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31.3.05

Conversas em torno da menina que passa

-Perfeito. Um rabo modelar. A perfectly manufactured, fat free, far-fetched ass.
-Hmmm. Cabia lá o Cartola, o Académico e o Tropical. E um TIR, atravessado… Parece a Praça da República.
-É isso, é isso. Ainda por cima é democrático. Lindo.

30.3.05

Então talvez

Quando a noite expirou ele ofereceu-se para a levar a casa. Nunca fez parte dos seus planos convidá-lo para subir mas mesmo assim ele roubou-lhe um beijo envergonhado. – Posso subir contigo? – Não, nunca mais nos vamos ver.

[Num só momento aquele beijo e toda a vida].

29.3.05

A meio tempo

Esqueci-me que um beijo se dá quando se chega ou quando se parte. Nunca a meio tempo, um beijo agoniado pela conversa.

Prefere o espelho. Beija-te a ti próprio enquanto lhe sussurras o teu amor

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26.3.05

Calvário



Um Mantegna magnífico. Adequadíssimo a estes dias pascais.

24.3.05

O incognoscível

Que nome tomou Aquiles entre as mulheres? O que cantavam as sereias? Qual o nome de Deus? Quem foi Jack, o Estripador? O que comi anteontem ao almoço?

Perguntas embaraçosas, por certo, mas que não estão para além de todas as conjecturas.

22.3.05

Amor

Sem arrojar um grito,
caiu morto.
Devorado pelas bestas
que ocorrem
à negrura da vida.
Onde até um mar,
inteiro,
conjura para que seja
tu e eu
e nunca nós.

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20.3.05

Alecrim em Domingo de Ramos

Há quem diga – mas eu não tenho maneira de confirmá-lo – que o púbere jerico que carregou Jesus Nosso-Senhor pelas ruas consagradas de Jerusalém era, afinal de contas, uma fêmea da espécie, incontaminada pelo toque de qualquer macho, humano ou asnático. No desfecho de dia tão glorioso para a Cristandade incipiente, a burrinha tornou à família que a dispensara, quase de borla, ao Filho ungido de Deus, para que este entrasse condignamente na capital do seu Reino aquém do paraíso. Perseguições várias, interpoladas de migrações voluntárias, trouxeram as posteridades da engrandecida família e da benta jerica a uma aldeia que não dista mais que uma légua do local onde agora espero a infalível [e cada vez menos longínqua] chegada da senhora da foice.

Nas feiras e romarias nem os santinhos contestavam aqueles filhos da bênção celeste, altivos apesar de asininos, quase cavalares, marcados pelo dorso glabro [porventura o estigma de eterno reconhecimento com que o Cristo os prendou] e pelos grandes olhos de que um burro descendente do deserto não prescinde. Aparte estes derivativos inconsequentes refira-se que a família – a humana, dona dos burros – alardeava à tripa forra que nenhum ser, filho de mulher ou não, de maus instintos, espírito malevolente e parca justeza, conseguiria fixar-se, um segundo que fosse, na lombada santa daqueles burros. Aproveitando tal particularidade das bestas, aqueles filhos de Jerusalém auferiram ao longo dos anos gordos e desvirtuados proventos, mas isto são línguas peçonhentas que o afirmam.

Numa dessas romarias que dantes pontuavam os dias como os cruzeiros referenciam os caminhos, encorajado pela curiosidade e por dois ou três copos além da conta justa, decidi conhecer a minha verdadeira essência e paguei 5 tostões para que um daqueles burros entronizados deliberasse que eu não chegaria a tocar-lhe senão os cascos. Prostrado no saibro, aturdido pelas gargalhadas e facécias dos romeiros, tristemente fruí o ápice cinematográfico: um bacharel de letras, gordo e de cãs branquejadas, desmascarado por um juiz de aprumo celestial. Todas as vilezas consumadas por estes trilhos esconsos, antes e depois de eu nascer, foram a mim foram imputadas. Os crimes, a ignomínia dos crimes de toda a comarca, vivem até hoje carcomendo a minha anca deslocada, o meu peito fendido e o meu orgulho de homem de letras, pouco dado a bacocas superstições.

19.3.05

Antes de sair, diz-lhe:
-Vou a uma festa de despedida de solteiro na Passerelle. Mas não te preocupes que só levo dinheiro para beber um copo. Assim, tenho a certeza que se cair em tentação não vou poder fazer nada…

16.3.05

Incerto bem-querer

A banalidade do amor num desencontro acertado à pressa em mais que uma sms truncada. O sonho desta noite cumprido nos teus olhos. O halo fugaz do desejo nas calças cingidas. A palavra cuspida pela dor, o desespero da lonjura próxima.

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15.3.05

Israel inaugura o novo museu da História do Holocausto

O Yad Vashem, a organização do memorial do Holocausto judeu, foi criado em 1953 para destacar a relação existente entre as vítimas da Shoah [Holocausto] e o novo Estado de Israel. O novo museu ocupa uma galeria de 180 metros de comprimento que se estende sob uma imensa abóbada triangular voltada para uma rocha de uma colina de Jerusalém. Com 4.200 m é quatro vezes maior que o antigo museu, construído há 30 anos, e integra técnicas audiovisuais mais modernas.

Na entrada do novo museu da História do Holocausto ergue-se a "coluna da recordação", de 30 metros de altura, em cuja estrutura foi gravada a palavra Zkhor ["Recorda", em português]. Recordam-se as identidades fragmentadas pelo arrojo eversivo do tempo. Reconhece-se o inimaginável nos testemunhos dos sobreviventes, nas fotografias, nos filmes – momentos iconográficos do terror.

14.3.05

Lugones e Borges

Muitos autores descubro-os quando mencionados ou citados nas páginas de outros escritores, involuntários pedagogos munidos de letras, palavras e parágrafos. Um dia encontrei Lugones na espessura narrativa de Jorge Luís Borges, vagueando como Daedalus nos labirintos criados pelo mestre argentino. Há pouco, resgatei um Lugones amarelecido, cento e poucas páginas, de uma banca de livros em segunda mão. Comecei a ler e pressenti Borges no ritmo, nos silêncios, na erudição. Um dia encontrei Borges na espessura narrativa de Leopoldo Lugones, vagueando como Daedalus nos labirintos criados pelo mestre argentino.

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11.3.05

Madrid 11 de Março

Ainda bem que o sol subjuga a melancolia esparsa do dia. A tristeza, de lágrimas e sinos, esquece a ignomínia e lembra quem caiu inocente.

10.3.05

Das bibliotecas: adenda a JPP

Com o decidido dealbar da empresa que é fazer nascer uma tese que vem sendo adiada por compromissos sempre mais importantes que a acumulação de saber teórico, as romarias às bibliotecas vêm sendo cada vez mais frequentes. Os percursos da memória, delineados entre a Biblioteca Geral e a biblioteca do Zoológico, passando pela omnipresente biblioteca do Instituto de Antropologia, gozam agora de um vago sentido nostálgico que remete para as verdadeiras razões pelas quais eu e os meus frequentávamos tais repositórios de saber.

Lugares outrora sacrossantos, de vivências liminares, onde o silêncio se caldeava com o voltear monótono das páginas, as bibliotecas são há muito espaços de verborreicas pseudo-intelectualidades e genuínas montras da vanitas feminina. Nem eu nem os meus nos preocupávamos muito com isso [excepto com uma ou outra saia da moda]. Aguentávamos a opressão do silêncio para que depois, durante o lanche e enquanto os livros descansavam nas mesas, pudéssemos atingir o verdadeiro conhecimento: o conhecimento de nós próprios e daqueles que amamos. Porque acima de tudo, Coimbra e as suas bibliotecas proporcionaram-me isso, uma meada de amizades, de amores e de companheirismo que há-de perseverar sempre. Até que a morte nos separe.

9.3.05

Lisboa

Uma menina debruada de águas prateadas que visito regularmente sem que a consiga devassar.

7.3.05

Conversas fragmentadas

- Jogas ou não?
[…]
- Calma! Que merda… Deixa-me concentrar!
- Porra, estamos a jogar à Guerra… É uma questão de sorte, não de inteligência…
[…]
- Sorte?! [indigna-se] As guerras… Ganham-nas os intrépidos, os astutos, os capciosos …
- Isso se não levarem um tiro nos cornos… ou ainda pior, nos tomates.

5.3.05

Chama-se Daedalus

Da-e-da-lus. Com U. E com S, não com um Z.
[Como seria se, quando resolvi criar um blogue, estivesse a ler qualquer outra coisa que não O Retrato do Artista...?]

3.3.05

A inflexível erosão: o tempo

Num final de tarde aziago, Gaia, mãe-terra verdadeiramente inconsciente e de pouca erudição parental, ofereceu uma foice a Crono [o “Tempo”], o seu filho benjamim. Este, filho desvelado, cortou os genitais ao seu pai, Urano, e tomou o seu lugar como rei do Olimpo. Crono decidiu ainda cear os seus filhos e de uma assentada despachou Héstia, Posídon, Hades, Hera e Deméter. Zeus, o terceiro descendente do Tempo, foi salvo, em boa hora [para ele, claro], pela mãe, Reia. Um dia, feito homem de barba rija, disfarçou-se de criado de mesa e com a ajuda de Hades e Posídon matou Crono com um raio.

Esperem um momento. Parou. Zeus matou, eliminou, aniquilou o Tempo?! Estamos em sintonia, meu?! Mas quem despachou quem? Alguém comemora essa vitória de Zeus? Alguém se rala com o seu relâmpago? Zeus já era, o Tempo é eterno. Um dia acordas e só tens o vazio à tua frente. Mas o Tempo, esse, vai continuar a passar por cima de todos.

2.3.05

O sangue na gaita-de-foles

Se o não soubesse pela história com certeza presumiria, ao ver o meneio ébrio dos velhos na minha aldeia escoltando as notas falhadas de uma gaita e o rufar dos tambores de pele curtida, que ancestral sangue berbere percorre ainda o nosso sistema vascular. Junto à extensa fogueira que afogueia as faces das raparigas e me aquece as mãos trémulas, o queixume de uma gaita instiga os restos do deserto que ainda percorrem o meu sangue: alegria imberbe descontinuada por fiapos de melancolia.

1.3.05

Post de enjoo

O papa não é mais o ídolo a quem se atam as mãos e se beijam os pés, como declarou Voltaire, antes prefigura o estigma de uma humanidade incómoda, debuxando o retrato daqueles que ocultamos debaixo do tapete: em lares, quartos esconsos, hospitais. Nas orlas embrumadas da vida quotidiana – a vidinha decente, pastoral, de Roth -, move-se o velho, o doente, o pobre, o negro.

Há quem não se contente em conceder o oblívio aos idosos e vai mais longe: priva-os da dignidade, fruindo, em letra redonda, a sua desgraça, a sua terminal obsolescência.

"Uma sociedade que maltrata os seus velhos, ou que não humaniza profundamente a sua relação com eles, é uma sociedade que dá pena e que revela a sua face abjecta."
Francisco J. Viegas, Aviz

“A anciania só tem dignidade quando não se exibe e se apresenta no seu natural. Mesmo sem dentes e a mijar-se.”
Miguel Torga, Diário XVI