Passeio Público
{A melhor cidade do mundo}
Coimbra é a melhor cidade do mundo. Já repeti muitas vezes o estribilho, sem ambiguidades ou interrogações. Não há uma efabulação perante os factos mas uma certa facilidade na aplicação automática do afecto irracional. A aplicação conscienciosa de um método científico e racional aos sucessos e vicissitudes conimbricenses não só é impossível como é indesejável – o recurso à crítica sustentada (ergo, construtiva) parece não agradar às “pessoas de bem” e aos restantes capangas do bom-nome da cidade.
Compreende-se, pois, que o comentário diagnóstico passe por maledicência e que a exposição descritiva seja lida como um romance de época. A “Fundação do Esquecimento” (que através de uma passividade tendente ao panegírico acrítico oculta o pó que extravasa cada equívoco ou descuido) recusa as dores da queda, negando-a. Infelizmente, os problemas surgem de novo.
A Biblioteca Joanina, o casario excedendo os acidentes da geografia, a senhora que vende bolos de Ançã, os Hospitais e os jardins, o novo canal de televisão da AAC, os Encontros de Cinema Português ou esse lugar extraordinário que é o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha referem-se, na verdade, a um encanto de dupla natureza: concreto e alegórico. A evidência palpável de algum mérito é polinizada pela sugestão simbólica de grandiosidade criando a cidade irrepreensível de cada um de nós. Sem estômago para a crítica ou o desapego temporário.
Para muitos, Coimbra não é uma experiência criticável. Eu penso o mesmo. Coimbra ainda é a melhor cidade do mundo. A sua história refuta qualquer tentativa de desconsideração. Sob uma forma vigorosa e, como eu considero, suportada pelos factos, é desejável, ainda assim, satirizar e reprovar quem destroça (mesmo sem saber que o faz) um átimo que seja da perfeição que sentimos em cada toque da Cabra.
{26/11 no Jornal de Notícias}
Coimbra é a melhor cidade do mundo. Já repeti muitas vezes o estribilho, sem ambiguidades ou interrogações. Não há uma efabulação perante os factos mas uma certa facilidade na aplicação automática do afecto irracional. A aplicação conscienciosa de um método científico e racional aos sucessos e vicissitudes conimbricenses não só é impossível como é indesejável – o recurso à crítica sustentada (ergo, construtiva) parece não agradar às “pessoas de bem” e aos restantes capangas do bom-nome da cidade.
Compreende-se, pois, que o comentário diagnóstico passe por maledicência e que a exposição descritiva seja lida como um romance de época. A “Fundação do Esquecimento” (que através de uma passividade tendente ao panegírico acrítico oculta o pó que extravasa cada equívoco ou descuido) recusa as dores da queda, negando-a. Infelizmente, os problemas surgem de novo.
A Biblioteca Joanina, o casario excedendo os acidentes da geografia, a senhora que vende bolos de Ançã, os Hospitais e os jardins, o novo canal de televisão da AAC, os Encontros de Cinema Português ou esse lugar extraordinário que é o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha referem-se, na verdade, a um encanto de dupla natureza: concreto e alegórico. A evidência palpável de algum mérito é polinizada pela sugestão simbólica de grandiosidade criando a cidade irrepreensível de cada um de nós. Sem estômago para a crítica ou o desapego temporário.
Para muitos, Coimbra não é uma experiência criticável. Eu penso o mesmo. Coimbra ainda é a melhor cidade do mundo. A sua história refuta qualquer tentativa de desconsideração. Sob uma forma vigorosa e, como eu considero, suportada pelos factos, é desejável, ainda assim, satirizar e reprovar quem destroça (mesmo sem saber que o faz) um átimo que seja da perfeição que sentimos em cada toque da Cabra.
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