Chamas
Jörg Klimdt morreu durante a noite, na cama. Não dormia mas a segadora surpreendeu-o da mesma forma. O fogo prostrou o quarto exíguo em poucos minutos, de acordo com o chefe dos bombeiros, o calor ou o fumo – ou ambos – quebraram a parca resistência de Jörg, que enfim afrontou o barqueiro, cingido a um livro desfeito. Alguns jornais transcreveram uma única frase resgatada do fragmentário volume: “A minha amada chega no ar dos pinhais”. Aida Klimdt, esposa do defunto, enviara-lhe o livro – de um poeta português, Ruy Belo – alguns dias antes da tragédia. Amavam a poesia, as palavras intraduzíveis do amor, proferiu chorosa.
Ainda agora penso que aquele livro de Ruy Belo levava consigo Aida, o amor chegado a Jörg no ar dos pinhais. E a morte colheu-os abraçados, como não poderia deixar de ser.
Etiquetas: pathos