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20.3.05

Alecrim em Domingo de Ramos

Há quem diga – mas eu não tenho maneira de confirmá-lo – que o púbere jerico que carregou Jesus Nosso-Senhor pelas ruas consagradas de Jerusalém era, afinal de contas, uma fêmea da espécie, incontaminada pelo toque de qualquer macho, humano ou asnático. No desfecho de dia tão glorioso para a Cristandade incipiente, a burrinha tornou à família que a dispensara, quase de borla, ao Filho ungido de Deus, para que este entrasse condignamente na capital do seu Reino aquém do paraíso. Perseguições várias, interpoladas de migrações voluntárias, trouxeram as posteridades da engrandecida família e da benta jerica a uma aldeia que não dista mais que uma légua do local onde agora espero a infalível [e cada vez menos longínqua] chegada da senhora da foice.

Nas feiras e romarias nem os santinhos contestavam aqueles filhos da bênção celeste, altivos apesar de asininos, quase cavalares, marcados pelo dorso glabro [porventura o estigma de eterno reconhecimento com que o Cristo os prendou] e pelos grandes olhos de que um burro descendente do deserto não prescinde. Aparte estes derivativos inconsequentes refira-se que a família – a humana, dona dos burros – alardeava à tripa forra que nenhum ser, filho de mulher ou não, de maus instintos, espírito malevolente e parca justeza, conseguiria fixar-se, um segundo que fosse, na lombada santa daqueles burros. Aproveitando tal particularidade das bestas, aqueles filhos de Jerusalém auferiram ao longo dos anos gordos e desvirtuados proventos, mas isto são línguas peçonhentas que o afirmam.

Numa dessas romarias que dantes pontuavam os dias como os cruzeiros referenciam os caminhos, encorajado pela curiosidade e por dois ou três copos além da conta justa, decidi conhecer a minha verdadeira essência e paguei 5 tostões para que um daqueles burros entronizados deliberasse que eu não chegaria a tocar-lhe senão os cascos. Prostrado no saibro, aturdido pelas gargalhadas e facécias dos romeiros, tristemente fruí o ápice cinematográfico: um bacharel de letras, gordo e de cãs branquejadas, desmascarado por um juiz de aprumo celestial. Todas as vilezas consumadas por estes trilhos esconsos, antes e depois de eu nascer, foram a mim foram imputadas. Os crimes, a ignomínia dos crimes de toda a comarca, vivem até hoje carcomendo a minha anca deslocada, o meu peito fendido e o meu orgulho de homem de letras, pouco dado a bacocas superstições.