda de um amigo que terá certamente alguma coisa a dizer sobre o assunto. Para já, digo-vos que Santa Teresa de Ávila, no seu casamento, utilizou um prepúcio como aliança. Aquela nesga de pele, órgão vestigial como lhe chamam os naturalistas, há-de ter algum valor. Pelo sim pelo não vou conservar o meu.
22.4.04
Markus Merk em conversa de jardim
Ainda era incipiente a manhã que me revelou aqueles diminutos univalves (talvez caracóis de jardim, Helix hortensis) que, agrupados em redor de uma mancha de humidade e de uma quantidade enorme de semelhantes mortos e de casca quebrada, pareciam assembleia de fiéis a tartamudear preces de auxílio ao ente superior da espécie. Por breves momentos pensei que estavam a prantear o eclipse brutal dos outros caracóis (e foi acidente de monta aquele que vitimou aquela gente, salvo seja, haviam de ver a amálgama de queratina e baba que se acumulou naquele canto do jardim). Lembrei-me, no entanto, das palavras de Borges: “Ser imortal é insignificante; com excepção do homem, todas as criaturas o são, pois ignoram a morte; o divino, o terrível, o incompreensível é saber-se mortal.” Ali, só eu sabia que aqueles pobres tinham morrido. A caracolada continuava lá, insensível ao despedaçado casqueiro em seu redor, discutindo acaloradamente a exibição de Markus Merk com os companheiros despedaçados.
Etiquetas: Borges
Saudade mentirosa do Inverno
Daedalus de Dominick Domingo
No Inverno, os gansos voltam para o Sul,
Como é belo o seu contorno no horizonte.
Ao longe…Tão longe…
21.4.04
A partida
As nuvens adejam subitamente sobre o telhado negro desta casa. Preparo-me para partir, enfiando apressadamente na mochila os paramentos que hei-de vestir amanhã, os cremes e as loções, a escova de dentes, um livro para as três horas na estrada. A metamorfose é sempre terrível, assustadora, intimidante, especialmente quando é tão célere. Mas às vezes mudamos para melhor e só por isso vale a pena tentar.
p.s. Este texto não se refere a uma pretensa viagem do escriba de serviço. Vou continuar por cá.
p.s. Este texto não se refere a uma pretensa viagem do escriba de serviço. Vou continuar por cá.
25 de Abril de 1974
Versão 3 - Versão recolhida numa Universidade privada
O que aconteceu no 25 de Abril foi o início do regime autoritário salazarista. Mas quem subiu ao poder foi o presidente do então PSD, Álvaro Cunhal, que viria a falecer em circunstâncias misteriosas no acidente de Camarate.
[no comments...]
O que aconteceu no 25 de Abril foi o início do regime autoritário salazarista. Mas quem subiu ao poder foi o presidente do então PSD, Álvaro Cunhal, que viria a falecer em circunstâncias misteriosas no acidente de Camarate.
[no comments...]
Etiquetas: 25 de Abril
20.4.04
Apologia
Este pequeno post está magnífico.
"SPAM STORY
O subject do mail dizia «I love you». E ele, embora consciente dos riscos que corria, leu a mensagem e abriu o ficheiro assassino. Mais valia ser amado por um vírus do que por ninguém."
José Mário Silva in BdE (II)
O belo manifesta-se por vezes em arreganhos de simplicidade.
"SPAM STORY
O subject do mail dizia «I love you». E ele, embora consciente dos riscos que corria, leu a mensagem e abriu o ficheiro assassino. Mais valia ser amado por um vírus do que por ninguém."
José Mário Silva in BdE (II)
O belo manifesta-se por vezes em arreganhos de simplicidade.
25 de Abril de 1974
Versão 2 - Versão recolhida em Instituto Superior público de Lisboa
Numa oral de História Social o prfessor pede ao aluno que disserte um pouco sobre a Revolução de Abril:
[Aluno]: - O 25 de Abril de 1674 foi uma data import...
[Professor] interrompendo bruscamente: - Desculpe, de 1674?!
[Aluno] pensativo: Pois, de facto... Em 1674 foi a implantação da República.
[no comments...]
Numa oral de História Social o prfessor pede ao aluno que disserte um pouco sobre a Revolução de Abril:
[Aluno]: - O 25 de Abril de 1674 foi uma data import...
[Professor] interrompendo bruscamente: - Desculpe, de 1674?!
[Aluno] pensativo: Pois, de facto... Em 1674 foi a implantação da República.
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Etiquetas: 25 de Abril
19.4.04
El Pibe: vence por nós
Diego Armando Maradona foi internado porque sofreu de um ataque do miocárdio, encontrando-se internado nos cuidados intensivos da Clínica y Maternidad Suizo Argentina. De acordo com o último comunicado médico o seu estado de saúde continua periclitante mas algumas melhoras foram notadas.
Força Diego, finta mais este adversário. Tu consegues.
25 de Abril 1974
Versão 1 - Versão recolhida em Universidade privada da capital, bem moderna...
A revolução de 74 significou a queda de um regime militar dominado pelo almirante Américo Tomás e pelo marechal Marcelo Caetano, que governava o país depois de deposto o último rei de Portugal, Oliveira Salazar. O 25 de Abril foi uma guerra entre dois marechais: o marechal Spínola e o marechal Caetano.
[no comments...]
A revolução de 74 significou a queda de um regime militar dominado pelo almirante Américo Tomás e pelo marechal Marcelo Caetano, que governava o país depois de deposto o último rei de Portugal, Oliveira Salazar. O 25 de Abril foi uma guerra entre dois marechais: o marechal Spínola e o marechal Caetano.
[no comments...]
Etiquetas: 25 de Abril
18.4.04
A mítica roubalheira
Ontem, no Bessa. Á equipa lagarta [a melhor do mundo] têm-lhe sido sonegados pontos importantes que a afastaram definitivamente do título e quem sabe?, a afastem mesmo do outro lugar de acesso à Liga dos Campeões. Força Mourinho, ganhas tudo dentro do campo. Força Pinto da Costa, ganhas tudo fora do campo.
16.4.04
Barbaric Beaters
Uma pele condigna para uma senhora de pergaminhos é o prémio gostoso. Mate-se, sem dó nem piedade, a indefesa foca de pelagem nívea. O melhor é utilizar um bordão grosso e nodoso que, com uma cachapada certeira no crânio do animal, o envia certamente para o reverso da vida.
É possível, agora, no Canadá.
É possível, agora, no Canadá.
15.4.04
Etnografia sentimental 1 - De como a razão é por vezes desnecessária para a compreensão das coisas
Ele estava nitidamente enervado, a barba negra e revolta em harmonia com a pele tisnada e os dentes cariados, em passo lento sobre o chão coberto de cascas de amendoim, reverberando a vozes altas aqueles que o rodeavam. No limiar da grande porta do café, com os sentidos focados na estrada em frente, não prestei atenção excessiva a tão pouco amena conversa. Mas aquele atropelo involuntário conduziu o meu olhar para o grupo do qual ele se afastava, ao mesmo tempo que gritava para um dos circunstantes: - Vai-te mas é embora que tu aqui és completamente indispensável.
14.4.04
Segredo finalmente desvendado
Um dos segredos zoológicos que há mais tempo supliciava a mente de biólogos de todo o mundo foi finalmente deslindado: saber se as zebras eram pretas com riscas brancas ou brancas com riscas pretas. A descoberta fortuita de uma zebra branca sem listras por um grupo de pastores Masaai que vivem nas orlas do Parque Nacional de Nairobi no Quénia, permitiu aos cientistas responder a esta intrincada e duradoura controvérsia científica. O bicho, confundido inicialmente com um bezerro, parece saudável e não é discriminado pelos seus parceiros ornados de listras negras [ao que parece, o único animal que continua a praticar a exclusão de semelhantes com base na cor do cabedal é um macaco bípede e sem pêlo, disseminado por vastas partes das superfícies emersas da Terra e com manias de inteligência superior].
13.4.04
A guerra também aqui
Na Rocinha, topos favelado do Rio de Janeiro, a guerra não extravasa somente das imagens assépticas da televisão. As balas permutadas entre os traficantes de droga e o quase sempre ausente poder público, a polícia, não escolhem destinatários e, entre os dez mortos até ao momento, muitos são inocentes habitantes do morro, imaculados enfiteutas que fogem dos criminosos e da polícia, entregues a si mesmos e a Deus, conforme a ideologia ou filiação religiosa.
O derradeiro passo para a transformação da metáfora da “Cidade Partida” de Zuenir Ventura em realidade foi anunciado pelo vice-governador e secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Paulo Conde [entretanto arrependido]: o cerco do morro da Rocinha e adstritos por um muro de três metros de altura. A objectificação do apartheid que existe de forma consistente na sociedade brasileira deixaria, pois, de ser anátema no ideário dos governantes brasileiros e passaria a constar abertamente da sua agenda política. Naturalmente. Sem hipocrisias. A falência do estado brasileiro, a sua incapacidade de estancar a pobreza, a violência e as assimetrias sociais carregam, de facto, um halo de desesperança: o D. Sebastião deles, que um dia foi operário, não passa talvez de um mito para embalar crianças.
O derradeiro passo para a transformação da metáfora da “Cidade Partida” de Zuenir Ventura em realidade foi anunciado pelo vice-governador e secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Paulo Conde [entretanto arrependido]: o cerco do morro da Rocinha e adstritos por um muro de três metros de altura. A objectificação do apartheid que existe de forma consistente na sociedade brasileira deixaria, pois, de ser anátema no ideário dos governantes brasileiros e passaria a constar abertamente da sua agenda política. Naturalmente. Sem hipocrisias. A falência do estado brasileiro, a sua incapacidade de estancar a pobreza, a violência e as assimetrias sociais carregam, de facto, um halo de desesperança: o D. Sebastião deles, que um dia foi operário, não passa talvez de um mito para embalar crianças.
Galaitas
A figura meã, mas altiva, a face marcada pelo transcorrer dos anos e pelo farto bigode à Vercingetorix, a ginga nos movimentos e as palavras encadeadas em enleantes fintas; tudo isto é Galaitas: ou será necessário dizê-lo, tudo isto é um homem que nos leva de volta a um passado que nunca foi nosso. Um homem que sabe agir perante uma mulher (presume ele) e que não tem pudor em dizer-nos como. Já o conhecemos há tantos anos e continua o mesmo: um homem com setenta anos e uma mente sempre catraia.
10.4.04
…
A morte também O tocou e venceu, como a qualquer homem, quando, por volta da hora sexta, as trevas velaram a terra e o véu do tempo se rompeu em dois. Mas por detrás dos seus olhos ocultos alguns prenunciaram um movimento de vida ao romper da alba do terceiro dia. O grão de trigo não morre senão para dar muito fruto.
*Baseado em alguns trechos da Bíblia (Lc 23:44; Lc 24:1; Mt 28: 1; Jo 20:1; Mc 4:8)
“Ide escolher uma cabeça de gado miúdo para as vossas famílias e imolai a Páscoa” Ex 12:21
AAC-4 : Alverca-0
Com o epílogo do campeonato próximo, o título e o segundo lugar praticamente entregues, a Académica põe-se nos ombros dos gigantes e vê um pouco mais perto a manutenção na I Liga. A-ca-dé-mi-ca!
9.4.04
Obrigado
Sonho acordado. Entardece por fim e a rua cresce de agitação. Estive quase a fraquejar mas o sol, no último instante, cresceu sobre o meu corpo cansado e adormeceu-me devagar. No fim é como eu, dois num só.
8.4.04
As delícias do incesto
Jovem e apelativa, a abonada mãe passeava com a sua criança perto de uma casa onde decorriam obras de restauração. Perante tal portento de mulher, no alto dos andaimes o labor deu lugar à contemplação dedicada. Que mãe tão boa, pensavam. Os serventes entreolhavam-se, o costumeiro piropo teimava em sair, talvez por respeito à presença da criança. Até que Matias quebrou o enguiço dirigindo-se ao infante: "Ó puto, não queres trocar a tua mãe pela minha?"
6.4.04
Slow food de forma rápida IV
Por acaso minto. O récipe de hoje, chanfana, é motivado pela quadra pascal que atravessamos, demandando tempo largo para uma digna execução. É repasto, pois, digno de purista da cozinha tradicional portuguesa ou simplesmente de sibarita ou epicurista ortodoxo. A receita* foi colhida no Domingo ao almoço, em casa da minha avó Maria, ditada pela voz da mesma. Ora bem, comecemos: o passo dilucular será escolher uma peça jeitosa de carne de cabra velha [ATENÇÃO: cuidado com o local onde adquirem a carne, lembrem-se que a febre-de-malta é endémica em Portugal], que é colocada, depois de cortada e desprovida de gorduras e peles, com mais ou menos jeito no interior bojudo de uma caçoila de barro preto. De seguida executa-se a serrada, isto é, o tempero: colorau, azeite, umas folhitas de louro, salsa, piri-piri e o [infelizmente] impreterível sal. A quantidade de tempero é ao gosto de cada um e vão aperceber-se que não existe uma fórmula correcta em nenhum breviário. Finalmente, rega-se abundantemente com um bom vinho tinto, dá-se um tempinho para a carne absorver o tempero [pelo menos um dia] e leva-se ao forno de lenha, onde se deixa a carne até apurar. A minha avó costuma juntar umas batatinhas à carne, ficam saborosas, com uma bela cor entre o amarelo-torrado e o castanho.
*Que, em verdade se diga, é praticamente igual à que podemos ler em qualquer livro dedicado a tão delicioso assunto.
*Que, em verdade se diga, é praticamente igual à que podemos ler em qualquer livro dedicado a tão delicioso assunto.
Etiquetas: gastronomia
5.4.04
O paradoxo incompreensível
Como compreender que numa biblioteca onde se encontram depositados milhares de títulos, uma boa porção dos quais de magnífica qualidade, as empregadas consagrem os seus períodos livres à leitura da asinina revista Maria? Dá Deus nozes a quem não tem dentes, proclama o siso popular.
Morreram pela pátria
Não. A revolta xiita que depredou as ruas de várias cidades iraquianas, e que resultou na morte de pelo menos 18 mortos e cerca de 200 feridos, tocou levemente as forças da Guarda Nacional Republicana estacionadas em Nassíria. Dois soldados e um tenente, tomados no âmago de um tiroteio, foram feridos de forma ligeira. As sequelas desta troca de disparos para os restantes militares da guarnição da GNR terão sido marcantes, sobretudo, em termos psicológicos: a consciência do corpo é agudizada quando esse corpo é ofendido, ou se corpos próximos o são. Felizmente nenhum português morreu [infelizmente morreram mulheres e homens de outras pátrias], mas o meu estranhamento permanece: se algum daqueles homens morrer, não vai morrer pela sua pátria. Talvez por uma outra, a ocidente do mar. Esperemos que não.
4.4.04
Salgueiro Maia
" [...] o melhor de entre os melhores dos corajosos e generosos Militares de Abril"
Etiquetas: 25 de Abril
Iter criminis
Todo o rito de passagem marca o início de uma mudança radical de regime ontológico e estatuto social do neófito. Como o costumado Rasganço de Coimbra. Libertando-me de uma exegese crítica sobre este “evento académico” [será machista, violento, opressivo? Sei que todos se submetem a ele voluntariamente, logo, não vou valorar moralmente a atitude do estudante que opta por se rasgar], agarro-me à noção de que o Rasganço é o momento que simboliza o sucesso do neófito/estudante na sua vida escolar. É o momento em que todos ficam a saber que o crime foi bem sucedido.
2.4.04
A palavra-chave
O meu íntimo medo é que um dia esqueça a keyword que franqueia as portas do meu computador, no que resultará a perda inexorável de alguns anos de labor académico e de foro particular. Medo do sumiço de mais um topos afectivo, lugar onde memórias vívidas estão inscritas em Times New Roman. Se é para esquecer, que esqueça a segurança de não ter estes campos devassados por pessoa maleva; o melhor será manter sempre os portões da quinta abertos. Esta máquina não tem sentimentos e com a palavra-chave é torre inexpugnável. Nem Torquemada lhe arranca uma palavra.
1.4.04
A voltinha dos tristes
Ao Domingo é vê-los, em barda, rumando aos templos pagãos do consumo, que aos outros já só vão os velhos e as crianças. Muitos contemplam, desejam, o que é impudicamente exibido em ubíquos mostruários e, inconscientemente, preparam-se para trabalhar a semana toda com o desígnio único de juntar as míseras 30 moedas com que vão trair-se a si próprios. São aqueles que escolheram viver sob o jugo ignóbil da cultura do ter. E que nunca saberão que ler um livro sabe melhor que usar uma camisa da Gant