Passeio Público
{Uma árvore, nenhuma}
No Outono gostamos de ver as folhas das árvores precisamente porque caem e cumprem o seu destino de aniquilamento. É possível – mas não desejável – esquecer esses episódios concretos dos dias abreviados de Setembro. Não sei o que se passa com os portugueses e com aquele rancor que, às mãos completas, destinam ao pouco que resta das árvores raquíticas das cidades – não falo sequer do que se passa no Verão, em pinhais interiores e eucaliptais fastidiosos.
Visitamos o bairro novo (aquele género de condomínio privado tão do gosto do eterno pato-bravo) admiramos o cimento e os vidros amplos, mas não vislumbramos áreas verdes, uma árvore séria que se conte. O hospital mais moderno trata bem os seus utentes (os doentes deixaram há muito de existir) mas não admite árvores – um pequeno arbusto, por Deus! – no seu perímetro. As universidades são piores que as norte-americanas em quase tudo; consideremos particularmente a beleza do campus típico da Ivy League (mas não só) durante a “foliage” – em Portugal, os hossanas cantam-se aos calhaus, aos andaimes e à argamassa.
Logo, não nos admiramos quando, em Coimbra e na Lousã, se fala tanto em abater árvores. O desígnio parece sagrado – e imparável. O desvanecimento pacóvio com a estrada alcatroada, nutrido por uma poalha de incúria, ainda aquece os corações do autarca modelo lusitano. Em Coimbra, existe mesmo um parecer da Provedoria do Ambiente e Qualidade de Vida Urbana que considera um verdadeiro «atentado urbanístico» o abate de vinte e quatro árvores na rua João Pinto Ribeiro. A Junta de Freguesia da Sé Nova olhou para o lado, e fez o que lhe competia: deitou abaixo. O mundo e a cidade sobreviverão. O que não faltam são árvores e “maluquinhos” que se prendem a elas, com a vã esperança de as salvar. No fim, ganham os autarcas ajuizados e as ruas bem cimentadas.
{01/10, no Jornal de Notícias}
No Outono gostamos de ver as folhas das árvores precisamente porque caem e cumprem o seu destino de aniquilamento. É possível – mas não desejável – esquecer esses episódios concretos dos dias abreviados de Setembro. Não sei o que se passa com os portugueses e com aquele rancor que, às mãos completas, destinam ao pouco que resta das árvores raquíticas das cidades – não falo sequer do que se passa no Verão, em pinhais interiores e eucaliptais fastidiosos.
Visitamos o bairro novo (aquele género de condomínio privado tão do gosto do eterno pato-bravo) admiramos o cimento e os vidros amplos, mas não vislumbramos áreas verdes, uma árvore séria que se conte. O hospital mais moderno trata bem os seus utentes (os doentes deixaram há muito de existir) mas não admite árvores – um pequeno arbusto, por Deus! – no seu perímetro. As universidades são piores que as norte-americanas em quase tudo; consideremos particularmente a beleza do campus típico da Ivy League (mas não só) durante a “foliage” – em Portugal, os hossanas cantam-se aos calhaus, aos andaimes e à argamassa.
Logo, não nos admiramos quando, em Coimbra e na Lousã, se fala tanto em abater árvores. O desígnio parece sagrado – e imparável. O desvanecimento pacóvio com a estrada alcatroada, nutrido por uma poalha de incúria, ainda aquece os corações do autarca modelo lusitano. Em Coimbra, existe mesmo um parecer da Provedoria do Ambiente e Qualidade de Vida Urbana que considera um verdadeiro «atentado urbanístico» o abate de vinte e quatro árvores na rua João Pinto Ribeiro. A Junta de Freguesia da Sé Nova olhou para o lado, e fez o que lhe competia: deitou abaixo. O mundo e a cidade sobreviverão. O que não faltam são árvores e “maluquinhos” que se prendem a elas, com a vã esperança de as salvar. No fim, ganham os autarcas ajuizados e as ruas bem cimentadas.
{01/10, no Jornal de Notícias}
<< Home