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30.6.05

Chamas

A rebeldia sobressaltada dos amantes sucumbe por vezes em ígneos enleios de paixão. Esta incendeia, dizem os mais avisados. Poderia dar-vos uma dúzia de exemplos de amplexos definitivos – bastaria ler alguns jornais de actualidades – em que o juízo do fogo eximiu afeições à eternidade da morte. Reparem que os amantes, por vezes, morrem abraçados, açoitados por ingentes labaredas. A corporalidade do homem e da mulher sobrevive, porventura, em duas linhas circunspectas no diário local que celebram a improbidade da ardida morte e a perpetuidade do amor abraçado.

Jörg Klimdt morreu durante a noite, na cama. Não dormia mas a segadora surpreendeu-o da mesma forma. O fogo prostrou o quarto exíguo em poucos minutos, de acordo com o chefe dos bombeiros, o calor ou o fumo – ou ambos – quebraram a parca resistência de Jörg, que enfim afrontou o barqueiro, cingido a um livro desfeito. Alguns jornais transcreveram uma única frase resgatada do fragmentário volume: “A minha amada chega no ar dos pinhais”. Aida Klimdt, esposa do defunto, enviara-lhe o livro – de um poeta português, Ruy Belo – alguns dias antes da tragédia. Amavam a poesia, as palavras intraduzíveis do amor, proferiu chorosa.

Ainda agora penso que aquele livro de Ruy Belo levava consigo Aida, o amor chegado a Jörg no ar dos pinhais. E a morte colheu-os abraçados, como não poderia deixar de ser.

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28.6.05

Far out in the red skies

-Bom dia! Tem o Jornal de Letras?

[…] Trejeito pensativo

menino, de letras são eles todos.

27.6.05

Elogio da diferença


[Lysergic Acid Diethylamide, Damien Hirst]

Amanhã junto ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em Coimbra, pelas 17:00 horas, grande manifestação de repúdio às manifestações xenófobas da passada semana em Lisboa. Marca a diferença e aparece por lá.

Isolado na transparência


[The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, 1991, Damien Hirst]

24.6.05

Isolada na transparência


[New York Office, Edward Hopper]

22.6.05

Funeral

O silêncio do morto é ridículo: tanta mulher bonita a chorá-lo e ele ali, no esquife, como se não fosse nada com ele. Branco e mudo num fato de grilo. Eu é que as consolava, pois. Não tenho dinheiro nem estou entalado entre a foice e a parede. Aquelas ali gostam desses, ricos e com um pé para a cova. Com os dois pés para cova desde que consigam tartamudear um sim no altar e outro no notário. Putas. Boas. Putinhas. Fiquem a carpir o dinheiro que vai a inumar que eu vou enterrar-me no esterco de outro funeral.

21.6.05

Os melhores blogues começam pela letra a

Aviz e Avatares. Parabéns ao Francisco e ao Bruno.

A noite: Verão

A noite é a mesma, lá fora. No charco, do outro lado da linha-férrea, as rãs, as mesmas que lavaram os pés a Nosso Senhor e que ajudaram Paul Mcartney a ter um sucesso a solo, entretêm-se a cantar ao desafio, secundadas pelo chapinhar lépido de uma cegonha [aqui é o escriba a presumir] nas pausadas águas do arrozal. Um rouxinol, um pouco mais atrás, no silvado, ajusta a voz aflautada e conduz a orquestra inusitada ao triunfo. A plateia, eu e dois dos meus gatos, aplaude de pé a sublime sinfonia. A noite é a mesma, perfeita. Talvez falte uma espreguiçadeira na varanda.

15.6.05

Ab initio

Desacostumei-me de cartografar na coluna da direita todos os topos de interesse da medrante geografia blogosférica. Ontem, porém, contrariando a languidez das tardes cálidas, adicionei um novo blogue - delicioso -, onde se estreia como blogger o grande poeta e antropólogo Luís Quintais. Imperdível.

14.6.05

Reunião

O corpo imperfeito busca a insanidade de um beijo coberto de cerejas. O corpo, as ruínas descarnadas do meu amor, a agonia das tardes de Junho.

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13.6.05

Adeus


Eugénio de Andrade [1923-2005]

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

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Até amanhã camarada


Álvaro Cunhal [1913-2005]

Enquanto ainda vislumbro a sua sombra movendo-se nos canaviais da outra margem não farei o panegírico gratuito nem a crítica áspera da sua obra política. Gostei de o ouvir falar de pintura numa tarde estiolada no venerável Paulo Quintela, os seus garbosos anos enfrentando a repleção admirada de gente. Até sempre!

8.6.05

Referendo europeu

Embora correndo o risco de o referendo à Constituição Europeia servir somente para que os portugueses caminhem sobre as suas ruínas, a minha frugal percepção aquilata que o melhor para nós será que a consulta à grei se realize. Apesar do non francês, do nee holandês e da extemporânea retirada inglesa. Se não aceito que um francês – ou inglês – me diga que não posso beber aguardente de medronho, também não vou abdicar de opinar sobre o futuro da Europa. Mesmo que já não sirva para nada a nossa opinião não deve ser silenciada. Pelo sim e pelo não, votemos.

4.6.05

Se amares uma rapariga loura

Ouvi um velho religioso
Ainda ontem declarar
Ter achado um texto que prova
Que só Deus, minha querida,
Podia amar-te apenas por ti
E não pelo teu cabelo louro.

W.B. Yeats

2.6.05

Detesto pessoas mal agradecidas



Obrigado Rui!

Uma manhã de tédio

Ainda hoje recordo aquela manhã, os vagares da anciania ainda não me assombram a memória. Fui ao banco com um trapo azul na cabeça. Mendiguei o dinheiro do cofre estendendo a mão armada. A menina da caixa assustou-se e vozeou desesperos. Surgiu a guarda, de trapos cinzentos, as mãos armadas com G3. O meu julgamento vacilou, os meus braços armados nem por isso. Matei um, dois, todos. Fugi. A mão recta da justiça prostrou a minha consciência. Entreguei-me no posto. Quase que me mataram de pancada. A mão da justiça não foi misericordiosa. Poupou-me para que eu viva todos os dias a morte daqueles inocentes.