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30.10.04

Um génio


nasceu há 45 anos.

[Hei-de lembrá-lo sempre rodeado por Newton, Leonardo, Darwin ou Proust]

28.10.04

Romãs

Rapace experimentado, lobo carcomido por fome ancestral, Fernando consumia os tempos livres pelos pomares da aldeia a usurpar a fruta da época, fielmente assistido, de cesta à cabeça, pelo Faustino, seu compadre de malfeitorias e miolo pensante das manobras de furto.
O primeiro fulgir do sol pilhou o Fernando alcandorado no ramo mais próximo de Deus da romãzeira do Quintas. Com a sagacidade de um Moisés, separava rápida e metodicamente as romãs sazonadas das verdes e, com a habilidade de um Kareem Abdul-Jabar, perfazia um gancho largo com as primeiras que, depois de um voo espaçado, se aquietavam docilmente na frouxa cesta de vime que Faustino conduzia no solo do horto. Velozmente encheram a cesta naquela manhã chocarreira.
Com o volume à cabeça o Faustino parecia um peregrino jornadeando para Fátima, oprimido pelo peso dos pecados e do pão e vianda para a mantença do estômago. Através de caminhos laterais, esconsos, galgaram mundo até uma pequena mata de eucalipto, na cercadura da aldeia, onde iriam repartir os frutos – literalmente – da empreitada. Ao deporem o cesto no chão, as cabecitas cambaleantes pelo abalo, contemplaram, com incontida raiva, a vacuidade do repositório de verga, despojado das romãs e engalanado com vastíssimo rombo. A ventura do roubo tornara-os momentaneamente negligentes, a jactância do sucesso cozeu-lhe tanta adrenalina que os dois tratantes nem se aperceberam que, à medida que caminhavam, iam perdendo a fruta pelo buraco do depósito entrançado de vime.
-Deita essa merda aos porcos! – berrou o Faustino, referindo-se ao vime entretecido em forma de cesto.
O Quintas andava inchado que nem um pêro, a arca pejada de carne de porco, salgada ou fumada. Quando topou que lhe roubaram a sacra romãzeira (e se lhe roubavam a fruta, daí a pouco alguém dava-se ares de lhe pilhar a Rosalinda, a filha mais velha) seguiu como um perdigueiro o rasto dos pomos tombados até atinar com o objecto de transporte em conciliábulo com os porcos do Travessas. Correu a casa, pegou o machado e desfez a cachola rósea de dois suínos. Depois, correu atrás do Travessas para lhe fazer o mesmo, angustiado pelo amigo lhe ter saído um larápio de monta. O Travessas, bradando a sua inocência e apelando misericórdia, como derradeiro recurso para se safar de prestar contas ao Criador oblatou os porcos executados ao Quintas. Ainda hoje, com 87 anos, é conhecido por esses povos como o Travessas das Romãs.

27.10.04

O que é um herói?

Não hei-de negar três vezes, como Simão Pedro negou conhecer Cristo antes do galo reboar o seu infausto cacarejo na noite silente, que quando pensava nos campos de extermínio de Auschwitz ou Bergen-Belsen quase nunca incorporava o martírio do homem e mulher judeus – no sentido estrito do termo incorporar, isto é, cogitando o tormento sofrido no meu próprio corpo. Na realidade, imaginava os horrores dos campos de extermínio em massa como o período terrível e obsceno que mediava a chegada do herói redentor – eu – paramentado com a estrela vermelha sobre o caqui do boné de feltro ou com a star spangled banner cosida na manga da jaqueta militar. O topo triunfal de um tanque de guerra aprimorava o cliché.
Eu não tinha mais que doze ou treze anos quando me apaixonei por uma judia alemã [talvez não seja despiciendo contar que, uns meses antes ou depois, o meu enamoramento recairia sobre outra alemã atormentada: Christiane Vera F., a “filha da droga”] que contou a tragédia da sua narrativa pessoal – em que o sofrimento do indivíduo Anne Frank acaba por simbolizar a desventura de um povo inteiro – num diário que revelava as minudências do dia-a-dia num valhacouto cerceado de dignidade e espaço na Amesterdão ocupada. Foi talvez o meu primeiro contacto com a face judaica da 2ª Guerra Mundial. Experimentei pela primeira vez o apelo do herói: enquanto lia, sonhava resgatar a doce Anne das garras dos repulsivos nazis.
Com o dobar dos anos a invocação ao semideus redentor não esmoreceu – continuo a querer salvar Primo Levi e Anne, no poleiro de um fero Sherman ou na poderosa Katyusha, em leituras mediadas por mais de dez anos. Mas, antes de me imaginar protagonista de uma libertação espaventosa, cerro os olhos e tento sentir no último pelo da mais longínqua parte do meu corpo o menor dos sofrimentos daqueles heróis que morreram nos ou sobreviveram aos campos da morte nazis. A tessitura de neurónios alonga-se na imaginação mas aquela dor é intangível, o espírito derroga o horror dos campos lamacentos da Polónia. Não consigo sentir a desesperança, a humilhação, o terror, a aproximação certa da morte. Os verdadeiros heróis foram os que viram os tanques chegar e os que morreram na esperança de os ver um dia.

Adenda: Outro herói, da escrita, é o Nuno Guerreiro. Muitos parabéns pelos 365 de alta cultura e sensibilidade no Rua da Judiaria.

26.10.04

Embora mórbidas, gosto destas palavras

“Suicido-me constantemente e vivo. A catarse é eterna.”

24.10.04

Viagem a Itália 1


[Canaletto, Le Grand Canal, 1723-24Oil on canvas, 144 x 207 cm, Museo del Settecento Veneziano, Ca' Rezzonico, Venice]

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23.10.04

A tormenta

Ao longe, no final do mar, a tormenta reclamou mais cinco pescadores. Neptuno não se sente só, os filhos das Caxinas são muitos e temerários. A morte não suporta a sua ousadia.

21.10.04

A espera

Espero os teus passos incertos no corredor estreito lajeado de verde. Os teus olhos escondidos no cabelo revolto da madrugada despontam timidamente na penumbra contristada da porta do quarto, muito ao longe, inalcançável. Espero pelo vago ajuste de contas entre a minha pele e a tua, o derradeiro recontro de dois corpos exauridos pelo desamparo de Morpheu. Espero por ti, eternamente, até que as trevas caiam. A expectativa inexistente do teu porvir – embora espere sempre, sei que não vens.

16.10.04

Assomo ao Inverno

A escuridão atormenta os poucos espectros que leram Poe nas sombras do Inverno passado. Não sou capaz de relembrar o último Inverno. Terá porventura existido? Lembro aquela manhã desbotada pela neve no pátio da escola, em que corri com luvas de lã e faces enrubescidas atrás de um beijo alvacento e frio. Nunca tinha visto nevar, agora sei que é por sermos os últimos na Europa na maioria das coisas boas – até nos nevões.

Lá fora os nimbos acumulam-se, a manada aguadeira começa a mover-se para norte. Hoje, talvez chova. Só temos direito a isso: a um pálido sucedâneo do Inverno autêntico.

13.10.04

Ritmo circadiano

A noite é uma só. Una e vera, escura como o mais sombrio algar na entranha da terra.

Costumo acordar, constante e recidivamente, no longo périplo das horas nocturnais. Como explicar-to melhor? A vigília nocturna, para além da tristeza ressumada dos lençóis por aquecer, nada tem de extraordinário. E, no entanto, pensas que somos primatas diurnos e que à noite sonhamos com a caçada do dia seguinte ou com o coito alumiado pelas derradeiras brasas da fogueira tutelar do acampamento. Digo-te mais uma vez que acordo sempre na noite escura. E tu pensas que sou uma estulta figura, bafejada por pleonasmos e redundâncias, e nem recordas que nas latitudes setentrionais, nas hiperbóreas neves do círculo polar, existem noites que não são escuras mas tisnadas pelo sol no verão do ano. A noite é só isso, uma contradição diária em que eu velo quando deveria sonhar contigo.

12.10.04

A propósito do "Morte Shopping"

Encapelado o Bairro de Alvalade com as notícias que circulam acerca da construção de um mega-tanatório naquele espaço habitacional de Lisboa, arrepio caminho chusmando catanadas em redor de densa floresta – aka cemitérios e necrópoles intra e extra urbe – de equívocos que grassa no ocidental quadrado desde a baixa idade média, pelo menos. Já sabemos que os íncolas de tão movimentado arraial citadino não estão sumamente felizes com tão vera possibilidade de convivência diária com a morte, mesmo que a dos outros. Do outro lado da barricada, a Servilusa invoca questões de segurança, conforto, higiene e saúde pública para avançar com o complexo mortuário. "As condições de velório hoje são muito problemáticas", diz Paulo Carreira, responsável pelo Marketing, explicando que o objectivo da empresa é "dar dignidade e valorizar o factor humano deste serviço".
Vejamos como no século XVIII a questão da morte, dos mortos e do seu enterramento era percepcionada na sociedade portuguesa de uma forma não tão apartada da posição tomada pela Servilusa.


A partir de meados do séc. XVIII, alguns médicos intelectuais iluministas e certos eclesiásticos mais esclarecidos encetaram a denegação dos enterros nas igrejas. À “morte domesticada”, em que a sacralidade do território dos fenecidos se inseria no centro da agora, funcionando como penhor simbólico da redenção universal no final dos tempos, sucederam as prevenções de inspiração higienista, alicerçadas numa evolução mundivivencial de pendor racionalista. O cemitério extra urbe, ao apartar-se do centro da polis [a igreja e o seu adro], quebrou o elo legitimador entre o passado e o presente da comunidade e, ao assestar os corpos dos falecidos sob administração político-administrativa, assomou aos olhos das populações mais imbuídas em religiosidade como um espaço profano e, por isso, desadequado à serotologia cristã.
O arranque da legislação sanitária procedeu dos governos liderados pela facção ultramontana do liberalismo: decretos de 21 de Setembro de 1835 e de 8 de Outubro do mesmo ano, ambos assinados por Rodrigo da Fonseca Magalhães.
A pressão da cólera-morbus, no início da década de 30, compeliu a que se gerassem dois novos cemitérios – o dos Prazeres e o do Alto de S. João – realidades que a lei de Rodrigues da Fonseca veio a ratificar em 1835.
Aos cemitérios criados pela lei de 1835 era dado, finalmente, o “carácter secular”, que os eximiu de filiações exclusivas a determinados ritos e cultos religiosos.

Quanto ao novo complexo funerário, e embora não esteja ligado a nenhuma paróquia, João Rocha admite que "numa cidade grande e heterogénea como Lisboa, onde existem pessoas das mais diversas cores, feitios e orientações religiosas", a ideia pode ser positiva. Com tantos anos transcorridos as preocupações são as mesmas. Uma verdade é, todavia, incontornável e Ariès dissecou-a de forma soberba: ninguém quer enterrar a morte mas sim escondê-la, das crianças, dos idossos, de nós mesmos. E, talvez por isso, seja melhor construir o "Morte Shopping" num qualquer arrabalde deserto da capital do reino.

11.10.04

Christopher Reeve


O verdadeiro super-homem morreu

“[…] prolongar a vida do homem é prolongar a sua agonia e multiplicar o número das suas mortes.”
Jorge Luís Borges

Ou como o inefável Borges nem sempre tinha razão.

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5.10.04

Revisitação sentimental


Batllestar Galactica

Starbuck e Apollo, Adama e Cassiopea, Boxey e Baltar regressam, na SIC Radical, para combaterem os míticos - e péssimos de maus - Cylon.

The 12 Colonies of Man are all but wiped out by a cybernetic race called the Cylons. Commander Adama and the Battlestar Galactica lead a ragtag human fleet of survivors in search of a mythical planet called Earth. These first three episodes were originally presented as a three-hour premiere subtitled Saga of a Star World. (Original airdate: Sept. 17, 1978)

With: Jane Seymour (Serina), Ray Milland (Sire Uri), Lew Ayres (President Adar), Wilfrid Hyde-White (Sire Anton), Rick Springfield (Zac), Sarah Rush (Rigel), David Greenan (Omega), Ed Begley Jr. (Sgt. Greenbean), John Fink (Dr. Paye), John Dullaghan (Dr. Wilker), David Tress (Dandell), Norman Stuart (Statesman), David Matthau (Operative), Chip Johnson (1st Warrior), Geoffrey Binney (2nd Warrior), Paul Coufos (Pilot), Bruce Wright (Deck Hand), Patti Brooks (Tucana Singer), Randi Oakes (Young Woman), Carol Baxter (Woman in elevator), Sandy Gimpel (Seetol)
BATTLESTAR GALACTICA - PART 2




2.10.04

The past is a foreign country

Psalm 31
O LORD, for I am in distress; my eyes grow weak with sorrow, my soul and my body with grief. My life is consumed by anguish and my years by groaning; my strength fails because of my affliction, and my bones grow weak.

Um dia, arrastado nas mochilas do 9.º ano, no largo e cimentado pátio entre os blocos B e C da Secundária Quinta das Flores, destinei a mim próprio a profissão de antropólogo, na especialidade biológica da ciência, com aproximações à evolução humana e à osteologia. A culpa imputo-a, porventura, a uma professora de biologia que andava a “escavar” em Évora umas “bruxas com a cabeça pregada ao solo sagrado da Sé”. Na faculdade, derrogado o espanto de olhar corpos sem carne, leio o egiptólogo inglês Marc Armand Ruffer, descendente de huguenotes, que no proémio do século transcorrido definia um novo saber, com o nome de paleopatologia, definindo-o como a ciência das doenças cuja existência pode ser revelada com base nos remanescentes humanos e animais de tempos pretéritos, cumulando evidências provenientes maioritariamente de restos esqueléticos mas também da arte (pintura, iconografia), da história e da literatura. Hoje, pego na Bíblia e, ao invés de glorificar as palavras de David ao glorificar Deus, descubro que o pai de Salomão talvez tenha sofrido de osteoporose senil. Tenho que procurar as páginas amarelas, em Coimbra não devem faltar bons psiquiatras.

Frustração

Sinto o som do teclado por ínfimos momentos antes de voltar atrás para, sem rodeios ou dilação supérflua, pegar-te nos lábios e abraçá-los com as palavras que não te disse durante tanto tempo. E havia tanto a dizer. O ressumo da coincidência, talvez pequenos nadas que escritos seriam alguma coisa. Esta merda, que um dia pretendeu ser estofada de crítica, parou no próprio umbigo. Deus nos proteja, a borrasca há-de passar e a calmaria será colhida com um beijo.