<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar/5676375?origin\x3dhttp://daedalus-pt.blogspot.com', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

1.5.07

O espelho da casa de banho

Lentamente: observo a barba crescida. Houvesse paciência e uma boa lâmina - de Albacete, como dizia o outro lá de cima - e eu recriava a face. O fascínio do espelho, não um fascínio de Narciso, entenda-se, mas um fascínio de Borges, acrescenta à realidade certas e determinadas nuances que implacavelmente se perdem no voo cansado das horas vistas de um só lado. O espelho acrescenta o outro lado, a outra perspectiva de nós mesmos. Uma vertigem somada a outra vertigem. Um corpo que reflecte o corpo plasmado no espelho. Isto para dizer o quê? Nada, talvez. Ou então pouca coisa. Apenas uma lição: tudo é hipocrisia, simulação, mentira. Tudo o que nos rodeia só existe no espelho.

Etiquetas: , ,

8.3.07

Antologia de contos fantásticos "Biblioteca de Babel"

O silogismo, ou seja, o argumento lógico fundamental, não é estranho à mente de muitos animais. O silogismo é originalmente como que uma comparação entre duas sensações. Se não, porque é que os animais que conhecem o homem fogem dele, e não os que nunca o conheceram?

Este trecho de Leopoldo Lugones, retirado do conto "Yzur" [inserido no livro de contos "Os cavalos de Abdera"], foi publicado em 1988 pela Vega na primeira edição portuguesa da célebre antologia de contos fantásticos "Biblioteca de Babel", organizada por Jorge Luis Borges. Ao meu lado, para que não subsistam dúvidas, tenho um exemplar de "Os cavalos de Abdera", número 1 da colecção. A Presença reedita a colecção: Gustav Meyrink e Pedro A. de Alarcón são os primeiros autores publicados.
Rigor, senhores jornalistas do DN*, rigor e alguma pesquisa. Se são assim em matéria tão mesquinha...
*Não me apeteceu levantar o rabo da cadeira para pesquisar o nome do[s] jornalista[s] que escreveram o artigo no Diário de Notícias [mas, raios, eu não sou jornalista! E ninguém paga para ler este blogue!].

Etiquetas: , , ,

30.9.06

Waiting for the sunset


[Borges e Beppo]

Beppo
O gato branco e solitário vê-se
nessa lúcida lua de algum espelho
e não pode saber que tal brancura
e esses nunca vistos olhos de ouro
são, afinal, a sua própria imagem.
Quem lhe dirá que o outro que o observa
é apenas um sonho desse espelho?
Eu penso que esses gatos harmoniosos,
o do mais quente sangue e o de vidro,
são simulacros que concede ao tempo
um arquétipo eterno. Assim afirma,
sombra também, Plotino nas Enéadas.
De que Adão anterior ao paraíso
e de que divindade indecifrável
somos nós, homens, um quebrado espelho?

[Jorge Luis Borges, A cifra]

Etiquetas: ,

27.9.06

Anotação: brutal!!! [um resquício amarelado de sal]

"Voo, o meu pó será o que sou, renascerei outra vez, outra vez, noutro século, serei Hafez, o poeta."
Sim, só podia ser o Borges. Foi em 1977 e em Buenos Aires. Naquelas sete noites, aquelas de vigília longa e satisfeita.

Etiquetas:

22.8.06

Frases iniciais exemplares

Foi Jorge Luis Borges, se não me engano, que sentenciou a importância crucial da primeira frase de um romance. O André Moura e Cunha concorda, e ainda bem. Um dos trechos seminais que mais aprecio é da autoria de Herman Melville, o livro é Moby Dick na edição de bolso da Penguin.

"Call me Ishmael. Some years ago -- never mind how long precisely -- having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world. It is a way I have of driving off the spleen, and regulating the circulation."

Etiquetas: , , ,

22.5.06

Inventário apócrifo

Há uma pele já gasta que foi de tigre.*

O que é agora, senão uma pele? Talvez o próprio tigre, ainda, não fora o tempo que perdeu entretanto: o corpo, a presa e a selva.

[*Jorge Luís Borges, A rosa profunda, Inventário]

Etiquetas:

2.3.06

Excursões para o impossível

“[…] é natural que pense nos meus antepassados, já que tão perto estou da sua sombra, já que de algum modo sou eles.”
Jorge Luís Borges, O Aleph, 1976: 89


O mutismo solidário das testemunhas incita a utopia: cria atalhos para o irrecuperável e fende o véu da morte. E, no entanto, o interlocutor não escapa ao espanto do seu toque e crê que é o primeiro homem que morre.

Etiquetas:

14.3.05

Lugones e Borges

Muitos autores descubro-os quando mencionados ou citados nas páginas de outros escritores, involuntários pedagogos munidos de letras, palavras e parágrafos. Um dia encontrei Lugones na espessura narrativa de Jorge Luís Borges, vagueando como Daedalus nos labirintos criados pelo mestre argentino. Há pouco, resgatei um Lugones amarelecido, cento e poucas páginas, de uma banca de livros em segunda mão. Comecei a ler e pressenti Borges no ritmo, nos silêncios, na erudição. Um dia encontrei Borges na espessura narrativa de Leopoldo Lugones, vagueando como Daedalus nos labirintos criados pelo mestre argentino.

Etiquetas: , ,

10.1.05

Justa verdade

“O que faz um homem é como se o fizessem todos os homens. Por isso não é injusto que uma desobediência num jardim contamine toda a humanidade, por isso não é injusto que a crucificação de um único judeu baste para a salvar. Schopenhauer porventura tem razão: eu sou os outros, qualquer homem é todos os homens.”
Borges

Etiquetas:

11.10.04

Christopher Reeve


O verdadeiro super-homem morreu

“[…] prolongar a vida do homem é prolongar a sua agonia e multiplicar o número das suas mortes.”
Jorge Luís Borges

Ou como o inefável Borges nem sempre tinha razão.

Etiquetas:

29.6.04

Simulacro

As parcas memórias de exterioridade acorrem a esta cela pequena e suja, agora que falta tão pouco para que eu pague a última prestação do que devo ao mundo. Três semanas, apenas. Um acto não vale a vida inteira de um homem, li num conto de Borges, mas quando matei aquele homem para o roubar, quando tirei uma vida para tentar salvar outras três – um filho, uma esposa, eu, famintos – o acto deliu qualquer réstia de esperança numa vida que acabou ali. Mas que digo? Eu continuo por aqui, e aquele homem não passa de um estranho aglomerado de ossos, coberto por seis palmos de boa terra portuguesa. Ou serão sete? Divago como Raskolnikov, meu irmão assassino. Nem isso. Eu sou uma fantasia que fantasia um irmão assassino, também ele uma fantasia de outro. Mas a vida é isso, um simulacro de simulacros. E não sou eu que vou colocar isso em causa.

Etiquetas: , ,

22.4.04

Markus Merk em conversa de jardim

Ainda era incipiente a manhã que me revelou aqueles diminutos univalves (talvez caracóis de jardim, Helix hortensis) que, agrupados em redor de uma mancha de humidade e de uma quantidade enorme de semelhantes mortos e de casca quebrada, pareciam assembleia de fiéis a tartamudear preces de auxílio ao ente superior da espécie. Por breves momentos pensei que estavam a prantear o eclipse brutal dos outros caracóis (e foi acidente de monta aquele que vitimou aquela gente, salvo seja, haviam de ver a amálgama de queratina e baba que se acumulou naquele canto do jardim). Lembrei-me, no entanto, das palavras de Borges: “Ser imortal é insignificante; com excepção do homem, todas as criaturas o são, pois ignoram a morte; o divino, o terrível, o incompreensível é saber-se mortal.” Ali, só eu sabia que aqueles pobres tinham morrido. A caracolada continuava lá, insensível ao despedaçado casqueiro em seu redor, discutindo acaloradamente a exibição de Markus Merk com os companheiros despedaçados.

Etiquetas: