30.11.06
29.11.06
Estéticas da morte #treze
Os dedos de tinta fresca divertem o mais sério dos cortesãos. Constroem palavras que sossegam as frases mais ríspidas. Um riso momentâneo paraliza o significado. Alguém enfim chora quando os mesmo dedos pegam na escondida pistola e com indisfarçável misericórdia matam até o mais sério dos cortesãos.
Etiquetas: Estéticas da morte
Voltar a casa
A dream it was what drew me here. In it, I was walking along the country road, that was all. It was in winter, at dusk, or else it was a strange sort of dimly radiant night, the sort of night that there is only in dreams, and a wet snow is falling. I was determinedly on my way somewhere, going home, it seemed, although I did not know what or where home might be. [...] I had hours of walking to do but I did not mind that, for this was a journey of surpassing but inexplicable importance, one that I must take and was bound to complete. I was calm in myself, quite calm, and confident, too, despite not knowing rightly where I was going except that I was going home. I was alone on the road.
[John Banville, The Sea, págs. 24-25]
Etiquetas: citações
28.11.06
Capitulação
O engodo molhado, farelos num único balde negro. Engano, queda. A vida presa na linha. Contorção. Serás da farinha e do fogo.
Etiquetas: devaneios
27.11.06
The past is a foreign country*
Não. É antes o espaço fragmentado. O solo onde se estendem as raízes mais fortes. A cidadela do devir.
*Hartley, The go-between, pág.9
26.11.06
Os melhores momentos
Por vezes não duraram mais que dez segundos, o tempo de um olhar, apenas. Mas também os houve de tempo comprido, num campo de urze ou num sofá de sala. Não é, portanto, o tempo que os caracteriza e une. És tu e a tua facilidade em tornar o efémero e indizível no melhor momento da minha vida.
23.11.06
100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #35
[Nani cai, como toda a equipa]
Sem querer arranjar desculpas [cof, cof, cof] eu diria, para finalizar a minha apreciação deste curtissimo episódio na Champions, que se o Sporting emparelhasse com equipas com o estatuto de um FC Copenhaga ou de um Hamburgo FC, hoje estaríamos a festejar a passagem aos oitavos de final. Mas pronto, isto sou eu, de maus fígados e cabeça desorientada, que estou a dizer.
Etiquetas: Sporting
22.11.06
Antes do amanhecer
Céline: That's the Danube over there.
Jesse: That's the river, right?
Céline: (laughs) Yeah.
(Walking around in the Prater car, admiring the scenery, below)
Jesse: This is gorgeous.
Céline: Yeah, it's very beautiful.
Jesse: We got, uh, we got a sunset here.
Céline: Yeah.
Jesse: We got the Ferris wheel. It seems like, hum, this would be a...
Céline: What?
Jesse: (sighs) Uh, you know, uh.
Céline: (putting her arms around him) Are you trying to say you want to kiss me?
Jesse: (Nods head. Mouths, emphatically 'yes')
Céline: (Also nods, and whispers) Yes. (they kiss, then stop and look at each other for a moment. Then, they kiss again)
21.11.06
As janelas infinitas da alma: seguinte
Existem mesmo olhos de água. Às vezes na face de cada um de nós.
20.11.06
Mauzinho?
Os sociólogos, como é bem sabido, são esquerdistas sem sentido de humor que debitam disparates ou truísmos.
[Nigel Barley, O Antropólogo Inocente, pág. 18]
O Antropólogo Inocente afigura-se-nos hoje, à distância de 23 anos [...], um livro que encerra algumas das preocupações mais prementes da antropologia das últimas duas décadas.
[Do prefácio por Luís Quintais]
A queda
Sinto a definitiva atracção pelo homem em queda, o amor lídimo soçobrando ao apelo de quem voa e rasteja - seres em processo de ruína, ardidos pelo tempo, estranhamente solitários. Como se o olhar pervagasse sobretudo a decadência das horas melancólicas.
Mas, no Outono, gostamos de ver as folhas das árvores precisamente porque caem e cumprem o seu destino de aniquilamento.
Etiquetas: devaneios
Greek music #twenty three
The Divine Comedy - Everybody knows [except you]
[Everybody knows that it's true except you]
Etiquetas: Música
17.11.06
Super, mega, hiper, ri-fixeeeeeee
"Suspensão da incredulidade", dizia Coleridge, julgando que os leitores entenderiam. Nem sempre a palavra ou a frase [muito menos o parágrafo] são fiéis ao real. A palavra triste pode conter no sub-texto uma partícula de felicidade. Ou vice-versa. O que luz pode ser ouro. Ou uma pátina de mentira. Não acreditem em tudo o que lêem. Não acreditem. A imaginação é fértil nas noites desveladas e existe pouco pejo em contar inverdades.
E, não obstante, presumo e finjo que o que digo seja real e vero. Aceite-se o pacto ficcional, diria Umberto Eco. Há dias assim, super-impecáveis.
16.11.06
De um mail
Imaginem um lugar onde se pode ler gratuitamente, as obras de Machado de Assis, ou A Divina Comédia, ou ter acesso às melhores historias infantis de todos os tempos. Um lugar que lhe mostrasse as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci. Onde você pudesse escutar músicas em MP3 de alta qualidade. Pois esse lugar existe! O Ministério da Educação brasileiro disponibiliza tudo isso, basta visitar o site: www.dominiopublico.gov.br. Só de literatura portuguesa são 732 obras! Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desactivar o projecto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta desgraça, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminaçãoda cultura e do gosto pela leitura.
O títere
Um conjunto de fios invisíveis conduzia-o sem que o soubesse [a anatomia da suspeita deserta o inocente, abandonado a uma felicidade ignorante]. Sem que o soubesse era dirigido, desapossado de personalidade, cultivado à medida de um ego outro. Mesmo quando, de manhãzinha, comia os corn flakes, alimentava o outro e não a si. Talvez o espelho lhe mostre um dia que ele deixou de existir.
Greek music #twenty two
Elliott Smith- Ballad Of Big Nothing
[You can do what you want to there's no one to stop you]
Etiquetas: Música
15.11.06
Life is too short to be angry all the time
Não sei se foi durante o dia. Durante a noite? Não interessa, agora. Foi no Outono. Nasceu com vagar, a pedir tempo à vida.
14.11.06
Darkest hours, darkest thoughts
Cinza. Pisas a cinza das noites em que te entregaste sem medo. Agora não sabes o que fazer. Há ainda quem goste de ti pelo que tu és. Quem goste de ti depois de tudo. Depois de tudo. Uma, duas, três [ou mais] pessoas que resgatam das suas almas perdidas um sorriso para ti. São essas que são. São essas que são. Repito: são essas que são. Aprende. Mesmo que digas em surdina aquilo que não queres ouvir.
1000 [mil]
O anterior foi o milésimo post do Daedalus. Espero que alguns tenham sido do vosso agrado.
13.11.06
Ignoto
Um dia caí num poço de areia. Não havia nada dentro do poço, só escuridão e areia - como aliás seria de esperar. Creio, sem todavia ter qualquer certeza, que sobrevivi. Pelo menos ainda consigo contar a história e isso deve querer dizer que estou vivo. Ou melhor, nem sequer consigo contar a história completa mas partes dela, fragmentadas e pouco vívidas. O que é certo é que aqui estou, a tentar ir mais além destas palavras dúbias. Estive dois dias no poço. Ou menos. Ou mais, nunca poderei dizê-lo com certeza do que digo. Foram dias, foram anos, foi a vida num só dia. Foi muito tempo. E, de repente, um braço desconhecido, inesperado, buscou o meu próprio braço e tragou-me para a superfície. O braço que me salvou. Grande, magnânimo, forte. Não reconhecido.
Agradeci aos que duvidaram da continuidade da minha vida. Aos que choraram. Aos que nada fizeram. Ao braço agradeço agora.
10.11.06
Suicide's an alternative*
Szomorú Vasárnap é o nome original da canção, na belíssima [se acreditarmos em Chico Buarque] língua magiar. Todavia, é mais conhecida pelo seu nome no calão de Shakespeare, Gloomy Sunday [e também por Hungarian Suicide Song]. Foi escrita em 1933 por Rezso Seress, pianista e compositor auto-didacta [saltou da janela do seu apartamento em 1968]. A desesperança e amargura da letra de Seress foram cedo substituídas pela melancólica poesia de Lázló Jávor. De acordo com uma lenda urbana, esta canção inspirou dezenas de suicídios em Budapeste. “Importada” para os EUA em 1936, a belíssima e trágica Szomorú Vasárnap transmutou-se em Gloomy Sunday, sucumbindo às inábeis mãos de Sam Lewis e Desmond Carter. A versão de Sam Lewis foi interpretada por Hal Kemp [1936], por Artie Shaw [1936] e mais tarde por Billie Holliday, que, em 1941, estabeleceu a forma canónica de interpretar Gloomy Sunday. É uma das minhas versões favoritas. Entretanto, outros suicídios aconteceram, em terras do Tio Sam, supostamente induzidos pela hipnótica canção. A música foi mesmo proibida em diversas estações de rádio. Voltou a fazer parte da playlist da BBC apenas em 1992. Gloomy Sunday conheceu dezenas de versões: pelos Genesis [1968], por Serge Gainsbourgh em francês [1988], pela lúgubre Diamanda Galas [1992], por Sarah Vaughn [1961], por Elvis Costello [1981], só para citar alguns. Das versões que ouvi, a única que açulou a vontade de me atirar de uma ponte abaixo foi a da irritante Bejórque [1999], a islandesa mais amada pelos pseudos do Tropical. Uma náusea de cantadeira. Ânsia suicidária certamente provocada pela antipatia que nutro pela senhora. Portishead e Sinéad O´Connor [1992] interpretam as minhas versões preferidas [a par com a versão de Billie Holliday].
Gloomy Sunday - Billie Holliday
Gloomy Sunday - Diamanda Galas
*Suicidal Tendencies, Still Cyco After All These Years
9.11.06
A torre das princesas abandonadas
Não vale a pena dar-lhes um nome. Não acrescenta nada à história. Direi apenas que ele é jovem e ela pequena e bonita. Que gostam um do outro. Ele acabou de se masturbar. Pensou nela, claro. Um extraordinário acaso e a providência divina conspiraram para que ele recebesse uma mensagem dela, precisamente naquele derradeiro momento em que o prazer se exponencia. Ele ainda leu a mensagem, não respondeu. Detesta a conversa depois do sexo.
8.11.06
7.11.06
6.11.06
Como deveria ser
Fui ao fundo da cinza e encontrei uma mão-cheia de coisas boas: a rambla enevoada pela manhã, o pé descalço da Maria, o sabor da areia molhada, a barba do Sitting Bull, a Cabra a tocar às dezasseis, o trigo com Planta, o 78-70-SC a correr para a praia, as piadas que dizes sobre a minha avó, a voz do Eládio Clímaco no BBC Vida Selvagem, os peixes cagôtos, os crimes na rotunda de Santo Ovídio, o Tropical em ruínas, as eiras abandonadas, os pássaros que olham os gatos que fogem de casa, os grumos do Cerelac, as fotografias dos sobrinhos, as caixas de chocolate, vazias, o riso do Tozé, a respiração profunda da cama, as ovelhas à beira do caminho, um beijo de boas noites. Não remexi a cinza com força. Tenho a certeza que ainda há mais.
Etiquetas: devaneios, impressões
É uma sensação de não sei o quê
Recordo o que disseste ainda há pouco, mas o pior é o sub-texto, pior ainda, o que não é contível na linguagem, aquilo que fica de fora [do que disseste ainda há pouco]. Uma espécie de significado pressentido, indizível. A frase oportuna caída no tremor da tua voz.
Os punhais reluzentes
As palavras são assassinas. Perigosas. Depois de ditas podem não ser esquecidas.
Etiquetas: devaneios
4.11.06
Greek music #seventeen
The Arcade Fire - Rebellion (Lies)
[Every time you close your eyes (Lies, lies!)]
[p.s. Lembram-se que ficámos com eles nas mãos?]
Etiquetas: Música
3.11.06
2.11.06
Eis tudo o que deixaram os punhais
Prefiro quando não há nada para dizer e o que resta é uma tarde de Quinta-Feira, de janelas abertas e luz esmaecida.
Sempre se disse alguma coisa, apesar da ameaça de chuva, disse-se que alguma vez terias que jogar [o novo PES6] perto demais da queda. Claro que não, nada disso. Havia algures um pássaro em voo melancólico. Concordámos, não o negues agora. Ou talvez não, o dia lembrava as algas cinzentas na baixa-mar de B..., talvez nem houvesse pássaros em movimento. Que ideia. Claro que não poderia haver qualquer pássaro de asa em riste, armada na utilidade que lhe é própria, recortado no horizonte. No dia anterior tínhamos feito o teu fato de anjo com as asas de todos os pássaros. Os que não morreram só voavam porque tinham enlouquecido de dor. Que merda mais triste. Cambiemos. Ala para outro tema. Gosto de romãs e tu também.
Greek music #fifteen
Dead Can Dance - The Carnival Is Over
[We sat and watched As the moon rose again For the very first time]
Etiquetas: Música