Passeio Público
{Luzes apagadas}
Ainda vem longe o fim de Novembro mas já pode dizer-se, com propriedade, que o Natal é todos os dias. Na televisão e nas montras dos centros comerciais, pelo menos. Nas ruas das cidades talvez não. E ainda bem. A ubiquidade precoce da quadra nos processos e discursos de um capitalismo voraz e capcioso (para além de tudo o resto) esvazia-a de significado. Para além disso, não consigo gostar dos paramentos luzidios que enfeitam árvores nas ruas – não consigo gostar, tão-pouco, da árvore de Natal propriamente dita.
Naturalmente, aplaudo a decisão da Câmara Municipal de Lisboa de não montar a desmesurada árvore de Natal no Parque Eduardo VII. A resolução é um arrojo de sabedoria: porque poupa dinheiro aos cofres da autarquia e, sobretudo, porque nos poupa à fastidiosa lengalenga televisiva da “maior árvore de Natal do universo”.
Na realidade, o nosso país parece já não sobreviver sem um certo espírito próprio da época, deprimente, fomentado por temas tão díspares como a árvore gigante, o bolo-rei do Guiness ou o salto de pára-quedas de um senhor trajado como o Pai Natal. As luzes esparramadas à beira das estradas compõem, de forma similar, a atmosfera desse folguedo melancólico. Porém, este ano as circunstâncias são bem diferentes.
A crise económica contundiu as finanças das autarquias e, como tal, a restrição nos gastos com a iluminação de Natal é tão acertada como decente. Em Loures e Palmela não haverá qualquer luz natalícia promovida pelas respectivas Câmaras Municipais. A contenção é o mote também em Oeiras, Amadora, Santarém, Almada, Seixal, Cascais, Beja ou Faro: as reduções variam entre os 25% e os 68%. Em Coimbra, o corte será de apenas 10%. Porque será que isso não me surpreende?
{11/11 no Jornal de Notícias}
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