(É Natal)
O Natal é uma época de bons sentimentos, apesar do consumismo e das dificuldades para estacionar na Baixa. O Natal é uma época feliz, mesmo para quem não acredita no estatuto divino de Jesus Cristo. O Natal (lá está ele outra vez) é sempre uma “época de reflexão”, mesmo que se perca muito pouco tempo a pensar nisso. Nesta altura, de resto, em que os jornais parecem velórios descomunais, acham-se muitas coisas sobre as quais se deve meditar um pouco mais que o normal (leia-se: nada).
Há qualquer coisa no modo como algumas pessoas tratam outras (por exemplo, os velhos, os imigrantes ou os homossexuais) que me incomoda particularmente: um desrespeito reiterado, apesar das supostas conquistas da educação e cultura, uma afronta perene e boçal sobre grupos inteiros de pessoas. De pessoas.
Enquanto se discutia no país o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (O Governo já aprovou as alterações ao Código Civil que permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo), foram condenados, em Coimbra, três de sete arguidos acusados de assaltos selvagens (os criminosos usaram catanas, punhais e navalhas) a casais homossexuais. Infelizmente, nenhum dos condenados esboçou qualquer tipo de arrependimento. Os seus familiares, de resto, reagiram violentamente à sentença, como se um acto desta natureza fosse desculpável ou justificável. Como se aqueles casais não fossem feitos da mesma massa que o resto da humanidade.
Os homossexuais (os velhos, os imigrantes, as mulheres, os sem-abrigo) são, em primeiro lugar, pessoas. É essa a primeira e principal característica da sua identidade. Muita gente parece esquecer-se desta originalidade peripatética.É Natal e neste dia (não foi exactamente “neste dia”) nasceu um homem, para muitos o filho de Deus, que durante a sua curta vida criou e anunciou uma ideia decisiva e radical: “ama o próximo como a ti mesmo”. Eu não acho que seja difícil amar o próximo, o problema manifesta-se na parte “como a ti mesmo”. Por vezes, as pessoas gostam pouco de si mesmas.
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