31.7.05
Em poucos minutos não mais que dez minutos vou arrumar a minha vida para uns quinze dias ensacá-la em livros e roupa alguns unguentos de aprumo pessoal e outras escusadas matérias. Partindo em poucos minutos não me resta senão tempo para te abraçar e limpar o rosto a uma derradeira lágrima que não sei se flui de mim ou de ti.
28.7.05
O adeus às armas
IRA anuncia o fim de 35 anos de luta armada. As chefias do Oglaigh nah Eireann ordenaram formalmente o desarmamento a todos os volunteers, instigados a desenvolver formas de luta puramente políticas e democráticas. O inferno esmaece na varanda das primeiras chuvas.
27.7.05
O corpo
Apesar da escuridão e do caminho largo tropeçou no corpo. O rumor dos caminhos desfez-se, agigantou-se o silêncio. Nunca tinha visto um morto assim tão perto, as carnes moles envolvidas pela poeira da estrada, e refreou a custo o medo natural que rapidamente o enlaçou. Tocou a pele descoberta do cadáver na ânsia desconexa de sentir a morte. Riu com gosto: o cadáver ainda estava quente, ele estava vivo mas roxo de frio. Tentou mover o corpo, tanto volume e tanto peso dissiparam-lhe as vontades. Deixou-o algures na obscuridade do largo caminho, ao sabor dos cães e dos demónios, corrido pela ventania. Mais tarde, quando morresse, enfrentaria o juízo do Padre-eterno sem o peso de ter carregado uma morte às costas.
24.7.05
Equilíbrio
O tédio alonga as distâncias e os tempos. O tédio aumenta a esperança de vida. O equilíbrio poderá estender-se num cigarro entediado.
20.7.05
15.7.05
14.7.05
13.7.05
12.7.05
100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #3
Joaquim Agostinho, o deus velocipédico das Brejenjas
Joaquim Francisco Agostinho nasceu em 7 de Abril de 1943, em Brejenjas, concelho de Torres Vedras. Em Fevereiro de 1968 ingressou no Sporting Clube de Portugal. Joaquim Agostinho venceu por cinco anos consecutivos (de 1969 a 1974) o Campeonato Nacional de Fundo Individual. Venceu a Volta a Portugal em três anos consecutivos (entre 1970 e 1972). Participou por 13 vezes na Volta à França e nos anos de 1978 e 1979 conseguiu a melhor posição de sempre, classificando-se em terceiro lugar. No dia 30 de Abril disputava-se a 5ª etapa da X Volta ao Algarve, quando Joaquim Agostinho sofreu uma fractura craniana, num acidente provocado por um cão que se atravessou no seu caminho. Mas, mesmo assim, voltou a montar a bicicleta e cortou a meta com a ajuda de dois colegas do Sporting. O ciclista sportinguista só foi operado em Lisboa, dez horas depois do acidente.
Faleceu no dia 10 de Maio de 1984, no Hospital da CUF.
11.7.05
A parede da igreja permeou incólume o verão
Vivo os dias longínquos sem que os consiga mudar. O passado acorda aquém de mim. Talvez ainda te ame como naquela noite em que te amei de longe, entre os fumos e as danças de pista, numa conversa desfasada sobre a praia e o calor. Os teus lábios precisos são reais mas não consigo beijá-los agora. Como eu te amava, parva. Conhece-me: gosto de contar as sílabas do poema curto, gosto de reverdecer a perecida estepe, gosto de pensar que um dia te amei – talvez hoje mesmo te continue a amar.
A parede da igreja passou incólume o Verão. Não tive coragem de escrever a mijo o meu nome naquele chão sagrado.
A parede da igreja passou incólume o Verão. Não tive coragem de escrever a mijo o meu nome naquele chão sagrado.
7.7.05
London Calling
London calling to the faraway towns
Now that war is declared-and battle come down
London calling to the underworld
Come out of the cupboard, all you boys and girls
London calling, now don't look at us
All that phoney Beatlemania has bitten the dust
London calling, see we ain't got no swing
'Cept for the ring of that truncheon thing
[...]
6.7.05
4.7.05
Antropologia e Racismo: contra os Albertos Joões deste mundo
Nos últimos anos assistimos ao desenvolvimento de uma pletora de estudos genéticos que culminaram, por parte de quase todos os biólogos, na rejeição do conceito de raça na espécie humana. Porém, e contra as expectativas da Antropologia, o ethnos continua a mover correntes e a clivagem entre o “nós” e os “outros” tornou-se cada vez mais perspícua. De facto, o repúdio dos grupos racizados não se faz coetaneamente em nome de uma postulada desigualdade biológica, mas sim em nome da dissemelhança cultural, encarada como produtora de incomensurabilidades dos sistemas culturais, em que os membros de culturas diferentes vivem em mundos morais distintos. Este neo-racismo, ou “racismo cultural” incorpora uma lógica diferencialista que acentua mais as especificidades culturais dos grupos discriminados que propriamente as diferenças de ordem biológica ou genética (falamos em termos teóricos pois o racismo “prático” continua entranhado de elementos de inferiorização biológica). A ideologia do neo-racismo não postula mais a superioridade ou inferioridade relativa dos grupos humanos, antes advoga as irredutíveis discrepâncias culturais e a incompatibilidade de culturas.
Ao longo da sua história a Antropologia vem ocupando uma centralidade científica na questão do racismo. Num primeiro momento aparece adstrita ao conceito de raça, à cientifização do racismo e à dominação colonial (vejam-se as excelentes postas sobre o assunto no Companhia de Moçambique) e, no período pós-colonial, torna-se co-responsável pelo desenvolvimento de um relativismo cultural de natureza ortodoxa que se vê actualmente instrumentalizado pelas correntes neo-racistas europeias. De acordo com Dan Sperber (1992. O saber dos Antropólogos. Lisboa: Ed. 70) o relativismo abarca duas dimensões: o “relativismo moral” – em que não há valores morais comuns a toda a humanidade – e o “relativismo cognitivo – em que não existe uma realidade comum. Em consequência, as ideologias neo-racistas instrumentalizam o conceito na defesa de um diferencialismo absoluto. O etnocentrismo, assim “naturalizado”, passa a ser uma atitude que possibilita a conservação da diversidade cultural.
Felizmente a Antropologia tem vindo a afirmar um desconforto científico relativamente aos obsoletos conceitos de homogeneização cultural, que lhe permitiu mostrar que nenhum traço cultural é recebido passivamente e que as importações resultam sempre em sincretismos e reinterpretações. A “crioulização” cultural não conduz à morte das culturas mas sim à sua reinvenção.
Ao longo da sua história a Antropologia vem ocupando uma centralidade científica na questão do racismo. Num primeiro momento aparece adstrita ao conceito de raça, à cientifização do racismo e à dominação colonial (vejam-se as excelentes postas sobre o assunto no Companhia de Moçambique) e, no período pós-colonial, torna-se co-responsável pelo desenvolvimento de um relativismo cultural de natureza ortodoxa que se vê actualmente instrumentalizado pelas correntes neo-racistas europeias. De acordo com Dan Sperber (1992. O saber dos Antropólogos. Lisboa: Ed. 70) o relativismo abarca duas dimensões: o “relativismo moral” – em que não há valores morais comuns a toda a humanidade – e o “relativismo cognitivo – em que não existe uma realidade comum. Em consequência, as ideologias neo-racistas instrumentalizam o conceito na defesa de um diferencialismo absoluto. O etnocentrismo, assim “naturalizado”, passa a ser uma atitude que possibilita a conservação da diversidade cultural.
Felizmente a Antropologia tem vindo a afirmar um desconforto científico relativamente aos obsoletos conceitos de homogeneização cultural, que lhe permitiu mostrar que nenhum traço cultural é recebido passivamente e que as importações resultam sempre em sincretismos e reinterpretações. A “crioulização” cultural não conduz à morte das culturas mas sim à sua reinvenção.
Etiquetas: antropologia
3.7.05
2.7.05
100 anos de paixão: só eu sei porque não fico em casa #2
Carlos Lopes
Carlos Lopes nasceu a 18 de Fevereiro de 1947, em Vildemoinhos, Viseu. Ingressou no Sporting Clube de Portugal em 1967, tendo como treinador Mário Moniz Pereira e tornou-se num dos melhores meio-fundistas portugueses de todos os tempos. A 12 de Agosto de 1984 tornou-se o primeiro campeão olímpico português, ao vencer a maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, com o tempo de 2.09,21.